Opinião
-
05 de Novembro de 2006
OBRIGADO AMIGOS
Terminou a eleição no Rio Grande do Norte, em 2006. Não me arrependo de ter sido companheiro de chapa do senador Garibaldi Alves Filho. Fomos adversários no passado. Jovem, no início da minha vida pública, auxiliar do governo de Cortez Pereira, recebi dele, à época, críticas contundentes. Éramos ex-colegas de Colégio Marista. Depois, já na política, fiz-lhe oposição igualmente forte. Mesmo adversário, sempre tive admiração por Garibaldi. Uma grande figura humana. Um homem público bem intencionado. A última campanha confirmou esse sentimento.
Imaginamos implantar uma visão de governo dinâmica na gestão da coisa pública. Criar alternativas de empregos e oportunidades, sem “maracutaias” e “jogo de cartas marcadas”. Participamos de uma eleição atípica, protegida pelo direito à reeleição. Os vitoriosos usaram e abusaram do Diário Oficial. Todos sabem disto. O que é público e notório independe de provas...
Estou convicto de que é “melhor perder do que a vergonha de não ter lutado”. Perdi uma batalha. Isto não fenece a capacidade de continuar lutando e acreditando. Outros desafios virão. E se for convocado, aceitarei.
O processo eleitoral deixa lembranças. Comecei na política aos 15 anos – já era repórter de jornal -, a convite de Sales da Cunha e Hélio Vasconcelos, como presidente de um comitê estudantil pró-candidatura Djalma Marinho ao Governo do Estado.
Em 1966, fui convocado por Odilon Ribeiro Coutinho para ingressar no MDB. Fui fundador do partido no RN. Candidatei-me a deputado federal com 21 anos e enfrentei nas ruas as baionetas das forças armadas. Comi o pão que o diabo amassou... Até fome passei na campanha. Dormi nas estradas, dentro de uma kombi de som, que me fora emprestada. Ao final, tive expressiva votação. Ganharam as forças revolucionárias de 1964. Denunciado no DOPS como “esquerdista”, fui demitido de função na FIERN.
O período pós 1966 foi muito duro. Elegi-me deputado federal em 1974. A lealdade a Cortez Pereira valeu-me uma cassação de mandato em 1976, sem nenhuma conseqüência posterior. Nunca respondi a um processo judicial, policial ou administrativo, nem sequer da revolucionária Comissão Geral de Investigação, da época. Jamais me acusaram formalmente de nada. Existiu apenas uma desumana campanha por órgão de comunicação. Nada mais. O Tribunal de Contas aprovou todos os meus atos na administração pública.
Voltei à vida pública, na legislatura de 1987, como deputado federal, e permaneço até o final da atual legislatura (30/01/07). Tenho a sensação do dever cumprido. Fiz tudo que podia como legislador. Recebi prêmios nacionais e internacionais pelo desempenho na Câmara Federal. Ao longo de todo esse período, fui incluído na lista dos melhores parlamentares do Brasil. Deixo, agora, o Congresso Nacional.
Se me perguntassem qual a maior alegria que tive como político, diria sem titubear: ter sido o autor do projeto de lei que criou, em 1975, o crédito educativo, ajudando o carente a concluir a Universidade. Depois, mudaram de nome e hoje é Fies, Prouni, educação para todos etc... Comecei, no Brasil, a prática de ajudar, sem paternalismo demagógico, o estudante universitário necessitado. Ouvi do Dr. Mário Nóbrega, médico e político em Currais Novos, o depoimento de que ele e os irmãos se formaram graças ao crédito educativo.
E a maior decepção? As traições. Sobretudo daqueles que não podiam me trair, hoje alegres com o meu insucesso eleitoral. Pessoas que ajudei. Fui solidário, amigo, sincero, sem pesar conveniências. Vivi na política situações semelhantes àquela expressão do conto - “Um apólogo” - de Machado de Assis: servi de agulha e abri caminhos para muita linha ordinária. Fui traído pela inveja, ciúme, má vontade e perfídia. Comportamentos semelhantes ao do maestro Salieri, que feriu Mozart e terminou louco, solitário numa masmorra, vítima da inveja que corroeu a sua mediocridade. Foram aquelas mesmas flechas mortais que atingiram Bernard Shaw. Ele, polemista e dramaturgo, ao saber da falta de caráter de alguém, indagava sempre: “afina,l qual o bem que fiz a ele para receber tal injustiça?”. E completava: “a minha especialidade é ter razão quando os outros não têm”.
Mas, tudo passa. A grandeza humana não convive com a mágoa, embora ela deixe marcas profundas. Prefiro lembrar os verdadeiros Amigos. Aqueles das estradas, dos acenos, do anominato, do reconhecimento, da admiração gratuita. Alguns que nunca sequer apertaram a minha mão. Amigos solidários, chegando na hora certa, sem alegar falsos argumentos. Estiveram presentes.
Amigos que, como Vinicius, “não procuro há tempo, porém basta-me saber que eles existem. Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.....Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida... Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos... Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles..”
Vinicius teve razão ao dizer que “a gente não faz amigos, reconhece-os”. Reconheço - como Roberto Carlos - o meu “um milhão” de amigos.
Fora da vida pública hoje - quem sabe retornando amanhã - continuaremos juntos; amando e querendo bem ao Rio Grande do Norte. Expostos, de um lado, às traições e ingratidões da vida, e de outro, aos gestos de gratidão e solidariedade...
Obrigado, amigos
Publicado em 05.11.2006 nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE.
Notice: Undefined variable: categoria in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Trying to get property of non-object in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined index: pagina in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined variable: totalPaginas in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined offset: 1 in /home/neylopescom/public_html/restrito/incs/funcoes.php on line 618