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Opinião

  • 22 de Outubro de 2006

    A MÃE DE MÃE LUÍZA

     

     

     

     

                Madrugada do sábado, 14 passado. Soprava o vento frio de sempre no Morro de Mãe Luíza, em Natal. Aproximava-se o alvorecer. A desempregada Luciene Gomes dos Santos, grávida de oito meses, esperava uma filha. Ela não sabia que aquela noite, já deitando no horizonte, seria a mais soturna e fúnebre da sua vida. De repente, ouviu fortes e súbitos sons de armas de fogo. Não deu tempo para que se protegesse.

                 Ocorre o trágico. Uma bala perdida atinge Luciene. Ela sobrevive. A sua filha de oito meses morre indefesa na barriga da mãe. Tudo isto ocorreu em Natal. Em pleno século XXI.

                Imagino a dor e a solidão de Luciene. A lembrança daquela filha que não conhecera; o resultado do seu amor. Como dizia Fernando Pessoa “o único mistério é haver quem pense no mistério”. Certamente, Luciene acha todo o ocorrido ainda um mistério. E sente nas noites de angústia o soprar dos ventos alísios, que, na eternidade, abrigam a sua filhinha na morada dos justos.

                Luciene, a exemplo dos habitantes do seu morro, continuará a caminhar na insegurança pública. Todos cantarão como Antônio Machado – o poeta espanhol: “Caminhantes, não há caminhos; mas sim estrelas no mar”. A mãe de Mãe Luíza, morando em frente às estrelas do mar azul de Natal, sabe que não há caminho de volta para aquela que foi concebida em suas entranhas. “Oh, pedaço de mim; oh pedaço amputado de mim” (verso de Chico Buarque).  Morreu sem nome, vítima dos homens. Do egoísmo. Da crueldade. Da desproteção coletiva.

                A tragédia de Mãe Luíza aumenta a responsabilidade da cidadania no combate à violência, ante a certeza de que a segurança pública é negada até àqueles que vivem no ventre materno. Como aceitar tudo isto? Justifica-se a indignação coletiva para que tais fatos não se repitam.

                Espera-se que outros conterrâneos – já nascidos ou nascituros - não amarguem o mesmo destino fatídico. Luciene continuará na sua recôndita amargura, em busca da filha que não conheceu. Certamente, leva consigo o sentimento de Cecília Meireles, quando disse que a vida é escrita em areias claras, porém, os sonhos são desenhados no andar e “dedicados aos ventos”. Tudo porque a cidade e o Estado onde vive não lhe deram o direito e a segurança para que a sua filha nascesse em paz.

    CRIME CONTRA O RN

                Prossegue, de forma soturna, a estratégia para um novo crime contra a última oportunidade do nosso Estado de gerar empregos em massa (já perdemos a refinaria). O presidente do BNDES, Demian Fiocca, veio a Natal e liberou dinheiro para "novos reajustes" na construção da ponte Natal-Redinha (a obra está sob investigação do Ministério Público por indício de superfaturamento) e anunciou que o Banco financiará a Parceria Público Privada (PPP) do aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Nada falou, nem lhe foi perguntado, sobre o aproveitamento na área adjacente ao Aeroporto, para a instalação de uma área de livre comércio, com a previsão de oferta inicial de 50 mil empregos.

                O jornalista Cassiano Arruda, em sua coluna Roda Viva, alertou (DN 11.10.06) que os cearenses "não dormem de touca" e já adaptam o seu aeroporto ao tipo cidade, indústria ou porto seco para cargas internacionais. O jornalista registra que a saída de mercadorias da América Latina poderá ser através do Ceará, com produtos fabricados fora daqui, quando poderiam ser com a nossa mão de obra local. O RN perderá mais uma oportunidade. O modelo do CE já foi autorizado, por simples decreto da Infraero, em mais de 40 aeroportos brasileiros. Até Petrolina (PE) tem. Ao contrário, a área de livre comércio não existe no Brasil. O RN seria o primeiro local a produzir, ofertar empregos e transformar-se em um pólo exportador. Chegaria aqui a mesma estratégia que trouxe o progresso à China, Ásia, aos Estados Unidos, México e outros países.

                Deixar de lado essa preocupação e substituí-la por lobbie canhestro e escuso, contrário aos princípios da livre iniciativa, será jogar fora empregos e oportunidades para os nossos conterrâneos. É ignorar que os municípios da "Grande Natal" têm a melhor posição geográfica da América Latina e poderiam produzir e exportar para Europa, África e Ásia, através dos super-aviões do novo aeroporto. Se a PPP é um instrumento privado, que evita o Estado tirar dinheiro da saúde e da educação, por que o BNDES liberar dinheiro para esse fim? Que privado é este? Privado com o dinheiro do contribuinte?

                A verdadeira iniciativa privada seria capaz de construir, ao mesmo tempo, a zona de Livre Comércio e o aeroporto, aplicando recursos da competição econômica, em troca de espaços para fábricas, galpões, estação de passageiros, para o turismo, construção de hotéis ao redor etc....   O Estado faria apenas a infra-estrutura. Foi assim no mundo todo. Por que só no RN o "Papai Noel" chamado Estado tem que chegar, trazendo no saco dadivoso privilégios e obras civis, concessões a longo prazo no aeroporto, indenizações de terra dirigidas e milionárias para beneficiar meia dúzia e, no final, tirar a nossa chance de uma área de livre comércio?

                Isto é um crime. Gritarei porque defendo o interesse coletivo. PPP sim. Nada contra. Construções e negócios privados: sim. Porém, tudo isto vinculado previamente ao compromisso de instalação de uma área de livre comércio. Se assim não for feito, essa história do aeroporto de São Gonçalo do Amarante será um " jogo de cartas marcadas" e o RN terá mais uma perda irreparável.

                Irei até a Justiça, se for necessário. E com provas da omissão e ação..


    Congresso Eucarístico

    Será realizado nos dias 17, 18 e 19 de novembro, na Estação das Artes Elizeu Ventania, o II Congresso Eucarístico Diocesano. O bispo de Mossoró, Dom Mariano Manzana já anunciou a presença no evento do núncio apostólico Dom Lorenzo Baldissseri, representante do papa Bento XVI.

    Publicado em 22.10.2006 nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE.


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