Opinião
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01 de Outubro de 2005
O VALE TUDO
O VALE TUDO
O Sr. Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, veio a Natal, na última segunda-feira, como um “xerife” do Governo Federal e da República Bolivariana de Chávez. Aboletou-se em uma cadeira, no salão de despachos do Governo Estadual, desconheceu os argumentos e até a presença da Governadora do Estado, disse o que quis para cumprir a sua nefasta e criminosa missão de retirar do Rio Grande do Norte a única perspectiva concreta e viável de melhoria de vida do nosso povo.
De nada adiantaram as reações pedindo para o Estado ter conhecimento dos estudos técnicos sobre a refinaria nordestina (se é que estes foram realizados!!!). Críticas à interferência da Venezuela em nossos assuntos internos. Esclarecimento técnico de que, no quadro de bóias, já existente em Guamaré, com pequenas ampliações, atracariam navios de até 150.000 toneladas (atualmente já recebe com 125 mil toneladas), ao contrário do que disse o “xerife”. Demonstrar as condições ambientais do Estado, favoráveis com a abundante oferta d’água, malha rodoviária situada em ponto de intercessão geográfica no Nordeste, facilitando a construção e a expansão futura da unidade de refino. Desmanchar o sofisma de que a nova refinaria somente usaria óleo pesado, que não existe no RN, quando se sabe tecnicamente que, neste caso, indica-se o "mix" do óleo pesado (importado) com o leve (produção de Guamaré), reduzindo custos e aumentando a viabilidade econômica da unidade no RN.
SORRISOS DE DEBOCHE
Só valeu a fala imperial e enganadora do emissário do Presidente Lula, entremeada de sorrisos sarcásticos, claro deboche aos presentes. Na última quinta-feira, completou-se a ópera bufa. O Presidente Lula, em solenidade regada a champanhe, e na presença do “companheiro” Chávez, premiou o seu Estado – Pernambuco –, anunciando oficialmente uma obra definitiva, mesmo lá não existindo uma gota de petróleo, e sem as mínimas condições de viabilidade econômica. O nosso RN ficou no “ora veja”, mais uma vez.
Para humilhar o nosso povo, o tal Gabrielli, antes de aqui vir, entendeu-se com o Governo do Ceará e prometeu investir quase R$ 200 milhões para ampliar o gasoduto que levará o gás da bacia potiguar para a Usina Siderúrgica do Ceará, em construção.
Historicamente, este foi o maior crime político, econômico e financeiro, praticado contra o Rio Grande do Norte. Nada igual, até hoje. Não se diga que a culpa é da classe política ou de instituições norte-rio-grandenses. Em absoluto. Todos lutaram. Fizeram o que podiam. A responsabilidade única e exclusiva é do Governo Federal, que fez “ouvido de mercador” aos pontos de vista levantados. Falou em estudo de viabilidade técnica e até hoje nunca mostrou este estudo ao Governo do RN. Ação dolosa, criminosa.
ENGODO E MENTIRA
Em tudo isto, a maior revolta é o engodo, a mentira, deixada no ar pelo Presidente Sérgio Gabrielli, na última segunda-feira. Disse ele que até 2010 aplicaria um bilhão e pouco de reais em obras no terminal de Guamaré, facilitando o nosso pólo químico produzir PVC e outros produtos.
Mentira. Mais uma vez enganação.
A verdade é que o Sr. Sérgio Gabrielli já está comprometido com o novo pólo petroquímico do Rio de Janeiro, com investimento anunciado de R$ 20,7 bilhões. Em recente entrevista, o Sr. Paulo Roberto Costa, diretor de abastecimento da Petrobras, anunciou com entusiasmo que a obra do RJ equivalerá à construção de três refinarias do porte da de Duque de Caxias (que já funciona lá), ou a sete ou oito projetos de grande dimensão para o desenvolvimento da bacia de Campos.
Claro que a prioridade, já declarada, é o Rio de Janeiro, até porque dispõe de refinaria, e estes pólos situam-se, regra geral, ao lado. Se algo for feito no Nordeste, futuramente, será próximo à refinaria de Pernambuco. Guamaré corre o risco de ser desativada e ficar apenas tirando e entregando petróleo e gás para a Petrobras fazer o que queira. Triste destino do nosso povo...
A PRIORIDADE É O RIO DE JANEIRO
O pólo fluminense da Petrobras anula completamente o sonho potiguar de produzir produtos petro-gás-químicos, sobretudo plásticos (polietileno, polipropilenos e outros). Está prevista a construção de uma refinaria petroquímica, que vai processar 150 mil barris diários e produzir diversas matérias-primas para as indústrias petroquímicas, como eteno e propeno. É inverdade, portanto, o anunciado incentivo ao pólo gás-químico no RN, até porque não há investimento, nem demanda, para dois empreendimentos da mesma natureza.
A previsão no pólo do Rio de Janeiro é gerar 75 mil empregos, diretos e indiretos, alavancando a economia fluminense como nunca se viu, inclusive pela natural atração de empresas prestadoras de serviços e fornecedoras de materiais de equipamentos.
Este é o quadro caótico do Rio Grande do Norte em relação à sua maior riqueza natural (petróleo e gás). Deus fez a sua parte. Deu-nos o “ouro negro”. O Governo Federal anulou essa vantagem divina.
O que fazer, agora? Unir todos. Agir na área ambiental, como já faz o Governo Estadual, mostrando à Petrobras que existimos na federação brasileira. Se até agora valeu tudo (até o engodo de homenagear Abreu e Lima, um herói bolivariano), deve valer tudo também em relação ao futuro, para segurarmos o quanto pudermos as nossas reservas de petróleo e gás. Deixá-las, se for o caso, enterradas no subsolo, através de restrições ambientais previstas em lei estadual. Tudo como na trova carnavalesca: “daqui não saio; daqui ninguém me tira”.
Esperemos que, um dia, mude este Governo, o nosso algoz. E que o nosso povo tenha afinal, reconhecido o direito de viver melhor.
Coluna Publicada aos domingos
nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
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