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Opinião

  • 19 de Agosto de 2000

    LIÇÕES DO TIO SAM (I)

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    LIÇÕES DO TIO SAM (I)

    Los Angeles, Califórnia – Uma empresa de fibras óticas– “Asia Global crossing”- pagou abertamente as despesas do almoço do Presidente Clinton, realizado ao meio dia da última segunda, quando ele, risonho e descontraído, instalou e cumprimentou os quase 500 convidados mundiais do “Forum Internacional de Líderes”, promovido pelo Partido Democrata. Este Forum credenciou oficialmente os seus convidados especiais - entre eles  Alejandro Toledo, recente candidato a Presidente da República no Perú; Domingos Cavalo idem na Argentina; o primeiro ministro da Bosnia-Herzegovina e outros - para serem observadores da Convenção do Partido Democrata. A importância deste Forum se mede pelo fato do Presidente da República ter comparecido apenas a dois eventos em Los Angeles: a sua instalação e a abertura da Convenção, às 18 horas, no “Staples Center”, a casa dos campeões do basquete “Los Angeles Lakers”. Fui o único convidado do Brasil a participar do Forum (convite enviado em 24.06.00 pelo Sr. Kenneth Wollack, Presidente do “National Democratic Institute”). Representei o Congresso Nacional, por designação oficial do Presidente da Câmara Federal, dep. Michel Temer, que autorizou o pagamento de passagem aérea em classe econômica e cinco diárias de U$ 300.00 cada para cobrir as despesas com estadia, alimentação e a taxa de inscrição de U$ 375.00 cobrada pelo Partido Democrata. Nos Estados Unidos nada é gratuito; nem para convidados.

    O “SHOW”DA ABERTURA                                                  

    Eram 18 horas da última segunda feira, 14 de agosto. Raios laser, azuis e vermelho, cruzavam o imponente cenário montado no “Staples Center”, totalmente lotado. Um grupo de 25, dentre os 500 convidados do Forum, recebeu credencial de “special guest” (“hóspede especial”). Fui um deles e por isto assisti tudo do Hall do Estádio, próximo de onde estava o ex-Presidente Carter e sua esposa. Nos quase 360º em torno do palco central, viam-se logotipos com bandeiras estilizadas e a inscrição “América 2000”; painéis com mãos em cumprimento e  frases de impacto, tais como: “quando os democratas ganham, todos ganhamos”; “obrigado Clinton”.

    O  apogeu do “show” foi a entrada em cena de Hilarry Clinton, acompanhada  dos acordes de “New York, New York”. A multidão cantava e delirava, sobretudo durante o seu competente discurso. Em seguida, ergueram-se as mais de 35 mil pessoas e em côro saudaram a chegada do Presidente Bill Clinton ao palco, repetindo: “obrigado Clinton”. Nunca ouvira pronunciamento tão firme, coloquial e incisivo. Clinton quase enloqueceu o Estádio quando, a certa altura, comentou que os republicanos atribuiam os sucessos do seu Governo a “sorte”. Disse ele: “ a Presidência dos Estados Unidos não é uma questão de sorte, mas sim de escolha”. O último democrata escolhido candidato em Los Angeles foi Kennedy, em 1960.

    CONTROLAR A ILUSÃO                                                                               

    Al Gore sabe muito bem, que se prosperidade econômica fosse a certeza de sucesso eleitoral, Hubert Humphrey teria sido eleito em 1968 e não Richard Nixon; Gerald Ford teria vencido em 1976 e não Jimmy Carter e George Bush teria ultrapassado Clinton em 1992.

    Bush já mudou o tradicional discurso conservador  republicano favorável a investimentos produtivos e redução de impostos. Ele   prega que a “prosperidade” econômica não é tudo; defende a integridade moral, considerando tarefa impossível para um clone de Clinton e se compromete a ter no Governo compaixão pelos pobres, linguagem típica dos  democratas.

    Nesse quadro, nenhum dos lados tem a certeza da vitória. Hoje, mais do que nunca, está viva a lição do “marketing político” usado por Clinton em 1992, quando ele superou Bush, o então herói da Guerra do Golfo: “em política, o fato concreto não importa tanto quanto a percepção da situação. Ganha eleição, em geral, aquele que controla a ilusão”.

    ADEUS AOS DOGMAS

    O Tio Sam, neste início de campanha eleitoral, dá a lição de que os dogmas políticos desapareceram.  Clinton e Gore buscam sobretudo a confiança do eleitor. A grande prioridade não é ser radical, mas sim a favor de soluções, que melhorem o dia a dia do cidadão. Este é o desafio de Bush, o “patinho feio” da sua família, rebelde, alcoólatra até os 40 anos, hoje apresentado como pessoa simples, sincera e preso aos princípios religiosos da sua esposa Laura, após ter sido convertido em 1986 com a ajuda do Reverendo Billy Graham. De outro lado, Al Gore busca desprender-se da imagem de antipático e “pau mandado” de Bill Clinton, atraindo os judeus, pregando respeito à família e menos impostos. Percebi que o perfil individual dos candidatos pesará pouco nesta eleição. Cada um terá que assegurar, independente de ser republicano ou democrata, a manutenção, custe o que custar, da atual fase de bem estar da Nação americana, reduzindo a exclusão social e preservando os empregos. O olho do cidadão está aberto para esta mensagem objetiva, clara e pragmática. Pouco importará se Gore é apoiado por Clinton e suas amantes; se o seu vice é judeu, ou se Bush fumou maconha na juventude. O eleitor americano amadureceu, rejeita as soluções mirabolantes e está comprometido com a política de resultados. Ele quer idéias viáveis, soluções possíveis e criatividade. As lições políticas do Tio Sam, nesta virada de século, são excelente “dever de casa” para nós brasileiros...

    Coluna Publicada aos domingos
    nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte


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