Marca Maxmeio

Opinião

  • 18 de Maio de 2002

    CARTA AO MEU FILHO

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    CARTA AO MEU FILHO

    A meu filho, Ney Júnior

    Eu, a sua mãe, as suas irmãs – Karla Maria e Ana Lílian -, a sua família, os seus amigos, queremos lhe parabenizar neste Domingo, 19 de maio. Você, pelo seu esforço pessoal, galgou mais um degrau na vida profissional: recebe na “American University”, na cidade de Washington DC, capital dos Estados Unidos, o diploma de “Mestrado em Direito Econômico Internacional”. Foram dois anos árduos e difíceis, morando longe de Natal - a sua eterna paixão; da sua família, principalmente, de Thiago, Rafaela, Carol e Heloísa, os seus sobrinhos adorados e dos seus estimados amigos e companheiros. Certamente, existiram momentos em que a saudade, a melancolia, quase  obrigaram você e Michele,  sua esposa,  voltarem ao Brasil. Imagino a intranqüilidade do dia 11 de setembro do ano passado, quando estava na Universidade e pela Internet instalada em cada bancada da sala de aula, soube que as “torres gêmeas” de Nova York haviam ruído. Minutos após, relatou-me, atônito ao telefone, os gritos, o desespero, a correria de professores, alunos e funcionários, todos apavorados com o estrondo do “Boeing”  jogado contra o Pentagom, o centro, até então impenetrável, das operações militares norte-americanas. Você estava há cerca de um quilômetro e meio do edifício atingido e Michele em casa. Em meio ao tumulto, propagava-se o temor de que, em minutos, fosse lançado outro avião suicida sobre a Casa Branca. Logo as ligações telefônicas foram suspensas e as ruas evacuadas. Sabia que iria para casa a pé com tudo interditado, até o metrô. Depois, durante horas, nada de comunicação. De longe, toda família apreensiva, percebeu o seu pavor. Porém, para não nos decepcionar, teimava em dizer que “estava tudo bem” e iria continuar os estudos. Na verdade, não sei quem mais queria vê-los de perto: se vocês dois a nós ou nós a vocês. Mas, se tratava de uma oportunidade, talvez única, de pós graduação, de novos conhecimentos e contatos. No final, você permaneceu em Washington DC, mesmo com a onda diária de terrorismo e riscos de bombas.

    Hoje, você conclui a sua missão e volta ao Brasil.  Fez a tese sobre aspectos jurídicos do comércio na América Latina e foi aprovado, desde o último dia 8. Foi incisivo ao defender mudança da política norte-americana, em relação ao nosso continente. Estou ao seu lado, com Abigail, suas irmãs e alguns familiares. Festejamos a vitória da persistência de quem sempre quis  melhor qualificar-se profissionalmente para enfrentar os desafios do seu país. Da coragem de enfrentar as adversidades de um país praticamente em guerra.

    Recordo na memória os momentos felizes que vivemos em família.  Mas, recordo também você e suas irmãs, todos crianças, sofrendo os efeitos da profunda crueldade política praticada contra mim, quando ousei dar em 1975  os primeiros passos na vida pública do Estado. Em alguns instantes, quase desesperei. Pensava em não poder assisti-los na caminhada da vida, justamente quando vocês precisariam mais.  A família e os meus deveres para com ela, sustentaram-me vivo. Hoje com Abigail comemoramos as bênçãos recebidas de Deus, permitindo que já tenhamos presenciado Karla Maria, graduada em Administração; Ana Lílian e você em Direito. Este domingo também prova que valeu a pena  lutar.

    É muito grande a nossa alegria. As obrigações da paternidade e da maternidade impõem aos pais orientarem os filhos na honestidade, perseverança e disciplina. A sociedade não supre esses ensinamentos. Eles vêm de casa. Eu e sua mãe nos esforçamos com você, Karla e Aninha. Seguimos o conselho de John Stuart Mill : “ as obrigações dos pais em relação aos filhos estão indissoluvelmente ligadas ao fato de darem existência a um ser humano. Em relação à sociedade, cabe aos pais em fazer da criança um membro útil e em relação à criança, cabe a eles o empenho em fazer o que estiver ao seu alcance para proporcionar educação, a formação e os meios para que, por seu próprio esforço, o filho tenha uma vida bem-sucedida”.

    Os pais responsáveis dão o exemplo, abrem mão dos seus próprios desejos e aspirações, revisam prioridades,  “vão aos confins da terra pelo bem dos filhos”. Esopo, numa fábula, mostra que as palavras são importantes, mas vale fundamentalmente o exemplo. Descreve um caranguejo na praia com a sua mãe, que o repreende dizendo: “não corra de lado. Andar para frente é mais adequado”. O jovem caranguejo, respondeu: “Claro, mamãe, quero apreender. Mostre como se anda para frente e eu ando atrás de você”.

    Em nosso relacionamento familiar mostramos a você e as suas irmãs o valor da virtude, que inspira a força moral, indispensável ao sucesso. Ao receber logo mais o galardão do seu diploma de Mestrado em Direito Econômico Internacional, lembrei-me de repetir os conselhos de Robert E. Lee, quando o seu filho começava a vida profissional: “Seja franco; a franqueza é filha da coragem e da honestidade. Diga o que pretende fazer em todas as ocasiões e se certifique de fazer o que é correto. Se um amigo pedir um favor, faça, se for razoável; se não for, explique simplesmente porque não vai fazer; você estará enganando a ele e a si mesmo se alegar pretextos de qualquer natureza. Não faça nada incorreto para ganhar ou manter uma amizade; quem pedir para faze-lo está pronto a se vender e o preço é um sacrifício muito caro. Tenha uma atitude gentil, porém firme com todos os seus amigos. Acima de tudo não tente parecer, o que não é. Cumpra os seus deveres. Não permita que eu e sua mãe tenhamos um só fio de cabelo branco por qualquer falha de sua parte no cumprimento do dever”.

    A vida moderna impõe luta diária, sobretudo do pai de família. Hoje, sinto a sensação daquela cena da Ilíada , o primeiro grande épico de Homero, em que o troiano Heitor ao deixar a cidade para combater os gregos, olhou firmemente o seu filho e pediu aos deuses que “algum dia os troianos dissessem dele é melhor do que o pai”.

    Parabéns.

    Coluna Publicada aos domingos
    nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte


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