Opinião

• 28 de Junho de 2009

  Pesquisa, só depois da eleição

  

   

  A “zebra” do último jogo da Espanha com os Estados Unidos deveria servir de exemplo para os políticos.  Não existe favoritismo em jogo de futebol, nem eleição. A maioria da classe política teima em não enxergar essa realidade, já tantas vezes confirmada nas urnas.

  As pesquisas – quando idôneas - fotografam, em parte, o futuro momento eleitoral. A paisagem completa não sai na foto. O cenário da disputa pode ser alterado pelo surgimento de novos nomes, pelo voto dos “independentes” e “indecisos”, ou certas circunstâncias especiais. Ultimamente, tais surpresas se repetem com freqüência, pela conscientização do eleitor, reação popular ao “jogo privado-familiar”, aos escândalos e a informação instantânea, via Internet.

  Nunca foi tão atual a afirmação do ex-governador Magalhães Pinto, de que “a política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”.

  Há uma distinção fundamental entre “momento político” e “momento eleitoral”. O primeiro é o que vivemos. São as peripécias do marketing, a conveniência e as opiniões desencontradas dos candidatos, flutuando ao sabor de circunstâncias e compromissos prévios. O povo assiste, ouve e guarda no computador da memória coletiva. O julgamento e as definições começam a surgir com a chamada “tendência eleitoral” conhecida, em média, sessenta dias antes da eleição.

  Quatro eleições majoritárias no Rio Grande do Norte pareciam definidas de véspera: a de Djalma Marinho para o Senado em 1974; a de João Faustino, Fernando Bezerra e Garibaldi Alves para o governo do estado, em 1984, 2002 e 2006, respectivamente. Apurados os votos, todos perderam, mesmo tendo mais de dois terços da preferência popular nas pesquisas antecipadas.

  Em 1988, na disputa pela Prefeitura de Natal, o deputado Henrique Alves parecia imbatível. O pai era Ministro de Estado e contava com o apoio do Presidente da República, do então governador Geraldo Melo e do prefeito Garibaldi Filho. No final, Vilma se elegeu (fui o seu vice-prefeito), numa campanha histórica.

  Outro aspecto a considerar é essa história de “marqueteiro”. Se marqueteiro ganhasse a eleição, o candidato seria ele próprio. Em 1960, Aluízio Alves contratou o marqueteiro Roberto Jorge Albano, que se vangloriou de ter sido o responsável pela sua vitória. Em 1966, o mesmo Albano trabalhou para Dinarte Mariz, que perdeu a eleição. O sucesso nas urnas depende do candidato e do “momento eleitoral”. O “slogan” do Monsenhor Walfredo Gurgel, – “é o padre... é o padre.... é o padre” – mobilizou o sentimento religioso e colocou em desvantagem o senador Dinarte Mariz.  Se no passado era assim, hoje muito mais. Jeferson Perez, modesto vereador em Manaus, “cara dura”, enfrentou dois ex-governadores amazonenses e ganhou para o Senado duas vezes. Saturnino Braga perdeu para vereador no Rio de Janeiro e dois anos depois se elegeu Senador. José Serra perdeu duas vezes para prefeito de São Paulo, derrotado por Erundina e Pita. Em 2006, foi o primeiro governador de SP eleito no primeiro turno.

  Nota-se no quadro político que o eleitor deseja opções, mesmo percebendo ser praticamente impossível. A política se transformou em latifúndio privado, busca de aposentadorias e “acomodação” de interesses eleitorais-familiares. Diante disso, pesquisa nenhuma poderá prever o tamanho da indignação popular, se houver. Tinha razão Ananias, zagueiro do Santa Cruz de Recife, quando dizia: “prognóstico, eu só dou depois do jogo”.

   É o caso de afirmar: “pesquisa verdadeira, só depois da eleição”.

  • Ney Lopes – Jornalista; advogado e ex-deputado federal

  Publicado aos domingos
  nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
  Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte 

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