Opinião
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26 de Fevereiro de 2012
A semelhança do liberalismo e do socialismo
No mundo inteiro são reconhecidas as aproximações de princípios das doutrinas do liberalismo social e o socialismo democrático. No Brasil, se procura separar com apelidos de “esquerda” e “direita”, o que demonstra primarismo e sectarismo. Nos Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, os liberais são chamados de esquerdistas e revolucionários, por defenderem mudanças sócio-econômicas.
Vi recentemente na TV uma entrevista com Zygmunt Bauman, polonês, radicado na Inglaterra desde 1971, sociólogo de renome internacional, voltado para "traduzir o mundo em textos". Ele é considerado pela crítica um dos poucos intelectuais contemporâneos "nos quais ainda se encontram idéias".
Bauman foge de abstrações e analisa o mundo como ele é. Impressionou-me – por coincidir com o que sempre defendi – a semelhança doutrinária que ele defende entre o socialismo e o liberalismo.
Sobre o socialismo afirmou que “é uma dor aguda e constante de consciência que nos impulsiona a corrigir ou a remover variedades sucessivas de injustiça. Não acredito na "sociedade perfeita", mas acredito numa "boa sociedade", definida como aquela que está fazendo o suficiente para se tornar melhor...”
Referindo-se ao liberalismo, Bauman lembrou um dos fundadores dessa doutrina moderna, John Stuart Mill e observou que ele “também chegou ao socialismo, por acreditar que para implementar o programa liberal, o programa da liberdade humana, é necessário uma distribuição justa de oportunidades, diminuindo-se a distância entre os membros mais ricos e os mais pobres da sociedade. E, se nos lembrarmos de Lord Beveridge, o criador do Estado de bem-estar social britânico, o caso é o mesmo.
“Durante a guerra, o governo da Grã-Bretanha criou uma comissão para organizar um programa de bem-estar social (do qual Beveridge era diretor), prevendo que com o fim do conflito haveria milhões de desempregados que não mais aceitariam a sina dos oprimidos. Beveridge preparou então todo um programa que foi pouco a pouco aceito pelo governo após a guerra. Ora, ele não era um socialista e não se definiu jamais como tal. Dizia que era um liberal e que o que estava propondo era, na verdade, a implantação definitiva do programa liberal, porque, se o liberalismo quer que todos sejam seres autônomos e autoconfiantes, então para ser livre é necessário que se tenha recursos, que haja um chão firme no qual se apoiar.
A idéia de Lord Beveridge, que infelizmente não se impôs, era que toda essa assistência social, esse bem-estar social, toda essa provisão eram necessários como medidas temporárias. E isso porque ele partia do pressuposto de que, para ter a coragem, a ousadia de ser aventurosas e se arriscar, as pessoas precisam se sentir seguras — e segurança elas não podem obter por si próprias, mas deve ser oferecida e garantida pelo estado. Se as pessoas se arriscam sozinhas, correm o perigo de ser abatidas por um grande fracasso, uma tragédia, uma crueldade ou coisa semelhante. Deve haver, portanto, essa garantia do Estado. Bauman considera o melhor na história do liberalismo e o melhor na história do socialismo. “Eles sempre convergem. Há sempre essa conexão entre os dois. Tudo se reduz à questão muito simples, de que existem dois valores igualmente indispensáveis para uma vida humana decente e digna: liberdade e segurança. Não se pode ter um sem que se tenha o outro. Qualquer que seja a perspectiva da qual se parta, chega-se sempre à mesma questão, de que, ou liberdade e segurança são obtidas juntas, ou não serão obtidas de modo algum. Esse é o ponto de encontro entre o socialismo e liberalismo”.
Para defender mudanças, que corrijam as injustiças e as desigualdades, não é necessário ser chamado de “esquerda”. As idéias não têm rótulos. Elas têm conteúdo. E o liberalismo social é tão avançado e revolucionário, quanto os verdadeiros socialistas democráticos, que preservam a liberdade humana. A diferença existiria apenas em relação a outras doutrinas totalitárias.
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www.blogdoneylopes.com.brNey Lopes – Jornalista; advogado, professor
de direito constitucional e ex-deputado federal.Publicado aos domingos nos jornais
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