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Opinião

  • 21 de Fevereiro de 2004

    OPINIÕES DE ELIEZER BATISTA (II)

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    OPINIÕES DE ELIEZER BATISTA (II)

    Prossegui a conversa com o dr. Eliezer Batista. Perguntei-lhe sobre a sua experiência quando viveu em Bruxelas, na época em que nascia a Comunidade Européia. Ele observou que tudo começou com “interesses econômicos” bem definidos. Antes do Parlamento Europeu, existiu a comunidade do carvão e do aço, que uniu interesses econômicos de vários países. Recomenda para o Merconorte o mesmo caminho. Primeiro, debater e localizar “zonas econômicas viáveis” no norte, nordeste e nos países limítrofes. Depois, virá normalmente a integração dos países num bloco. Nesta tarefa, pode ter papel fundamental a Comunidade Andina de Financiamento (CAF), com sede em Caracas e presidida pelo boliviano Henrique Garcia. A CAF tem muito dinheiro e financiou 100% do gasoduto Brasil-Bolívia e outros projetos brasileiros, inclusive Carajás.  (Já propus encontro próximo em SP, na sede do Parlatino, com o dr. Henrique Garcia para discutir o Merconorte. O Governador do Ceará, Lúcio Alcântara, demonstrou-me interesse neste assunto, até para sediar o primeiro encontro de debate político da proposta).

    O “Merconorte” poderá desenvolver muitas cidades no norte/nordeste. Ao redor de Carajás, vários núcleos urbanos  cresceram ao longo do tempo, com a implantação de indústrias de processamento de minérios (cobre, ferro, níquel, alumínio). As reservas de calcário do RN se enquadram nessa opção empresarial futura. A transposição do São Francisco é obra também da mais absoluta prioridade. Será o “pé de apoio” de um Merconorte próspero, atraindo capitais para investimentos e criação de empregos.

    Perguntei ao dr. Eliezer, se ele fosse governador do RN, qual seria a sua prioridade para ingressar firme no Merconorte. Respondeu, dizendo que faria  detalhado estudo dos recursos naturais do Estado. Sobre a nossa economia, chamou a atenção para o aproveitamento industrial das frutas tropicais. Citou como exemplo a soja, que está sendo processada no RGS e dela extraído hormônio. A tonelada do grão de soja custa 230 dólares para exportar. O preço da tonelada do hormônio dela extraído é 30 mil dólares (!!!!). A China compra matéria prima brasileira, beneficia e vende por até 100 vezes o preço. A matéria prima do norte e nordeste terá que ser beneficiada na própria região. A polpa de nossas frutas tropicais poderá ser pasteurizada, adicionados elementos aromáticos e vendida como alimento sofisticado no primeiro mundo. O que não se concebe é hoje a matéria prima ser isenta na exportação; e o produto industrializado taxado.

    O dr. Eliezer é entusiasta das “barcaças oceânicas” como meio de transporte de baixo custo. Cada barcaça leva até 20 mil toneladas e ancora em pequenos portos. O Ceará, através da associação de coreanos e italianos, inicia a construção de sua siderurgica. Comprará ferro em Carajás, beneficiará e venderá para a América Latina e o mundo, usando “barcaças oceânicas”. Para ele, o Ceará poderá ser a maior plataforma industrial do país, em 10 anos. Tudo pela visão estratégica dos seus últimos governantes.

    No RN o dr. Eliezer identifica também como bons negócios a exportação de mel de abelha (todo cuidado é pouco para evitar o fungo mortal que deu na China e na Argentina), hortigranjeiros, o camarão (observar as implicações ambientais) e o criatório de aves como galinha caipira, frango, perdizes, ema e avestruz (aproveita o couro, as penas e a carne com baixo colesterol), todos com elevado preço no exterior. O dr. Eliezer opina que para o RN será melhor aproveitar o seu gás natural (energia, fabricação de aço, petroquímica), do que o petróleo, em razão do elevado investimento numa refinaria.

    A conclusão, altamente positiva da conversa com o dr. Eliezer Batista, foi o seu entusiasmo com o trabalho para identificar “zonas econômicas viáveis” no Norte, Nordeste e países latino-americanos com limites pelo norte do país. Ele, com a experiencia de ter construído Carajás (este projeto gera mais dólares liquidos de lucro para o país do que a Petrobrás), enxerga nesta alternativa a “redenção do Nordeste e  do Norte do Brasil”, além de ser o caminho aberto para a sonhada Comunidade Latino Americana de Nações (CLAN). No Parlatino, perseguirei este objetivo.

    Sobre o “Colecionador de crepúsculos”

    O retrato do Mestre Cascudo na sua intimidade, nas relações familiares e com os amigos está descrito, com perfeição de linguagem, no livro da sua filha Anna Maria Cascudo “O colecionador de crepúsculos”.Muito já se escrevera sobre Cascudo. Faltava esta obra de Anna Maria, a descrição fiel e autêntica de quem acompanhou e assistiu a vocação deste pesquisador da alma popular.

    Anna Maria menciona a vocação do seu pai de “provinciano incurável”. Em suas crônicas, Cascudo revelou certa vez que recebera convites de Getúlio Vargas e Agamenon Magalhães para sair de Natal. Preferiu continuar olhando “as velhas árvores e velhos nomes, imortais na memória”. Em 1946, ele visitou o Uruguai em missão de estudos. Afrânio Peixoto era também membro desta expedição cultural e ao vê-lo comentou com ar de riso: “e ele deixou o Rio Grande do Norte?”. Vicente Serejo com o seu talento literário conciso, resumiu essa característica de Cascudo: “Viveu e morreu na sua aldeia. Genial e humilde. Pobre e feliz”.

    O livro de Anna Maria faz jus a herança que ela recebeu. Mostra com autenticidade a genialidade do seu pai, até nas relações do dia a dia com a família, os amigos e as pessoas. Ao lê-lo, recordei o que disse na sessão solene do Congresso Nacional, em 26 de maio de 1998, quando saudei a memória de Cascudo, também em nome da então Prefeita de Natal, Vilma de Faria: “Cascudo é mais forte do que as circunstâncias, fez-se um marco, um símbolo. Rompeu as barreiras do som, ultrapassando o seu tempo, para ser ele mesmo uma história. É um homem de todos os tempos”.

    Coluna Publicada aos domingos
    nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte



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