Opinião

• 18 de Dezembro de 2011

  A vitória do Monsenhor Assis em Roma

  

   

  Morreu o Monsenhor Francisco de Assis Pereira, o postulador da causa para a beatificação perante o Vaticano, dos mártires de Uruaçu e Cunhaú. Ele já trabalhava no pedido de canonização. Monsenhor Assis era um amigo da família. Trabalhamos juntos como professores no Instituto de Ciências Humanas da UFRN. Ele ensinava “metodologia da ciência”; eu “Sociologia” e Abigail “Psicologia educacional”. Um sacerdote virtuoso.

  Recordo monsenhor Assis, no dia 5 de maio de 2000, na praça de São Pedro em Roma, quando o Papa João Paulo II oficializou a beatificação dos nossos mártires. A emoção tomou conta de todos, ao aparecerem os cinco painéis dos beatificados naquele dia, em frente à imponente Basílica de São Pedro, com a escultura dos apóstolos no frontispício, as pinturas renascentistas na nave central e as criptas subterrâneas onde jazem os papas. Via-se ao centro, a tela assinada pelo pintor potiguar Gilvan Lira, tendo a direita, os bem aventurados da Bielo Russia e Vietnã e a esquerda os da Tailândia e Filipinas. Outros mártires de várias partes do mundo foram beatificados na ocasião. Mas o nosso sentimento particularizava aqueles norte-rio-grandenses de  Cunhaú e Uruaçu, que pela fé e crença em Deus morreram vítimas da intolerância e do ódio. Tremulavam as bandeiras verdes e amarela agitadas na praça. Os brasileiros cantavam  “João de Deus”. O Papa entoou parte da letra da música, que imortalizou a sua visita ao Rio de Janeiro. Participei oficialmente da solenidade como representante do Parlamento Latino-Americano (PARLATINO). Do Rio Grande do Norte estava também o então senador e ministro Fernando Bezerra, que representou o presidente da República do Brasil.

  Nada foi igual ao momento em que fiquei genuflexo, com Abigail, em baixo do toldo pontifício, diante do Papa do mundo João Paulo II, do Papa de todos os credos, raças e classes. Tive a sensação de que acabara de receber a benção de um Santo. Para eternizar aquele instante, mandei confeccionar declaração em pergaminho,  escrita com letras manuais e certificação Papal.

  O imponente cenário da solenidade destacava a guarda Suíça do Vaticano nos quatros cantos da praça, com o seu tradicional uniforme desenhado por Miguel Angelo, de cores vermelha, azul e amarela. Os sacerdotes, participantes da concelebração, usavam casulas verdes sobre as alvas brancas e as estolas, simbolizando no calendário católico a festa da esperança, comemorada naquele dia. A liturgia foi belíssima.

  O monsenhor Assis levou anos de intenso trabalho em favor da beatificação. Confessou-me, logo após o ato religioso, que as lágrimas lhe vieram aos olhos, no momento em que o Papa João Paulo II oficialmente em sua homilia afirmou, que os nossos mártires eram os protomártires do Brasil. Isto significava dizer, que os mártires de Uruaçu e Cunhaú passaram a ser os primeiros da história do nosso país. Monsenhor Assis enfrentou contestações internas, como por exemplo, do Rio Grande do Sul, que defendia a existência de mártires brasileiros, antes de 1645. Porém, o Papa acabou a polêmica com a referencia feita em sua homilia. O dia 3 de outubro foi incluído no calendário da Igreja como o “dia dos protomártires brasileiros”, todos eles do RN.

  Um momento inesquecível foi a audiência concedida pelo Papa João Paulo II aos peregrinos potiguares. Sua Santidade revelava sinais da saúde debilitada. A curvatura na coluna levava-o a apoiar-se no bastão, que tinha acima o símbolo da  crucificação de Cristo. Simpático, irradiava fé e otimismo.

  Agradeço a Deus a oportunidade de ter assistido e participado da histórica e inesquecível liturgia do Vaticano, no ano 2000. Jamais esquecerei o nosso querido Rio Grande do Norte exaltado na Praça de São Pedro, em Roma. O grande vitorioso foi monsenhor Francisco de Assis Pereira, que morreu humildemente em Natal. Que Deus o receba na Eternidade para dar-lhe as honras que ele merecia em vida e lhes foram negadas pelos homens.

  Leia também "o blog do Ney Lopes":
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  Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
  de direito constitucional e ex-deputado federal.

  Publicado aos domingos nos jornais
  DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
  Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte

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