Marca Maxmeio

De Olho Aberto

  • 05 de Julho de 2008

    Esperar prá ver!

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    Definiram-se as candidaturas municipais para 2008.

    O juiz apita e começa o jogo.

    Um jogo muito difícil de conhecer os jogadores. Ninguém é de ninguém e todos são iguais. As cores das equipes se confundem. As bandeiras também.

    Quem é do Vasco da Gama, por exemplo, faz gol contra o seu próprio time. Deixa espaço para o jogador do outro lado entrar e fazer o seu gol.

    O público – o eleitorado – fica de boca aberta. Nunca viu isto. Não sabe se deve se alegrar ou chorar na hora de uma boa jogada, ou do gol.

    Os torcedores perguntam entre si: “será que este gol é a vitória do meu time, ou é a vitória do time adversário”. Se todos são iguais, torna-se impossível responder.

    Francamente, nunca vi isto no Rio Grande do Norte.

    Desejo por todos os meios possíveis deixar clara a minha revolta e indignação com tudo isto que vem acontecendo.

    Protesto com veemência!

    O quadro se chama incoerência inexplicável. Um dia haverá resposta nas urnas. Não sei quando. Mas haverá! Afinal, quem torce pelo ABC não aceita ser chamado de “americano”.

    Será que o povo irá separar o joio do trigo em outubro próximo? Ou será que a “grande lição” das urnas contra tais comportamentos ocorrerá em 2010?

    Um dia haverá a resposta do povo do Rio Grande do Norte. Se tal resposta popular já ocorreu em outros Estados, por que aqui seria eternamente uma exceção?

    Entrei na vida pública com 21 anos de idade. Era estudante de Direito. Ajudei a fundar no RN o MDB (hoje PMDB).

    Venho de longe. De muito longe.

    Não me abriguei no guarda chuva do governo. Comecei contra a Revolução de 1964. Na trincheira de luta em favor da democracia, no ano de 1966.

    Já testemunhei vários episódios em nossa vida pública, mas nunca vi tantos “conchavos” e “vulgaridade” política como está acontecendo atualmente no Estado.

     Tenho, aliás, muita coisa escrita (e não divulgada).

    Recordo dois fatos de profundo conteúdo ético-político, que se contrapõem a farra de oportunismo atual. Um, de amizade e respeito a compromisso assumido, e outro, de coragem cívica.

    Raimundo Soares, prefeito de Mossoró em 1965, intelectual, grande orador, foi convidado por Aluízio Alves, então governador do Estado, sem a imposição de nenhuma condição prévia, para candidatar-se ao Governo do Estado. Raimundo resistiu e não aceitou, por ter compromisso com Vingt Rosado, candidato a vice-governador em composição com Dinarte Mariz.

    Odilon Ribeiro Coutinho, deputado federal, de família rica na Paraíba, preferiu liderar oposição à revolução de 64 no RN. Fundou no Estado, em 1966, o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) para apoiar Ulysses Guimarães à Presidência da República.

    A maioria dos “progressistas de hoje no RN” abrigava-se na ARENA, partido do Governo.

    Ajudei Odilon a fundar o MDB e aceitei ser candidato a deputado federal por esta legenda (não me elegi por pouco). Época dura do regime militar. O combate ao autoritarismo era feito em comícios com as baionetas nas ruas. Estive na Delegacia de Ordem Política e Social três vezes, denunciado por personagens locais ainda vivos.

    Como repórter colhi, certa vez, declaração de Raimundo Soares. Ele me disse numa entrevista: “não desejo passar à história como traidor de um amigo”. Caso tivesse aceito o convite de Aluízio, seria eleito governador do RN com folga. Preferiu a ética de manter a palavra empenhada, a única forma de gerar confiança recíproca, segurança e entusiasmo nas relações políticas.

    Gesto de dignidade e compostura. Merece aplausos póstumos.

    Odilon, com a sua inteligência fulgurante admitia que as pessoas evoluíssem com o tempo e até mudassem idéias e conceitos sócio-políticos. Ele não compreendia era a ausência de coragem cívica quando estivessem em risco os princípios fundamentais de liberdade humana, democracia e solidariedade coletiva. Por isto, resistiu em 1966. Estive ao lado dele contra tudo e contra todos. Fui perseguindo pela Revolução e o Governo Estadual pós eleição.

    Imagino como, no momento, está atordoada a cabeça do cidadão norteriograndense, que não conhece essas manobras eleitoreiras que se fazem à luz do meio dia. Em passado recente, esse mesmo cidadão acreditou em pessoas que pregavam mudanças e eram combatidas por outras. Hoje se misturam e se aliam, sem o menor limite ético.

    Numa cidade estão juntos. Noutra separados.

    Incrível!

    Na “Divina Comédia”, Dante Alighieri criou um personagem chamado Bonturo Dati, conhecido pela sua incoerência e oportunismo. Na obra clássica, o demônio afirma que todos são trapaceiros, mas por ironia exclui Bonturo.

     A característica de Bonturo era distribuir favores e vantagens com quem o apoiava e negar tudo àqueles que não lhe prestassem reverências. Em um dos cânticos da “Divina Comédia” há o conselho: “deixai toda esperança, vós que entrais”.

    A política atual do Rio Grande do Norte está muito próxima da imaginação de Dante Alighieri. A única alternativa é deixar a esperança de lado.

    Tudo gira em torno de vantagens, favores, influência notória do poder político, uso da máquina e, sobretudo, muita incoerência. Ninguém sabe quem é quem. Vulgarizou-se a composição e o entendimento político. Os contrários se unem, desde que haja perspectiva de vantagem próxima e a mais imediata possível.

    A única preocupação é preparar 2010.O mais curioso é que ninguém fala, nem protesta. Faz-se tudo isto em nome da paz.

    No debate eleitoral já iniciado, não há uma só proposta ou idéia que dê segurança ao futuro de todos. Por exemplo: a área de livre comércio, ao lado do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, seria uma das formas do Estado recuperar-se de tantas derrotas sucessivas que vem sofrendo.

    O RN perdeu ultimamente a refinaria, perdeu a ferrovia transnordestina, perdeu a transposição no Vale do Apodi e agora vê o Estado de Roraima ganhar uma área de livre comércio e o Estado fica “a ver navios”, sendo a maior fronteira aérea e marítima da América Latina. Essa derrota tirou-nos cerca de 50 mil empregos e oportunidades. E o mais grave: todos em silêncio, calados e submissos a conveniências eleitorais.

    Por que – ao contrário de Roraima – o RN descartou a sua área de livre comércio (ALC), que geraria milhares de empregos e optou por uma ZPE antiga e inviável, criada desde 1988, que nunca funcionou e nem funcionará?

    A resposta a tanto descaso e omissão está no interesse político dos grupos tradicionais em manter o atual e vergonhoso quadro de incoerência e contradições, onde não se sabe “quem é quem”. O palanque numa cidade abriga os adversários de outra próxima ou vizinha.

    Logicamente, na hora em que o jovem conseguisse emprego numa ALC, a base do seu talento e habilidades pessoais, desapareceriam as nocivas “influências”, o “cabresto” do voto e a desfaçatez das uniões espúrias.

    Tal independência do eleitor no futuro não interessa aos que manipulam a política local.

    O que está valendo atualmente é exclusivamente sobreviver politicamente, com a moeda da incoerência.

    Fala-se que o presidente Lula, para ajudar a eleição dos seus correligionários, irá anunciar uma refinaria para o RN. Se o fizer estará enganando ao nosso povo.

    Quem terá refinarias de petróleo destinadas à exportação serão o Maranhão (600 mil barris), Ceará (300 mil barris) e Pernambuco (800 mil barris). O RN poderá ter uma pequena unidade de refino em Guamaré de 15 mil barris (cinqüenta vezes menor) apenas para consumo local. Essa unidade já é prometida há mais de cinco anos e somente servirá para aumentar os lucros do pólo da Petrobrás. Continuaremos um estado rico em “ouro negro”, com a população pobre e desempregada.

    Na hora de correr para as tetas dos governos todos vão e pagam qualquer preço. Na hora de defender mais empregos e oportunidades para os jovens do Rio Grande do Norte, ninguém aparece. Calam-se.

    Num quadro moral desse tipo há perigo de mudar alguma coisa? Claro que não.

    A única mudança possível e previsível será mudar para pior. Nunca para melhor.

    Salvo se o povo ficar consciente e partir para dá o troco aos responsáveis por esse festival criminoso de oportunismo.

    É esperar pra ver como é em que fica....

     

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