Opinião
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08 de Agosto de 2010
O povo está vendo?
O senador Garibaldi Alves, deputado Getulio Rego, o candidato ao senado Sávio Hackradt e o vereador Ney Lopes Jr - candidato a deputado estadual – fizeram contundentes denuncias de “compra de votos” nesta campanha. Relataram que o acesso aos municípios e comunidades está sendo precedido de exigências financeiras as mais absurdas, da parte de chamados “cabos eleitorais”, que se dizem “donos” dos votos. O mais grave é o fato do não atendimento das “exigências” implicar em barreiras de todo tipo para dificultar o contato do candidato com a população. A disputa pelo voto assemelha-se a verdadeiro mercado persa.
Tenho uma longa vida pública e experiência de campanhas. Devo dizer que nunca vi tanta corrupção eleitoral, quanto agora à luz do meio dia. As festas populares, religiosas, vaquejadas etc tornam praticamente impossível a presença de candidato que não leve uma mala de dinheiro e tenha as bênçãos do prefeito, vereadores ou algum chefe político local. Lideranças regiamente pagas afastam todos aqueles que apresentem propostas sérias, ou discurso renovador. Propagam falsos argumentos do candidato, sem “patrocínio financeiro”, não ter nascido no município, ou região; ser “liso”; não dá nada a ninguém e ameaçam suspender “ajudas”. Punem-se a competência e a boa fé.
Incrível que tudo isto aconteça, em pleno século XXI. Não se pode atribuir o quadro caótico à justiça eleitoral. Ela faz o que pode. O juiz aplica a lei; não faz a lei. A causa é a omissão dos legisladores. Lembro que uma das minhas últimas iniciativas como deputado foi apresentar emenda constitucional, que dava mais tempo para a aprovação da reforma político-eleitoral, ao invés de um ano antes da eleição. Ampliava o prazo para 31 de dezembro (nove meses antes do pleito). As lideranças e partidos políticos engavetaram a proposta, até hoje.
Uma eleição democrática deveria assegurar ao povo o direito de ouvir e decidir o voto, em função de propostas viáveis. Tudo começaria pela transformação do horário gratuito em debates permanentes entre os candidatos e não os atuais espetáculos “milionários” de marketing. A Justiça Eleitoral coordenaria a pauta dos assuntos e a escolha diária dos debatedores, sem privilégio de partidos. Todos iguais para acabar a “indústria” do tempo partidário, usado atualmente como trunfo “comercial” dos “proprietários privados” de partidos, que trocam os minutos na mídia, por dinheiro, cargos e influencias futuras. Quem não “possui” partido é impiedosamente descartado. Um escárnio à ética política. Acontece eleição a eleição, sem nenhuma reação.
Nos cargos majoritários – presidente, governador, prefeito e senador – o correto deveria ser a votação direta dos vices e suplentes de senador. Até porque, vice ou suplente podem não dá voto. Mas tiram. Café Filho se elegeu vice-presidente da República, sem compor a chapa de Getúlio Vargas, que indicou outro nome. Hoje em dia, o único pré-requisito é o “aprovo” da “cabeça de chapa”. Há casos incríveis na disputa do senado. No Tocantins, o ex-governador Marcelo Miranda escolheu o pai. Em Rondônia, o ex-governador indicou também o pai e no Amazonas a escolha foi a esposa do candidato. Pode isto?
A corrupção se generaliza. Faltam critérios na escolha dos candidatos. Quem não ostenta ou demonstra “força econômica”, através do apoios de grandes lideranças, ou controle de partido político, é chacoalhado e motivo até de zombarias. Será que o povo está vendo tudo isto? Tomara que esteja para em 3 de outubro próximo usar o voto livre e fazer a reforma, que o Congresso não fez. Do contrário, não haverá “perigo de melhorar”, mais uma vez!
- Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
de direito constitucional e ex-deputado federal.
Publicado aos domingos nos jornais
DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
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- Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
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