Marca Maxmeio

Opinião

  • 06 de Maio de 2006

    VOTAR EM “MENSALEIROS”

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             No meu gabinete, em Brasília, recebi um conterrâneo. Anunciou que tinha assunto muito importante. Sentou-se e disse: “estou em Brasília, deputado, e queria que o senhor me ajudasse”. Perguntei-lhe o que desejava. Respondeu: “preciso de dinheiro. Em uma cidade como esta ninguém sobrevive liso”. Curioso, indaguei-lhe: “e por que o senhor veio a Brasília?”. A resposta foi pronta: “porque queria conhecer esta cidade e o senhor, em quem votei, tem a obrigação de me ajudar com dinheiro. Voto é difícil e caro, deputado”.

                Fitei aquele cidadão e argumentei, em detalhes, qual deve ser a verdadeira missão do parlamentar. Exemplifiquei que o deputado é como um advogado, que fala pelo seu cliente. Faz leis, grita, reivindica. Porém, não tem orçamento ao seu dispor. Expliquei-lhe o salário do parlamentar, os descontos, o valor efetivamente recebido, as verbas, passagens, funcionários contratados para ajudar no desempenho do mandato. Salvo o salário, as demais parcelas não significam dinheiro em espécie, no bolso. Enfim, deixei tudo claro. Por fim, falei sobre a ilegalidade das doações em dinheiro em época eleitoral.

                De nada adiantou. Levantou-se e, ao sair, foi enfático: “se todos me disserem a mesma coisa que o senhor disse, o melhor será anular o voto”.

                Preocupou-me aquele quadro. Nunca perdi a chama do idealismo na política. Convicto, acredito que o voto deveria ser livre. Decisão pessoal. Que seja levado em consideração o trabalho realizado, a capacidade do escolhido, a experiência, as idéias, as propostas.

                De toda lama que corre na política brasileira é impossível negar a responsabilidade do eleitor em tudo isto. Não há efeito sem causa. Todos que têm mandato conseguiram-no pelo voto supostamente livre. Não houve nomeações.

                O protesto (por mais justo que seja) de votar em branco é “um tiro no pé da democracia”. Piora a situação. Agrava o quadro político hoje já tão confuso. Tudo porque a lei eleitoral prevê que os deputados, para serem eleitos, atinjam um quociente. A Justiça Eleitoral divide o número de votos válidos (excluídos nulos e brancos) pelo número de vagas a preencher, desprezada a fração. A isto se chama quociente eleitoral. E para se saber quantos deputados têm cada partido ou coligação é dividido o número de votos válidos dados sob a mesma legenda. Denomina-se quociente partidário.

                Ora, se o eleitor opta pelo voto em branco estará beneficiando aqueles que “compraram o mandato” e por isto recebem com segurança os “votos válidos” de quem lhes vendeu. O voto nulo não é computado para o quociente eleitoral ou eleitoral. O voto em branco serve, apenas, para destruir a democracia e piorar as instituições, pela omissão de quem deixa de escolher livremente o melhor candidato.

                Voto proporcional nulo é coisa séria. Tão séria que o cidadão deve estar consciente de que assim agindo estará apoiando, indiretamente, os potenciais “mensaleiros” do futuro. Ou o eleitor assume o seu papel de votar consciente, ou o Brasil não terá jeito....    

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                Faleceu a poetisa e escritora Maria Eugênia Maceira Montenegro. Era conhecida como Dona Gena.

    Mineira de Lavras, filha de portugueses, casou-se em 1939 com o potiguar Nelson Borges Montenegro, político e fazendeiro. O casal morou, inicialmente, na Fazenda Itu, em Ipanguaçu. Depois, instalou-se na cidade do Açu.

                Conheço bem a terra açuense e me orgulho das raízes paternas que lá tenho. Recordo momentos felizes da minha infância e juventude, em contato com amigos do meu pai, da minha avó e familiares. O traço marcante daquela gente sempre foi o amor às letras. Chama-se a “terra dos intelectuais”.

                Dona Gena foi uma autêntica açuense. Afirmava que “se continuasse morando em Lavras não seria poeta. O ambiente para a poesia, encontrei-o no Açu”.

                Mantive contato com a Sra. Maria Eugênia, pessoal e por carta, até a sua morte. Figura humana inteligente e solidária. Ofereceu-me, com dedicatória carinhosa, o seu livro de contos “Todas as Marias”. Com estilo leve, transmite amor e sensibilidade a cada frase escrita.

                Quando era Secretário de Governo de Cortez Pereira, em 1962, participei das eleições municipais. Com alegria, relembro a presença dela no palanque, como candidata vitoriosa à Prefeita de Ipanguaçu. Deixou a sua presença administrativa no município com incentivo total à cultura. Promoveu o teatro infantil e recitais poéticos nas escolas.

                A poetisa Maria Eugênia Montenegro ingressou na Academia Norte-rio-grandense de Letras em 1972, a convite de Veríssimo de Melo, que, ao saudá-la, resumiu o seu perfil de mulher esposa, intelectual e mãe: “Maria Eugênia, pelo seu gênio dócil e virtudes de inteligência, adaptou-se tranqüilamente à nova vida, passando a ser colaboradora eficiente e ativa do marido nos serviços assistenciais. Nos seus instantes de lazer, estudava, lia, fazia música, pintava e preparava os livros que, mais tarde, credenciariam-na ao ingresso em nossa instituição”.

                O Brasil perde uma poetisa e escritora do melhor nível. No Açu ficará a lacuna da sua ausência, marcada pelos traços arquitetônicos do tradicional casarão da praça da Igreja de São João Batista, que lhe abrigou até o último suspiro, construído no estilo arquitetônico das vilas portuguesas do século XVIII, com grandes espaços, janelas sempre abertas e portas largas para acolher os visitantes.

                 Que Deus a receba na eternidade e lhe conceda o espaço para continuar a transmitir espiritualmente as lições de amor e humanismo, que marcaram a sua existência entre nós.

    Publicado em 07.05.2006 nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE.


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