Opinião
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08 de Novembro de 2008
Lágrimas de saudade
Quis o destino que na sexta, 31 de outubro, visitasse com Abigail o Santuário de Lourdes, na França. Pelo celular, chegou a trágica notícia. A nossa grande amiga, Lurdinha Guerra, acabara de falecer.
Vem de longe a amizade com Lurdinha. Em todas as eleições em que fui candidato contei com o apoio solidário dela. Sempre acreditamos na valorização da pessoa humana. Considerávamos a política, o exercício de uma vocação, e não esperteza ou oportunismo de aproximação com os necessitados para conseguir o voto na urna. Essa confiança nasceu no “Movimento de Natal”, liderado por D. Eugênio Sales na década de 60. Trabalhamos em equipe e sem remuneração, na criação de sindicatos de trabalhadores rurais, para conscientizar as populações dos princípios da Doutrina Social da Igreja, originários da Encíclica “Rerum Novarum”, de João XXIII e dos ensinamentos do Padre Lebret. Quantos se apresentam hoje como progressistas e nunca tiveram história de vida semelhante?
Alguns – mais conservadores – chamavam-na à época de comunista, assim como todos nós que integrávamos o SAR (Serviço de Assistência Rural), da Arquidiocese de Natal. Por força desse trabalho, o RN foi o único estado do Nordeste, onde não prosperaram as “ligas camponesas”, lideradas pelo revolucionário Francisco Julião.
Ela era pura e idealista. Lembro que logo após a campanha de Ney Jr., em Natal – na qual teve participação decisiva –, conversou comigo e Abigail no ICTA (Instituto Claudionor Telógio de Andrade) – entidade beneficente que nunca recebeu um tostão de dinheiro público – onde prestava serviço voluntário e gratuito. Avaliamos o quadro eleitoral e as dificuldades de uma campanha de vereador – mais difícil do que deputado federal –, em que o voto é garimpado pessoa a pessoa. Analisamos certos momentos da política, onde muitos almejam apenas o retorno material imediato. O espírito público, de amizade e de solidariedade parece desaparecer.
Lurdinha gostava de política. Mas de uma política decente. Aproximava-se das comunidades para conhecer as suas carências. Gastava do próprio bolso, atendendo urgências. Sempre esclarecia que aquilo não era compromisso eleitoral. Exemplo foi a sua presença no Guarapes, bairro de Natal. Identificou, no início deste ano, grupos de jovens que aspiravam melhoria de vida, sobretudo emprego e oportunidades. Criou uma associação, recolheu livros, mesas, cadeiras, inclusive uma TV. Iniciou a projeção de cursos de alfabetização. Tudo doado. O verdadeiro objetivo era a promoção humana. Ao invés de dar o peixe, ensinava a pescar. Esse trabalho, o vereador Ney Jr. pretende dar continuidade, com a criação da Fundação Lurdinha Guerra.
Voltei a Natal, depois do compromisso no Fórum Internacional sobre América Latina, na França. Não pude participar do seu sepultamento. No dia seguinte, em telefonema, os meus filhos testemunharam que, no cemitério, pessoas visivelmente carentes e anônimas choraram copiosamente.
Deus recebeu Lurdinha Guerra na eternidade, como prêmio pela vida honrada que teve, ao lado da família, dos filhos e da sua mãe – Dona Belmira, com mais de 90 anos – a quem prestava total assistência, com zelo e carinho.
No belíssimo Santuário de Lourdes, em frente à gruta onde a Virgem Imaculada da Conceição apareceu à Santa Bernadete, eu e Abigail rezamos e acendemos uma vela em sua memória. Por acaso, o local tem nome de Lourdes. O clima de reflexão e oração fez rolarem, em nossas faces, lágrimas de eterna saudade.
Na FIESP, em São Paulo – Participarei nesta terça-feira do “Seminário de Promoção da Inovação na Era dos Desafios Globais”, na sede da Federação das Indústrias de São Paulo – FIESP – a convite da entidade empresarial. Haverá almoço com a diretoria da instituição, quando será analisado o tema “retaliação cruzada”.
O que é retaliação cruzada? – Trata-se da recente decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC), que assegurou ganho de causa ao Brasil, em razão do subsídio dado pelo governo americano aos produtores nativos de algodão, prejudicando as nossas exportações. O Brasil pediu autorização à OMC para recuperar o prejuízo – estimado em 4 bilhões de dólares. Uma das formas de compensação cogitada pelo Brasil será proibir patentes americanas no Brasil. Outra alternativa seria a taxação de remessas de lucros para os EUA, até atingir o valor do prejuízo.
Ausência lamentada – Ernesto Samper e Ricardo Lagos, ex-presidentes da Colômbia e do Chile, coordenadores do recente “IX Encontro de Biarritz sobre Europa e América Latina”, lamentaram a greve dos policiais em São Paulo, que impediu a presença do governador de SP, José Serra, quando faria palestra sobre a crise econômica mundial. O governador foi representado por um amigo pessoal.
E a política do RN? – Como entendê-la? Talvez, a única forma seja a aprovação da lei que o Congresso discute, que permitirá a mudança de partidos. Seria um “freio de arrumação” para depois exigir a fidelidade partidária. Como está, continua a “farra do oportunismo”, e o cidadão-eleitor, certamente, repetirá em 2010, o que fez em 2008, em Natal.
BOA IDÉIA!
Manoel Neto lançou “site” na internet para preservar a memória de Natal. Enviei-lhe algumas lembranças. Quem deseja relembrar Natal acesse: www.nataldeontem.blogspot.com . Vale a pena!
Coluna Publicada aos domingos
nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
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