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Opinião

  • 29 de Agosto de 2010

    Eleitor ficha limpa e ficha suja

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    Se fosse possível fazer um raio X político-eleitoral da eleição em andamento, o diagnóstico seria altamente preocupante. Há sinais claros de enfermidades no processo eleitoral, até mais graves do que no passado. Inegavelmente, alguns setores lúcidos da sociedade e da justiça estão imunes a esta epidemia. Não se trata de pessimismo, nem pré-anúncio do caos. Apenas, convém enxergar a realidade como ela e alertar o eleitor.

    Nunca o mercado persa eleitoral foi tão valorizado como agora. Compara-se o “preço” do atual cabo eleitoral com os animadores de “comícios shows” no passado. Naquela época, só era possível juntar gente, com bons shows. Prevalecia a lei da oferta e da procura. Atualmente, regra geral, a aproximação do eleitor ao candidato depende de somas fabulosas de dinheiro para cooptar o “cabo eleitoral”. Formam-se verdadeiras “gangs” para bloquear o acesso dos candidatos considerados pessoas estranhas às áreas dos feudos eleitorais.

    Estas “gangs” propagam que o candidato, sem o apoio de chefias locais, é um forasteiro por não ter nascido na cidade, ou na região e por isto deve ser rejeitado. Na hipótese da “chefia” apoiar alguém de fora – existem muitos exemplos no RN -, tudo se torna normal e natural, em função dos altíssimos financiamentos e “compromissos”. Caracteriza-se uma espécie de anti-semitismo político, em pleno século XXI, assemelhado ao que fizeram os alemães nazistas contra os judeus. Afinal, o cidadão ao pleitear o voto não pode ser discriminado pela sua origem de nascimento. A ilegalidade está, inclusive, punida na lei 7.716/89, que no artigo 1° define como crime a discriminação e o preconceito de procedência nacional.

    Para o candidato chegar ao eleitor, sem o pagamento a “cabos eleitorais”, erguem-se outros obstáculos, quase intransponíveis. Realizar comícios é caríssimo. O horário gratuito disponibiliza poucos segundos e raras aparições. O custo fabuloso de material publicitário. Além disto, constatam-se fatos isolados de certas proibições descabidas, que punem e neurotizam os candidatos financeiramente mais fracos. Os “poderosos” ($$$) não fazem comícios relâmpagos, nem levam cartazes às ruas etc. Limitam-se a esperar nas urnas o lucro do investimento feito.

    Quem acredita no voto livre sofre o risco do acompanhamento de pessoas, com fitas métricas para medir em plena via público um centímetro a mais, ou a menos, nas placas e cartazes e ameaçar multas de 8/10 mil reais. Enquanto isto, o tráfico clandestino dos “apoios” eleitorais ($$$) – financiados com moeda de origem espúria – mantém-se na impunidade. Outro exemplo é o fato da lei e da jurisprudência permitirem que o candidato tenha um pequeno “staff”, trajando camisetas padronizadas e numeradas com nome, número e a coligação, registrado na justiça. Isto facilita nas cidades visitadas, o reconhecimento da caravana que chega.

    Mesmo em tais circunstâncias, verificam-se proibições e até prisões de pessoas, por usarem estas camisas, sob o absurdo argumento de que se trata de dádiva ao eleitor, em troca de voto. Outro aspecto refere-se aos comícios relâmpagos nas esquinas ou feiras, em horário e locais permitidos. Tais concentrações chegam a ser bloqueadas, por argumentos estapafúrdios. No final, ganham os “cabos eleitorais”, que cochicham no “ouvido do eleitor” e se isolam da concorrência de outros candidatos.

    A esperança – e creio nisto – é que no dia 3 de outubro, se manifeste nas urnas uma maioria até hoje silenciosa, composta de eleitores conscientes, que analisem nomes e não votem pela “cabeça dos outros”. Será a vitória dos eleitores “ficha limpa”, que anularão a influência dos “eleitores ficha suja”. Deus ajude o Brasil e o RN!

    • Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
      de direito constitucional e ex-deputado federal.

    Publicado aos domingos nos jornais
    DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte

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