Opinião
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16 de Julho de 2005
AS MANHÃS DO ALECRIM
AS MANHÃS DO ALECRIM
Li, no último domingo, no avião de volta a Brasília, a crônica do notável escritor e jornalista Sanderson Negreiros sobre as manhãs do Alecrim. Confesso que me emocionei. Recordei fatos vividos há tantos anos. Justamente na época em que muitos sonhos vicejavam na mente de um jovem cheio de fé e confiança em um futuro que parecia custar a chegar.
A linguagem escorreita, límpida, sensível, lembrou as minhas "manhãs adolescentes" no Alecrim. Era nessas manhãs que acordava aos domingos, às quatro da matina, para ir a pé, em companhia dos meus pais, assistir à missa na Igreja de São Pedro. Lá estava o que Sanderson chamou de "multidão de personagens", a maioria composta de congregados marianos, filhos de Maria, fiéis. Como lia e viajava num avião, foi fácil revê-los na altura da “luminescência dos vitrais da manhã".
Sanderson me fez recordar nitidamente a figura do padre Martinho. Falando aquele sotaque polaco, gestos largos, voz aguda, estilo Bento XVI - preso aos dogmas e à doutrina católica. Ele chegava à Igreja antes do início da missa – 4h15 - e sempre estava na porta, cumprimentando a todos. Após a missa, convidava alguns fiéis para o café da manhã na casa paroquial, ao lado. Frustrava-me nunca ser convidado.
O que mais me tocou foi a descrição do Cemitério do Alecrim, onde jazem tantos entes queridos. Em 1959, perdi o primeiro familiar próximo. Lá deixei a minha avó Idalina, suave, santa, abnegada. Em 1980, a figura humana e humilde do meu pai, Josias. De lá para cá, outros tantos familiares e amigos. Sanderson definiu bem o Cemitério do Alecrim, como um lugar onde "os epitáfios esplendem ao sol de verões penitentes e invernos dourados pela lembrança".
"Ó manhãs do Alecrim", trazendo consigo a imagem da avenida um e seus personagens; do posto do SAPS (onde entrava em filas intermináveis para comprar o pão mais barato); das figuras respeitadas do "seu" Álvaro Navarro, Celso Dutra e Wober Pinheiro, donos de farmácia, que amenizavam a dor dos seus clientes, com receitas prontas e eficazes; do “seu” Chiquinho, “seu” Artur e “seu” Juvenal Faria, todos fazendo as vezes dos supermercados de hoje, com varejo e atacado “sortidos”; dos cinemas São Luiz e São Pedro semeando a fantasia fugaz de romances (Casa Blanca; E o Vento Levou), duelos (seriados de caubóis: Rod Cameron e outros) e épicos inesquecíveis (Quovadis).
"Ó manhãs" que não voltam mais, quando me sentava em um tamborete, ao lado do meu pai, na sua Alfaiataria Globo, pregando botões, alinhavando provas de paletós e começando a despertar para a vida e para o trabalho.
Manhãs de saudade, de recordação, mas, sobretudo, de agradecimento a Deus por tê-las vivido em um passado já tão distante e elas continuarem vivas na memória e no coração.
Hoje, vejo as manhãs do Alecrim desertas. Até a praça Gentil Ferreira, onde o sol tinha um brilho especial, está abandonada. Sinto, porém, alívio de consciência por já ter tentado mudar tudo isto. Mas não fui compreendido...
O Alecrim, como disse Sanderson, “transcende o cheiro silvestre” da planta que lhe deu o nome. Sem este pedaço de chão, Natal certamente seria menor.
ACONTECE
Política & estilo – Os encontros regionais do PFL no interior do Estado propagam o estilo de fazer política com debate de problemas sociais e econômicos e apontam soluções. Assim foi em Currais Novos e neste final de semana em Pau dos Ferros, onde a ex-prefeita Rosalba Ciarlini falou acerca da sua administração em Mossoró. Abordei a obra legislativa que construí no Congresso Nacional, ao longo de seis mandatos de deputado federal, e a luta atual pela ferrovia transnordestina.
O poder da Ministra – Recebi, terça-feira última, no Parlatino, em SP, a Sra. Benita Ferrero, Ministra de Coordenação Geral das Relações Exteriores, na União Européia e Parlamento Europeu. Uma mulher de imenso poder no mundo atual. Coordena orçamento superior a 50 bilhões de euros para ajudas internacionais a países, estados, municípios e ONG’s. Conheci a sra. Ferrero há anos, participando de encontros do Parlatino com o Parlamento Europeu.
Acordo com o PARLATINO – Casada com espanhol, a Ministra Ferrero se diz “enamorada da América Latina”. Isto facilita a negociação de um grande acordo com o Parlatino para a formação de quadros de pessoal – parlamentares e funcionários – em função da estabilidade democrática, governabilidade e funcionamento de Partidos Políticos. Abrangerá do Senador ao vereador e incluirá rede de informática parlamentar para a América Latina com doação de computadores, cursos, treinamento etc.
Europa & RN – Convidei a Ministra Ferrero para visitar Natal e Mossoró na próxima vinda ao Brasil. Ela aceitou e disse que tinha informações do Nordeste apenas sobre Salvador, Fortaleza e Recife. Através da Comissão de Meio Ambiente e Turismo do PARLATINO, propus a ela cooperação com cidades turísticas nordestinas. Ela admitiu nas áreas do turismo ecológico e histórico. Informei-lhe que o RN já recebe grandes fluxos de europeus.
Universidade – O projeto de transformação da Escola Superior de Agronomia de Mossoró (ESAM) em Universidade Federal do Semi-Árido (Ufersa) foi aprovado, na última quarta-feira, pelo Senado Federal. Com a aprovação, a ESAM deixa de ser instituição de ensino superior pública federal isolada, passando a ser universidade especializada. Uma vitória dos mossoroenses e de nossa bancada federal, que se empenhou nessa luta!
Seca – Os municípios do Rio Grande do Norte que estão tendo problemas em função das irregularidades das chuvas terão que preparar planos de contingência e comunicar ao Governo do Estado as suas necessidades. O Governo Federal promete rigor na cobrança de informações sobre os prejuízos para, só então, liberar os recursos.
VOCÊ SABIA?Aposentados – Quem requereu aposentadoria, ou pensão em dezembro de 1998 e em dezembro de 2003 tem direito ao reajustamento de proventos, em razão do aumento do valor máximo dos benefícios, decorrente das Emendas Constitucionais 20/98 e 41/03. O INSS ao processar os requerimentos não levou em conta os novos valores do teto. Os cálculos apontam que para os benefícios concedidos em 12/1998 a diferença pode chegar a R$ 118,50 com cerca de R$ 8 mil de atrasados. Para os aposentados em 12/2003 chegaria a R$ 530,00 com atrasados na ordem de R$ 10 mil. O Ministério da Previdência estima que mais de 10 mil segurados aposentados em 1998 e quase 6 mil em 2003 têm direito a esse pagamento de atrasados. Também os que se aposentaram proporcionalmente ao tempo de contribuição sofreram redução de proventos.
Publicado em 17.07.2005 nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE.
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