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Opinião

  • 27 de Setembro de 2009

    O hóspede da nossa embaixada

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     A crise política de Honduras lembra o Marques de Maricá, quando afirmou: “quem olha para fora sonha. Quem olha para dentro desperta”.

    Boa parte da mídia internacional endeusa o Sr. Manuel Zelaya, afastado da Presidência da República de Honduras, por decisão da Suprema Corte hondurenha, do Congresso Nacional e a “unanimidade” dos partidos, inclusive o seu próprio. Em 28 de junho passado, em plena campanha para a escolha do seu sucessor, foi obrigado a sair do país, por desejar mudar a Constituição. Com a solidariedade política do aliado Hugo Chávez, tentou passar por cima da cláusula pétrea, que impede reeleições no país.

     Roberto Micheletti, presidente do Congresso, assumiu até as eleições de novembro, já que o vice-presidente renunciou para disputar a Presidência. No palácio do governo foi encontrada uma estátua do Sr. Zelaya, que ele mandara esculpir para perpetuar-se nas galerias oficiais.

    Em janeiro de 2006, na presidência do Parlamento Latino Americano, participei como convidado especial da posse do presidente Manuel Zelaya. Vi a emoção nas ruas de Tegucigalpa, cidade muito acolhedora. O povo o chamava de “el Chapelon” e “el bigodon”.  Zelaya, então 53 anos, era um milionário empresário agrícola e madeireiro, conhecido por seus correligionários como "Mel". Elegeu-se no Partido Liberal hondurenho, com forte oposição da esquerda, hoje sua aliada. Conversamos alguns minutos na recepção, após a posse. Pareceu-me um homem de muitas idéias, porém não aparentava segurança no que dizia. Falava alto e exibia gestos largos.  Verdadeiro falastrão, com “jeitão” de Odorico Paraguaçu.

    Depois de marchas e contra marchas, Manuel Zelaya é hóspede da embaixada brasileira em Honduras, com cama, mesa e banho ao seu dispor e dos simpatizantes. O governo Lula considerou fato normal a “invasão da nossa embaixada”, por cerca de cem correligionários de Zelaya, todos no estilo do “MST”. A embaixada se transformou em escritório político do Sr. Zelaya e inflamada tribuna para mobilizar os seus companheiros. Vale a pena lembrar, que a lei federal brasileira 6.815, de 19 de agosto de 1980, no artigo 107, inciso I, estabelece claramente a proibição do asilado político propagar ou difundir entre compatriotas “idéias, programas ou normas de ação de partidos políticos” do seu país de origem.

    Na crise hondurenha, o presidente Obama fica “em cima do muro”. Dá corda no presidente Lula, a quem chama de “o cara”. Em retribuição, Lula declarou quinta última em entrevista, que a posição americana é corretíssima. O Brasil acende uma vela a Deus e outra ao diabo. Aliás, como ocorre ultimamente com a nossa política externa.

    O episódio hondurenho ressurgiu o “patrulhamento ideológico”. Ou se aceita que o Sr. Zelaya foi deposto, ou quem pondere algo é logo rotulado de “golpista”, vendido ao imperialismo. O Brasil, com toda a sua liderança, perdeu a oportunidade de ser o mediador. Aliou-se a Zelaya e a Chávez. É a história do “sotaque” (!!!), que Lula usa como estratégia para satisfazer quem gosta de ouvi-lo falar dessa forma...

    Olhando-se para fora, a versão é a de que Zelaya foi deposto por golpistas. Olhando-se para dentro nota-se que o desejo do golpe era do próprio Zelaya. Talvez seja útil lembrar a tradição brasileira, que afastou Collor e permitiu que ele ficasse no país. O grande erro em Honduras foi a expulsão de Zelaya, transformando-o em mártir, o que na verdade não é. E agora? O caminho seria realizar as eleições de novembro e entregar o poder a quem ganhar. Com certeza, o atual “hóspede” da nossa embaixada viria morar em Brasília, no Lago Paranoá, com as mordomias do governo brasileiro, já que o povo de Honduras lhe nega isto.

    • Ney Lopes – Jornalista; advogado e ex-deputado federal

    Publicado aos domingos
    nos jornais DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
     

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