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Opinião

  • 02 de Setembro de 2000

    LIÇÕES DO TIO SAM (final)

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    LIÇÕES DO TIO SAM (final)

    Los Angeles, Califórnia –O iraniano Moss Bas, motorista de taxi, naturalizado americano há dois meses, votará este ano pela primeira vez. Perguntei-lhe o seu candidato e ele foi taxativo: “voto com a melhora da economia; voto com Gore”. Joseph, garçom do “Doubletree Hotel”, também indagado por mim, analisou o quadro econômico e concluiu: “aqui nos Estados Unidos governo vale pouco, sobretudo a partir das reformas de Reagan na década de 80. Com Gore ou Bush a economia continuará bem. O importante é manter a renda, os empregos e assegurar um novo quadro moral em Washington. Por isto voto em Bush”. Ele se referia aos escândalos do período Clinton. Se ganhar o candidato republicano, será a segunda vez na história americana em que pai e filho ocuparão a Presidência da República. A primeira, foi com John Adams (o segundo Presidente dos EEUU) e seu filho John Quincy Adams, eleito em 1824 com o apoio do núcleo político que em 1840 fundaria o Partido Democrata.

    A VOLTA DE CLINTON                                                         

    A curiosidade é que a vitória de Bush poderá levar Clinton, ainda muito jovem, a candidatar-se em 2004 de novo à Presidência. Na história americana, apenas Grover Cleveland, no século passado, elegeu-se Presidente em dois períodos não consecutivos. A Constituição e as leis americanas não proíbem, mas a opinião pública rejeita, classificando de “continuísmo indesejável, tirando a oportunidade de outros”. Todavia, um dirigente republicano, convidado do Forum Internacional de Líderes promovido pelos democratas, comentou-me em tom crítico: “com relação a Clinton tudo é possível”. Talvez, quem sabe, seja possível até a candidatura de Hillary, caso ela se eleja Senadora em Nova York. 

    EXPLICAÇÃO DA PROSPERIDADE

    Nas conversas que tive durante a Convenção dos Democratas, percebi que a estratégia de Gore é assegurar a continuidade da atual fase de crescimento ininterrupto da economia americana, iniciada a partir de 92, quando Clinton chegou ao poder. Um dado espantoso foi revelado nos debates do “Forum Internacional de Líderes”: historicamente, para cada dólar adicional ganho pelo trabalhador os gastos eram de 80/90 centavos (propensão marginal para o consumo). Em 1999, de cada dólar adicional obtido os gastos foram de U$ 1.26. Isto é algo realmente extraordinário.

    Os adeptos de Bush reconhecem esta prosperidade, prometem mante-la e explicam o chamado “fenômeno Clinton” com os seguintes argumentos: primeiro, a reforma fiscal austera aprovada pelo Congresso de maioria republicana; segundo, a desregulamentação da economia feita pelo republicano Reagan (1980-88), abrindo espaço para grandes investimentos na telecomunicação e informática; terceiro, o fim da guerra fria, com a queda do império soviético, reduzindo drasticamente os gastos com a defesa e consequentemente o desequilíbrio orçamentário; quarto, a crise asiática que ajudou enormemente os Estados Unidos, barateando as suas importações, facilitando o controle da inflação e a baixa de juros, mesmo com o efeito colateral, ainda hoje existente, do déficit externo acumulado em cerca de $400 bilhões por ano. Para eles, o progresso atual ocorreria com Clinton, ou sem Clinton.

    SHOW & MÍDIA

    Sai do palco da convenção dos democratas deste ano com aquela mesma sensação de 1992, quando assisti a Convenção republicana em Houston, Texas: os partidos e candidatos nos Estados Unidos transformam as suas convenções em parafernálias de “shows”, mídia e comércio.

    É impressionante e curioso para nós brasileiros presenciar os “gastos” e a forma de obter o dinheiro. A General Motors patrocinou abertamente os veículos. Lá estavam até carros GM em exposição para venda. Eram oferecidos brindes, coquetéis, festas privadas. O Partido vende “souvenirs” caríssimos (uma camisa U$ 30,00) e os eleitores rejeitam o que é gratuito, salvo quando patrocinado por empresas. Os candidatos angariam fundos de campanha com  sorteios ou cafés da manhã, cujas senhas são vendidas  até por U$ 5 mil dólares. Hillary Clinton fez no sábado anterior à Convenção uma festa na residência de artistas de Hollywood e arrecadou mais de U$ 4 milhões de dólares para a sua campanha ao Senado em Nova York. Tudo noticiado sem espanto na imprensa. No Brasil, com certeza, daria CPI, cassação e lesão a moralidade.

    ABERTO & FECHADO                                                        

    Por que a Convenção americana é assim ? Porque eles partem do princípio de que fiscalizar com tudo aberto é mais fácil do que fechado. Lá existe o Comitê Federal de eleições que fixa normas e critérios. Transgredir é fatal. Não há desculpa. O que não for proibido é permitido.

    Afinal, a lição que fica para o Brasil é de que não será possível copiar o Tio Sam. São situações econômicas, sociais e políticas totalmente diversas. A reforma política  brasileira respeitará o nosso perfil de povo e nação. Começará pelo financiamento público, o item que considero fundamental.  Porque, se não for assim,  igualaremos desiguais, tornando o novo sistema eleitoral mais perverso do que o atual.

    Coluna Publicada aos domingos
    nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte


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