De Olho Aberto
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29 de Março de 2008
Cartas marcadas
Estranho – muito estranho – o diretório municipal do PT em Natal adiar para maio a prévia interna de escolha do seu candidato a prefeito de Natal. Realmente, se trata do exercício inquestionável da autonomia partidária.
Não discuto a parte legal. Aprecio a questão política de “jogar com a barriga” por tanto tempo, um assunto tão importante quanto participar da eleição na capital potiguar.
A conclusão que chego é a de que o lançamento recente da técnica Virginia Ferreira (PT-RN) como candidata a prefeito de Natal confirma continuar o Rio Grande do Norte como o Estado campeão no Brasil em matéria de obstáculos, resistências e vetos a novos nomes, que não tenham o aval dos grupos tradicionais e poderosos.
De saída, dirigentes do PT disseram que poderiam apoiar Virginia se ela trouxesse o prefeito de Natal e o PMDB. Quer dizer, passou a ser “farinha do mesmo saco”.
Não sou correligionário, nem tão pouco tenho procuração para defender Virgínia.
Comento apenas as conseqüências óbvias do lançamento de sua candidatura, por conhecer a realidade política estadual e perceber – mesmo a distância – os “cacoetes” e “encenações”, ultimamente vindos a público.
No passado, este partido combatia vícios e parecia ser até uma “luz no final do túnel”. Agora, sai do túnel e opta pela clareza da luz do meio dia dos governos, aflorando as compensações, troca de favores, benesses e “compromissos assumidos”.
Não estendo tais práticas a todos os militantes e inscritos no PT. Há muita gente boa, honesta e bem intencionada.
Porém, uma boa parcela revela ter assimilado as lições dos “catedráticos” de cooptação dos governos e práticas eleitorais inidôneas.
Sujaram a água no passado e agora estão bebendo.
A verdade é que, de modo geral, as possibilidades de renovação na política do RN permanecem mínimas. O caso atual do PT em Natal é emblemático. Apenas uma parte da realidade total.
Quando digo renovação não vínculo à data de nascimento. Em absoluto. Refiro-me a nomes – jovens ou maduros –, que tragam consigo bagagem intelectual, ou adquiridas na experiência da Universidade da vida.
Pessoas que tenham rumo. Saibam o que querem. Defendam idéias, valores, propostas, alternativas para melhorar a qualidade de vida do povo.
A verdade é que para atingir esse perfil de renovação em nosso Estado e ter a possibilidade de “chegar lá”, qualquer pretendente se submeterá ao crivo dos “proprietários de partidos”, salvo alguns partidos ainda democráticos nas escolhas. Testemunho que o DEM-RN é uma das poucas exceções.
Existe, ainda, um grande perigo nas avaliações internas dos partidos que assim agem. Sabe qual é?
A possibilidade do nome apoiado fazer no futuro uma grande administração – sobretudo com inovações – e ganhar apoio popular.
Não há interesse que isto aconteça. Os líderes recebem aos ouvidos a advertência dos áulicos: “cuidado com fulano ou sicrano. Cuidado! Esse cara poderá lhe trair. Cuidado!”.
A competência é punida. A prioridade passa a ser “dá vez” a mediocridade, a falta de imaginação, o “feijão com arroz”, a incompetência coroada.
Entra eleição e sai eleição e tudo continua assim. Pensar, estudar, preparar-se com seriedade para a vida pública é ponto negativo. Gol contra.
As cúpulas partidárias – e não são somente às do RN – desejam na verdade aumentar o “bolsa família”, onde muitos ganham sem trabalhar. A distribuição de “cestas básicas”. O assistencialismo, o paternalismo, usado com o apelido de “política social”, ou “distribuição de renda”!!!!
Há uma lógica perversa nisto tudo. Se fosse realmente estimulada a criação no Rio Grande do Norte de uma “zona de livre comércio”, ao lado do futuro aeroporto de São Gonçalo do Amarante – o que não está acontecendo -, os jovens e adultos iriam se emancipar politicamente. Adquiririam independência. Os sindicatos seriam fortalecidos para reivindicar direitos legítimos dos trabalhadores.
Uma indústria que, por exemplo, se instalasse na “zona de livre comércio” para produzir computadores teria os seus próprios mecanismos de treinamento de pessoal. Não dependeria de governos. Ofereceria à população cursos, treinamentos etc... Os jovens ou pessoas já experientes conseguiriam empregos pelos seus próprios esforços. Não ficariam dependentes de “a”, “b” ou “c”. Não precisariam mais da “ajudazinha” da cesta básica ou do bolsa família.
O resultado final seria que tais pessoas votariam conscientemente. Sem recompensas a favores. Estariam libertas, como já ocorre nos Estados mais desenvolvidos.
Certa vez, ouvi depoimentos de José Serra e José Genoíno, então meus colegas na Câmara Federal. Eles me disseram que conseguiam milhares de votos em SP sem conhecimento direto com os eleitores. Gastavam quase nada. Apenas, através da TV e meios de comunicação divulgavam idéias e o trabalho realizado.
Isto é impossível no Rio Grande do Norte. Tragicamente impossível, pelo menos até a última eleição.
Há sem dúvida uma parcela independente do eleitorado. Há pessoas sérias e conscientes. Porém, a influência eleitoral de tais cidadãos se limita a eleger um vereador aqui, ou um deputado acolá.
Eleger cargo majoritário, não. Somente em casos esporádicos de “zebras”. Recordo que de 1960 para cá se verificou apenas uma “zebra”: a eleição de Agenor Maria para o Senado em 1974.
Geraldo Melo em 1986 não foi “zebra”. Ele se beneficiou do plano cruzado lançado por Sarney. O PMDB elegeu praticamente a totalidade dos governadores. E ele foi um dos beneficiários dessa “onda”.
Vilma em 2002 vinha de três administrações municipais em Natal e razoável estrutura inicial de campanha, além da sua origem em um dos grupos que polarizam a política estadual.
Voltando ao episódio Virginia Ferreira, se o vôo dela fosse aspirar a Câmara Municipal de Natal, com certeza já teriam lhe liberado a legenda.
Como o nome foi lançado para uma eleição majoritária – Prefeito de Natal – tudo muda partidariamente. A experiência mostra, que ser candidato majoritário, quando há possibilidades de vencer, é direito de poucos, predestinados, DNA. Jamais de todos os militantes, salvo quando comprovadamente o indicado não tiver chances de vitória (“o faz de conta”).
Nesta última hipótese, a legenda é dada para “carimbar” o escolhido e afastá-lo de vôos majoritários futuros.
Por que na eleição proporcional é mais fácil ter a legenda?
Porque nas eleições proporcionais, quanto mais candidatos melhor. Aumenta votos no cálculo do quociente eleitoral. Ajuda os partidos a terem representação legislativa, sem o que os líderes são jogados contra a parede como incompetentes politicamente.
Importante registrar, que as eleições proporcionais cada dia ficam mais difíceis. Mais caras. Mais atingidas pelo vírus da corrupção eleitoral. “Cada um por si e Deus por todos”.
Regra geral, quem ganha não depende do partido. Daí a injustiça da fidelidade partidária, antes de ter sido feita uma profunda reforma política no país. A fidelidade partidária como está atualmente reforça os “caciques” partidários. Jamais fortalecerá os Partidos em si.
Sem a aprovação urgente da reforma política, partidária e eleitoral, a democracia brasileira continuará a ser um “jogo de cartas marcadas”.
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