Opinião
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07 de Julho de 2001
PAÍS QUE RENASCE
PAÍS QUE RENASCE
Moscou – (via Internet) - No último 25 de junho, os organizadores russos do “X Congresso da Federação Internacional de estudos sobre Europa, América Latina e Caribe” convidaram a mim e a Embaixadora do Brasil, Thereza Quintella, uma das mais competentes diplomatas da América latina, para sentarmos à mesa inaugural dos trabalhos (presença de mais de 3.000 delegados do mundo), no salão denominado “Presidium” da Academia de Ciências da Rússia. Representei o Parlamento Latino-Americano (PARLATINO). Lembrei-me da cidade de Parnamirim – a ponta mais avançada da América Latina –, que na II Guerra Mundial foi “o trampolim da vitória”, apoio fundamental para a vitória russa e dos demais aliados. Durante a semana de trabalho falei sobre o tema: “a América Latina e o direito do trabalho – uma visão do Parlamento Latino Americano”.
Deixo Moscou, após a aprovação das conclusões do Congresso. Retorno, passando por Saint Petersburg, onde começou a Revolução bolchevista de 1917. Lá estão o “Hermitage” – o maior museu do mundo - com mais de 3.000 milhões de peças e o balet Kirov, do mesmo nível do Bolshoi. O berço artístico do império russo.
INDAGAÇÕES DE QUEM CHEGA
Quem pisa o solo russo, logo indaga: a Rússia voltará a ser uma superpotência, ou vai passar por crises sucessivas e ver reduzida a sua influência no mundo ? A resposta envolve muitas análises. A minha convicção é de que a Rússia ganha cada dia mais autoconfiança e aliados, construindo pouco a pouco a sua nova identidade e destino. O país sofreu desgaste de imagem com a fragmentação do império soviético, ameaças constantes de novas rupturas (derrotas militares no Afeganistão e primeira campanha na Tchetchênia), fama de país corrupto e mafioso, debilidade do seu Presidente (Ieltsin) e expansão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na direção de suas fronteiras. Mas, a força e determinação do seu povo superam tais adversidades.
É preciso ver a Rússia de hoje, principalmente Moscou, sem pensar no comunismo, na foice, no martelo, na impressão de que aqui todos são vigiados, acompanhados e podem terminar nos galpões da KGB. Moscou é uma cidade alegre, jovial, os cartazes e “out doors” invadindo as ruas, os jovens com “jeans”, executivos portando “James Bond” e celulares, “griffes” famosas instaladas na praça Vermelha.. O Kremlim abriu as suas portas para a invasão diária dos turistas.
As catedrais de Cristo e o Arco Ibérico, demolidas no antigo regime, foram reconstruídas. A história russa é valorizada nas visitas aos palácios, igrejas e monumentos da época de luxo dos czares, todos em excelente estado de conservação. O metrô – obra do período comunista – ainda é exemplo para o mundo com as suas estações repletas de mármores, pinturas e estátuas, algumas anteriores à Revolução de 1917. O circo de Moscou e o balet Bolshoi encantam pela arte e disciplina dos seus integrantes.
A MARCHA DA MUDANÇA
Não se pode negar que ainda está sendo difícil a marcha, iniciada na década de 90, rumo à economia de mercado e a democratização, já irreversíveis. Estão incorporados à vida do cidadão russo valores como eleições livres, propriedade privada, preços livres, liberdade de expressão e respeito à Constituição. Observa-se um país que renasce.
O quadro político interno é tendente à estabilidade, após suportar a herança, tanto da época soviética, quanto a influência nefasta de pequeno grupo de privilegiados, beneficiário das primeiras privatizações e a crise de 1998, que agravou o desencanto com o Ocidente e as idéias liberais. Grave problema – praticamente um beco sem saída – é a Tchetchênia. O poder militar mostrou-se praticamente inútil contra inúmeros grupos de guerrilheiros de cinco a dez indivíduos. Ao mesmo tempo, é difícil simplesmente retirar o exército da região, pois a memória nacional recorda como os separatistas retomaram Grozny em 1996.
A ESPERANÇA DOS RUSSOS
A esperança de todos, no momento, é o Presidente Vladimir Putin, 49, de passado “tchekista”, formado em Direito e ex-membro da Inteligência Externa do KGB (a temível polícia secreta comunista). As qualidades mais apreciadas em Putin são a discrição, a lealdade e a obediência. O período de acomodamento político do país começou, no início de agosto de 1999, com a indicação do seu nome, feita por Ieltsin, para Primeiro Ministro, que logo depois o designou candidato oficial à sucessão presidencial. Com o sobressalto da renuncia de Ieltsin em 31 de dezembro de 1999, Putin assumiu a Presidência Interina. Submeteu-se às urnas e ganhou a eleição presidencial no primeiro turno, em 26 de março de 2000, com 52.94% dos votos, tomando posse em maio do mesmo ano.
O ESTILO “PAIZÃO
Putin consegue manter-se popular até hoje. O seu índice de popularidade está em torno de 70%, salvo no período de afundamento do submarino “Kursk” que caiu para 60%. As pesquisas mostram que todos os grupos sociais são otimistas quanto ao futuro e confiam no Presidente.
Putin é um tipo “paizão”, no linguajar brasileiro. Aquele que se preocupa com o povo, eleva as pensões, paga os salários e os aumenta. O povo gosta do seu estilo pragmático e eficiente e da sobriedade e energia que o distinguem de Ieltsin – considerado desastre nacional. Os russos até discordam de certas reformas em curso e certas políticas de Governo, mas reconhecem o clima de relativa estabilidade política e econômica do país. Por isto, aprovam o “paizão”. (Continua na próxima semana).
Coluna Publicada aos domingos
nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
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