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Opinião

  • 21 de Julho de 2001

    A RÚSSIA QUE EU VI (III)

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    A RÚSSIA QUE EU VI (III)
    O TEMOR DA INFLAÇÃO

    Moscou (via Internet) -A queda do regime em 1989 melhorou ou piorou a vida do povo russo ?  Qual a atual situação da economia russa ?

    Para Lana, nascida em Moscou, cursando Mestrado em Economia, “hoje é melhor. Antes o Governo supria as necessidades básicas, mas barrava o crescimento individual”. Todos eram nivelados por baixo. O seu esposo, também russo, tem uma pequena fábrica em crescimento, apesar da dificuldade de mão de obra causada pelo “costume” do salário não depender do desempenho e também do elevado índice de alcoolismo. Para a sexagenária Larissa (ela aprendeu o português sozinha)  “antes era melhor’.  Ambas, ainda se beneficiam de certos subsídios que não desapareceram na Rússia: água, transporte e gás são praticamente gratuitos. Lana quer “crescer na vida”, fala muito bem  espanhol e, segundo pesquisas, interpreta o pensamento de cerca de 80% da população. A  Sra. Larissa recebe de aposentadoria, por mês, mil rublos, equivalendo a 34 dólares, ou,  85 reais. Ela é o exemplo do “saudosismo”, pois a idade limita disputar as oportunidades numa sociedade aberta.  O salário mínimo atual é de 800 rublos ( 28 dólares, ou, 67 reais).

    O ANTIGO REGIME      

    A conclusão simplista é de que o “antigo regime” seria um paraíso, se o Estado como empresário coletivo “pagasse a conta do paternalismo público”. Para combater o desemprego, por exemplo,  instalavam-se indústrias estatais, sem preocupações de  qualidade, produtividade ou a venda final da produção. O Governo construía, até nos grandes espaços rurais, prédios residenciais padronizados. Isto facilitava o Estado acompanhar o dia a dia das famílias. Um amigo, que viveu na Rússia em 1970, disse que ia semanalmente fazer compras e nunca via a mesma pessoa trabalhando. Para as estatísticas demonstrarem a ilusão do pleno-emprego, os empregados trabalhavam meia-semana e  o Estado cobria o resto. Isto foi possível enquanto várias Repúblicas estiveram atreladas à Moscou. Quando a Hungria rebelou-se e, em seguida, outras nações, abalou-se a sustentação econômica do império soviético. A crise levou ao surgimento em 1985 da  “perestroika”, a abertura liderada por Mikhail Gorbachev. Começava a queda da Revolução de 1917, cujo objetivo fundamental era ser implantada em todo o mundo, a partir do apelo: “proletariado, uni-vos”. Não se tratava de doutrina, mas sim ideologia universal. 

    COISAS BOAS DO COMUNISMO                                                         

    A análise isenta dos fatos não pode negar os avanços do antigo regime, principalmente nas áreas da educação, saúde, pesquisa e transporte de massa. A maior causa da queda foi o Estado como “mau gerente”, tornando impossível atingir a indispensável estabilidade econômica e financeira do “bloco”.   Aliás, Karl Marx quando, em 1848 lançou o “Capital”, fez correto diagnóstico das injustiças sociais na Europa pré-industrial. Ele jamais imaginou a “revolução proletária” implantada na Rússia dos “Czares”, sociedade agrícola e fechada. O “determinismo histórico” marxista foi dirigido, fundamentalmente,  à Inglaterra, França e Alemanha, sociedades industriais. A criação do  “imposto de renda” para financiar o bem estar social desarticulou o avanço da prometida “sociedade sem classes”.  A cegueira e a luxúria dos “Czares” abriram as portas para as idéias de Marx. A Revolução de 1917 foi, em princípio, contra a monarquia e a favor do socialismo “bolchevista”, que não era marxista. Em razão de choques internos, Lenin tornou-se o líder. Ele era mais intelectual do que revolucionário. Somente em 1928, com  a ascensão de Stalin, iniciou-se a coletivização na agricultura. Por estas razões, dona Larissa, a russa com quem conversei, protestou quando lhe falei em “revolução comunista de 17”, classificando como “equívoco da história contada no Ocidente”. Para ela, este regime começou com Stalin.

    A ECONOMIA HOJE

    Em 2000 foi alcançado excelente desempenho econômico (a indústria cresceu 9.5%). Ajudaram os altos preços do petróleo  (maior produto de exportação russo), metais e seus derivados, os efeitos da desvalorização do rublo, que barateou as exportações e protegeu a indústria local. A maior dificuldade é o reduzido nível de investimento estrangeiro (em 99 U$ 4.3 bilhões e em 2000  U$  4.4. bilhões), valores muito abaixo da potencialidade do mercado russo. O país quer crescer 4% este ano.

    O grande temor atual é o aumento da inflação (a meta  anual é de 12% a 14%; até maio já atingiu 9%). Putin, em abril passado, declarou, em tom de alarme: “a maior preocupação é a inflação subir, que “come” o orçamento e constitui a maior ameaça ao crescimento da economia nacional”. Ele confessou que a responsabilidade pelo atual aumento inflacionário foi a elevação das “tarifas públicas; medida dolorosa, mas necessária”. Boa lição para os brasileiros meditarem.

    O principal parceiro comercial  é a Alemanha (9.6%); Estados Unidos em quinto lugar ( 5.3%) e o Brasil com apenas 0.4.% .

    AGRICULTURA: A “DOR DE CABEÇA”

    A agricultura continua a maior “dor de cabeça”. O país com potencial agrícola semelhante ao Brasil, importa grande quantidade de alimentos. A “questão agrária” se agrava.  Não se sabe quem são os proprietários da terra. O Estado sustenta atualmente, com subsídios, parte dos agricultores. Os índices de produção  de grãos, beterrabas e batatas são inferiores ao passado, o que não acontece em relação aos girassóis, legumes e o abate de carne.  A propriedade privada urbana  está regulamentada; o imóvel rural de áreas cultiváveis, não.  Certas regiões administrativas já têm lei de compra e venda de terras. O investidor teme a falta de lei federal.

    Afinal, a economia russa melhorou ou não ? A minha opinião é que melhora dia a dia, vencendo “rígidos tabus”. Porém, a transição não terminou. O país ainda paga o elevado preço de ter herdado estrutura econômica ultrapassada, onde o Estado a pretexto de dar oportunidades iguais para todos, transformou todos em iguais e sem oportunidades livres, imobilizando a economia. (A seguir,  “Preocupações Sociais na Rússia”).

    Coluna Publicada aos domingos
    nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte


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