Marca Maxmeio

Opinião

  • 26 de Junho de 2011

    Uma dor que não passa

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    Não consigo esquecer uma reunião realizada no dia 12 de maio de 2005, no gabinete do então ministro da Integração Regional, Ciro Gomes. Lá estavam a governadora do Estado, toda a bancada federal (deputados e senadores) e representações da sociedade civil. Participei como deputado federal. O governo decidira iniciar a ferrovia transnordestina, com 1.728 quilômetros de extensão. A finalidade seria promover um longo ciclo de desenvolvimento para o nordeste, com elevação da competitividade agrícola e mineral da região, através de moderna logística que unisse uma ferrovia de alto desempenho a portos de calado profundo, que podem receber navios de maior porte. A ferrovia abrangeria a ligação entre os portos de Pecém (Ceará) e Suape (Pernambuco), ao cerrado do Piauí, no município de Eliseu Martins.

    Pode-se admitir em sã consciência que do Piauí a Pernambuco, o Rio Grande do Norte fosse o único estado excluído? Claro que não. Protestei veementemente na frente do Ministro Ciro Gomes, cujo temperamento é conhecido. Ele reagiu “de cara amarrada” e disse com todas as letras, que o RN não faria parte da ferrovia transnordestina. Silêncio sepulcral! Tive vontade de retirar-me do gabinete. Não o fiz para não constranger os presentes.  Nem as entidades de classe se pronunciaram. Fui para a tribuna da Câmara dos Deputados (está nos Anais) e protestei com veemência. Tenho livros publicados com os pronunciamentos feitos. Pedi a transcrição na Câmara de um estudo técnico do respeitável professor Marcos Caldas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, demonstrando a viabilidade econômica da inclusão do RN no trajeto da ferrovia, não apenas o ramal Mossoró/Paraíba, que seria insuficiente, mas incluindo as regiões do Vale do Açu. Macau e o “grande Natal” para dá suporte ao nosso Porto e a futura área de livre comércio. No final de tudo, prevaleceu o parecer de uma empresa privada, a Transnordestina Logística SA – concessionária da futura ferrovia Transnordestina desde 1997 -, cujo acionista majoritário é o Sr. Benjamin Steinbruch, proprietário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Por incrível que pareça, porta vozes do presidente Lula justificaram a impossibilidade da inclusão do RN, por tratar-se de uma decisão “privada”, de que o nosso estado daria prejuízo. Imaginem só! Posição idêntica a de "lobistas", a favor de interesses contrários ao interesse público.

    Que autoridade teria uma empresa privada – pendurada no galho "amigo" do governo – para negar ao povo do Rio Grande do Norte o direito de crescer e de prosperar, sob o falso argumento de que aqui não teria lucro? O governo federal fez "vista grossa" e puniu duas vezes, de forma injusta, um estado tipicamente nordestino, que tem mais de 90% do seu território no semi-árido, desrespeitando justificativas técnicas e privando-o do desenvolvimento. O Presidente Lula ignorou o Rio Grande do Norte, o maior produtor de petróleo em terra do país, e levou refinarias de petróleo para o Ceará, Maranhão e Pernambuco.  Antes, já nos houvera excluído dos trilhos redentores da ferrovia transnordestina. Aconteceram todos esses fatos e nas eleições de 2006 venceram todos aqueles que “silenciaram” e não defenderam o Estado. Dá pra entender? Depois, o povo ainda reclama. Reclamar de que, ou de quem, senão de si próprio?

    Li constrangido que a ferrovia transnordestina está a pleno vapor. Receberá mais de R$ 400 milhões, oriundos do Finor – Fundo de Investimentos do Nordeste, até o fim deste mês.  A enxurrada de dinheiro será para “ajudar” uma empresa particular – a Transnordestina Logística SA. Privatização nessa lógica é incompreensível. O governo financia com juros subsidiados, e no final o lucro é da empresa. Enquanto isto, perdemos  a valorização das terars do semi-árido, a reorganização da nossa produção agrícola, geração de impostos e a participação em mais de 500 mil empregos, atração de novos empreendimentos e o estímulo ao projeto do biodiesesl.

    Confesso ao leitor que assistir tudo isto, sem nada poder fazer, é uma dor que não passa! Pobre Estado. Choro por ti!

    Leia também "o blog do Ney Lopes": 
    www.blogdoneylopes.com.br

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    • Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
      de direito constitucional e ex-deputado federal.
    Publicado aos domingos nos jornais
    DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte


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