De Olho Aberto
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25 de Abril de 2008
De ontem e de hoje
“Quem te viu e quem te vê!”
O povo tem razão quando afirma que o “mundo dá muitas voltas”.
Note-se o governo do PT convivendo com o presidente eleito do Paraguai, que usa a mesma linguagem dos “companheiros” brasileiros no passado.
Os paraguaios consideram o Brasil “imperialista e explorador”, da mesma forma que o PT qualificava na campanha de 2001 os Estados Unidos e o FMI. Tudo que se fazia no Brasil era submissão aos norte-americanos.
Consideravam o FMI (Fundo Monetário Internacional) instrumento de dominação do “capital internacional”. Ouvi no Congresso muitos discursos flamejantes de Lula, Mercadante, Genoíno e tantos outros.
Logo na campanha eleitoral de 2001, quando a Argentina entrou em sério “colapso econômico”, com repercussão direta no Brasil, o hoje Presidente Lula e o seu PT colocaram “as unhas de fora”.
Chamados por FHC, que lhes explicou por a mais b que não restar outra saída, senão recorrer ao FMI, não hesitaram em concordar.
Lula assinou – sem titubear – uma “carta ao povo brasileiro”, explicando que o pedido de ajuda do FMI era absolutamente necessário.
Meia dúzia de celerados esperneou. Mas, logo calaram.
O poder lhes esperava e preferiram lutar pelas posições e benefícios, que a vitória lhes traria. Como trouxe.
O PT teve muita sorte – pelo menos até agora – por ter chegado ao poder em um dos melhores momentos da economia mundial, em todos os tempos.
Nada do que acontece no Brasil acerca da redução da dívida externa, do cambio do dólar, do crescimento econômico são méritos do atual Governo.
O grande mérito do governo do PT – e isto não se pode (nem se deve) negar – é ter continuado a política econômica do governo anterior. Se tivesse mudado, como queriam os “iluminados dos seus quadros”, o Brasil teria fatalmente ido à bancarrota. Não adiantam boas idéias e estratégias inovadoras com a economia fraca.
Quando for escrita a história real do governo atual, Lula será creditado por esse grande mérito. Teve o bom senso (para alguns astúcia) de não mudar o que estava dando certo.
Claro, que isto lhe custou caro no começo.
Mais caro, ainda, foi o país ter optado no final do século passado por uma política econômica estável e criado as condições para tal.
Eu mesmo, pessoalmente, me insurgi contra muitas medidas que o governo FHC tentava adotar. Naquela época era deputado federal e pertencia à base do governo.
Achei – em alguns momentos – a dose forte demais. Por isto, colaborei decisivamente para reduzir a intensidade das reformas administrativa e previdenciária.
Recordo ter votado contra a aprovação do “fator previdenciário”, que reduz a aposentadoria e as pensões.
Recebi advertência até do meu Partido.
Hoje assisto perplexo o Governo do PT afirmar que o “fator previdenciário” é absolutamente indispensável. O Congresso derrubou e a “base aliada” anuncia que voltará a carga para restabelecer essa redução das aposentadorias e pensões.
É preciso ver para crer!
Certamente, para cobrar coerência ao discurso do PT do passado, a Argentina, a Venezuela, a Bolívia, e agora o Paraguai tentam por “o pé na barriga” do Presidente Lula.
Esbravejam o poder econômico do Brasil e se dizem explorados pelo nosso país. Desejam mudar as regras do jogo, com o jogo em andamento.
Na Bolívia, assistimos recentemente ao espetáculo quase colérico do seu Presidente, querendo a todo custo impor ônus aos investimentos da Petrobrás, sobretudo na extração de gás natural. No final, alcançou parte do que desejava. Permanece com a “espada de Dâmocles” em cima da cabeça do Brasil.
Na Argentina, o governo de Cristina Kirchner responsabilizou o Brasil meses atrás para justificar séria crise no agro-negócio.
Ela esqueceu que no início do século XXI, época áurea da economia portenha – o período de Menem produziu euforia de satisfação social muito parecida com o Governo Lula – a Argentina esbanjava “ilusória estabilidade econômica”.
Nessa época, o Brasil já havia sido descoberto (!) e nem por isto a Argentina deixava de aparentar crescimento econômico.
Menem – até para concorrer com o Brasil – impôs a circulação de cerca de uma dúzia de moedas – o peso, o dólar, o patacon buenairense e ainda outros títulos emitidos pelas províncias para pagar seus débitos.
A partir de 2001, emitiram-se os primeiros sinais de que a “estabilidade de Menem” era um engodo.
Logo a “bomba explodiu” com a pior crise econômica da história do país, que começou com um processo recessivo e se aprofundou com a suspensão do pagamento de parte da dívida pública de US$114,5 bilhões, além de brusca desvalorização do peso.
Sabe quem “pagou o pato na Argentina”?
Foi a classe média. Sofreu mais do que os demais segmentos sociais. O índice de suicídios cresceu.
Também o Presidente Chávez na Venezuela – atualmente em queda de popularidade superior a 50% - várias vezes tentou “encurralar” o Brasil, sobretudo quando o nosso Presidente anunciou – meses atrás – uma grande reserva de petróleo.
Naquela ocasião, ele se encontrou com o Presidente Lula numa Conferência em Santiago do Chile e chamou-o de “magnata brasileiro”.
Achou pouco e afirmou: “o Brasil pode agora ingressar na OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) com esta grande quantidade de petróleo que conseguiu. Se é que isso é certo, mesmo. Oxalá”.
Lula ouviu tudo calado e o seu assessor internacional, Marco Aurélio Garcia achou pouco e agradou o Presidente Chavez, dizendo: “esta foi uma forma simpática dele tratar a descoberta da nova reserva de Santos”.
Na verdade foi insulto, provocação e gozação com o Brasil.
Mas, os “companheiros” brasileiros acharam que não.
Agora, chegou à vez do Presidente eleito do Paraguai, o chamado “bispo dos pobres”, Fernando Lugo. Ele anuncia que irá anular o Tratado entre o Brasil e o seu país, que possibilitou a construção da hidrelétrica de Itaipu.
Observe-se que, praticamente, 100% do dinheiro gasto em Itaipu foi do Brasil, através de empréstimos internacionais. A nossa dívida externa cresceu, a partir daí.
O argumento do Presidente paraguaio é de que a sobra dos 50% da energia que o Paraguai dispõe deverá ser vendida ao Brasil pelo maior preço do mercado internacional. Isto seria razoável se o Paraguai tivesse investido, em partes iguais, na construção de Itaipú. Tal não ocorreu.
No Tratado assinado entre Brasil e Paraguai ficou acertado que o preço de venda dessa energia seria de custo.
O tratado define as regras de utilização da usina, a remuneração da energia produzida, sua operação e utilização. Assinado em 1973, o documento tem prazo de validade de 50 anos, ou seja, só poderá ser renegociado em 2023.
Por que o preço deverá ser de custo?
Simplesmente, porque a construção de Itaipu custou o dinheiro desembolsado pelo Brasil, diretamente, ou por empréstimo.
Mesmo assim, o Brasil aceitou que 50% da produção de energia gerada seria do Paraguai.
Trocando em miúdos: o Paraguai teria 50% da energia produzida em Itaipú ao seu inteiro dispor.
Se não usar a sua cota ficou estabelecido que venderia ao Brasil pelo “preço de custo” como forma de remunerar o capital brasileiro investido naquela gigantesca obra.
Trata-se, portanto, de regra de jogo comercial pactuada previamente pelas partes. Nenhuma exploração.
Cabe ao Paraguai, cujo consumo atual é de 10% da energia de Itaipu, fazer crescer a sua economia e atingir o nível de consumo interno de 50%, que lhe cabe na parceria de Itaipu.
O Governo do PT terá nas ameaças do Paraguai outra “bomba” nas mãos.
Como irá reagir?
Será repetindo a expressão do assessor presidencial Marco Aurélio Garcia, de que essa é uma forma simpática do novo Presidente paraguaio referir-se ao Brasil?
Ou, irá cumprir a Constituição de 1988, que recomenda aos governantes – mesmo com o uso da via diplomática – preservar a todo custo à soberania nacional?
Com certeza, a maior dificuldade para o Presidente Lula e para o PT seja manter a coerência entre o discurso de “ontem” e o de “hoje”...
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