Opinião
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14 de Agosto de 2011
A busca da luz no final do túnel
O mundo todo fala na crise econômica. Muita gente pensa que a corda estica, mas não rompe. Recorrem até ao tradicional “jeitinho brasileiro”. Não é bem assim. No século XXI crise é pra valer. Na Espanha, o governo cortou até a compra de remédios no SUS de lá. Por isto, há protestos contra os gastos de U$ 60 milhões de euros para a visita do Papa ao país nesta próxima semana. Cem padres se uniram ao povo para protestar, afirmando não faz sentido ter esse gasto em um país onde 47% dos jovens estão desempregados.
Será se a Copa do Mundo de 2014 fosse na Espanha, a população aceitaria a cascata de gasto público exigido pela FIFA para sediar o evento? Ou, diante do fato consumado, convocaria a Fifa para uma reflexão? A propósito, a imprensa registra que a Presidente Dilma está endurecendo nas negociações com a FIFA. A entidade tem feito pedidos considerados “absurdos” pela equipe do governo. A chefe da nação está decidida a não deixar que a FIFA imponha condições exageradas, como fez à África do Sul e o país está em sérias dificuldades econômicas.
Na verdade, a crise econômica global, iniciada em 2008, parece ter vindo para ficar. Se é assim, muitos comportamentos dos governos terão que ser revistos. O “cinto apertado” exige novos modelos de gestão. Isto significa a prioridade de aplicar bem o dinheiro escasso, sob pena de carências econvulsões sociais permanentes.
O jornal Zero Hora publicou uma “continha” comparativa entre o investimento feito em uma ponte na China e outra em Porto Alegre. O governo da China inaugurou a ponte da baía de Jiaodhou, que liga o porto de Qingdao à ilha de Huangdao. Construído em quatro anos, o colosso tem 42 quilômetros de extensão e custou R$2,4 bilhões. O DNIT do nosso Ministério dos Transportes aprovou o projeto da nova ponte do Guaíba, em Ponte Alegre. O Ministério dos Transportes estima que a ponte fique pronta em o quatro anos. Com 2,9 quilômetros de extensão, vai engolir R$ 1,16 bilhão.
O matemático gaúcho Gilberto Flach resolveu estabelecer algumas comparações. Os números concluem que, se o Guaíba ficasse na China, a obra seria concluída em 102 dias, ao preço de R$ 170 milhões. Se a baía de Jiadhou ficasse no Brasil, a ponte não teria prazo para terminar e seria calculada em trilhões.
A escassez e a má aplicação do dinheiro faz com que do Palácio do Planalto ao menor município do país haja o risco de colapso nas finanças públicas. Os gestores devem abrir o olho. O Brasil é uma das economias que mais dependem do resto do mundo. O nosso mercado interno não sustenta impactos profundos. Veja-se a violenta queda da Bovespa nesta última semana. Por que? Pela razão de que a bolsa brasileira vive de empresas ligadas às commodities, principalmente agrícolas, que garantem o nosso superavit comercial. A Vale e Petrobrás representam 30% da economia nacional. Quando cai o preço lá fora, o reflexo aqui é imediato. O fenômeno acontece em relação ao petróleo, que caiu 16% em um mês. É o contrário da China, onde há espantoso volume de poupança interna, que aquece o mercado consumidor, na hora de recessão mundial.
Graças a Deus, o perigo da crise nos atingir em 2011 é menor do que em 2008. Naquela época, a quebradeira dos bancos americanos e europeus afetou as empresas nacionais que tinham muitas operações de mercado futuro de câmbio. Agora, o governo já desestimulou as chamadas operações de derivativos (hedges), com a taxação de 25%, para reduzir as aplicações com base na aposta especulativa de redução do dólar futuro frente ao real.
Nesse intrincado labirinto de idas e vindas nas Bolsas, o Brasil busca a luz no final do túnel. Deverá usar óculos com lentes de largo alcance para enxergar o melhor caminho de superação do perigo que nos rodeia
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- Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
de direito constitucional e ex-deputado federal.
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