De Olho Aberto
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22 de Março de 2008
Maia e Alves
De segunda – 24 de abril – em diante, a Paz da Semana Santa será substituída pela guerra eleitoral municipal, que começará pra valer. Não há mais como adiá-la. Os prazos começam a vencer e exigem decisões.
Não sei quais os nomes que ganharão ou perderão as eleições de 2008 e 2010. Não posso adivinhar. E se adivinhasse ganharia primeiro na mega-sena.
Todavia, percebo como jornalista, que todo o atual processo eleitoral municipal no Rio Grande do Norte caminha para a reunificação das famílias Alves e Maia.
Explico.
Antes, faço algumas considerações preliminares sobre (1) fidelidade a partido político; (2) conseqüência e significado de uma eleição municipal, como a deste ano.
(1) Sobre coerência partidária, sempre cultivei na política tal princípio. Discordei historicamente de mudanças abruptas de partido.
Defendi acirradamente a oferta de oportunidades à pessoas e grupos, em função da vocação pública, preparo intelectual, idéias e propostas sérias.
Não confundir com idade. Ser novo, ou velho pouco importa.
Existem muitos jovens já velhos; e muitos velhos na flor da idade. Afinal, a experiência deve contar. Sem ela, não haverá inovação consistente.
Tragicamente, o que presenciei, até hoje, foi à derrota da “coerência partidária” e sucesso daqueles que se transformaram em “saci pererê”, saltando de galho em galho. Viraram líderes de partidos e facções, da noite pro dia.
São disputados e oferecidas novas oportunidades políticas.
As próprias lideranças tradicionais prestigiam mais quem rompe e vai para outro partido, do que aqueles que permanecem. Triste conclusão. Mas, foi assim e tudo indica que continuará assim. Infelizmente!
Poderia dá vários exemplos. Vários, que saltam aos olhos do analista da cena política local.
Quem mudou sobrevive.
Quem não mudou perde oportunidades e fica difícil até sobreviver.
Ganhar eleição proporcional é luta praticamente individual. Não depende de partido, ou liderança.
Ganhar eleição majoritária depende fundamentalmente da boa vontade e o apoio do grupo e do sistema. Fora isto, somente “zebra” – difícil de ocorrer.
Talvez, as exceções no RN tenham sido Carlos Alberto e Agenor Maria. Entretanto, situações meramente circunstanciais. Tanto é verdadeiro, que ganharam uma eleição e não se mantiveram no mesmo cargo em pleitos posteriores.
(2) Sobre o significado e conseqüências de uma eleição municipal, a experiência que tive leva a crer que tais disputas – ao contrário do que dizem alguns – não têm nada de decisivo. Elas simplesmente preparam estratégias futuras. Criam as situações propícias.
É simples “aperitivo” para as eleições gerais de presidente, governador, senador e deputados. Servem - é claro - de indicativo.
Cada grupo faz o seu “cacife” para colocá-lo em cima da mesa de negociações. Ninguém veta ninguém. O adversário de ontem será o correligionário de amanhã.
Notem-se, por exemplo, as eleições de 2002 e a de 2004.
Fernando Bezerra e Vilma se digladiaram na eleição de 2002. Acusações fortíssimas, de lado a lado.
Em 2004/06 estavam no mesmo palanque.
Em 2006, Vilma e o deputado Antonio Jácome tiveram violenta discordância pessoal. À época, Jácome saiu do grupo e apoiou Garibaldi.
Em 2008, ele é o novo líder do governo Vilma, na Assembléia!
Todos amigos desde criancinhas!
A disputa municipal é “corpo a corpo”. Os temas são locais. Do dia a dia. Quem está no governo é considerado apenas para criar expectativas de favores, empregos e benesses.
O candidato municipal usa o governo, mas necessariamente não trabalhará politicamente para quem está no governo. Já vi esse filme várias vezes.
Engana-se quem pensar diferente.
Uma das formas de sobrevivência de quem não desfruta de influência em governo é a expectativa de poder futuro. Ou seja, estar no grupo de quem tenha notórias probabilidades de ganhar a próxima eleição de governador, ou presidente da República.
Não todos, mas a grande maioria dos vitoriosos nas eleições municipais rende-se a favores, convênios e verbas orçamentárias.
Competência é sinônimo de influir na máfia do Orçamento da União. Incompetente é quem não influi. Tem sido inexoravelmente assim.
Nas memórias – que já escrevo – cito casos concretos, com nomes, endereços e provas documentais. Como advertências para as gerações futuras.
Ressalvo, entretanto, que nem todos os eleitos agem assim. Há gente digna, honesta e correta. Muitos que recordo com respeito e alegria.
Voltemos ao quadro político-eleitoral presente e futuro do Rio Grande do Norte,
Público e notório que os grupos políticos Maias e Alves se fragmentaram politicamente há algum tempo.
Em 2010, surge o risco de algum líder Maia ou Alves perder mandato majoritário, diante da acirrada disputa de três candidatos por duas vagas no Senado. Pelo menos um sobrará, fatalmente. Ninguém sabe quem.
As pedras da eleição municipal de 2008 se movimentam em dois sentidos: primeiro, a busca do “acórdão”.
Entre José Agripino, Vilma e Garibaldi, dois sairiam para o Senado e um para o Governo do Estado. Diante da possibilidade do terceiro de mandato para Presidente e Governador, surge a alternativa de Vilma continuar no governo. Ou, proibida a reeleição, Iberê sairia do páreo. Tudo facilitaria o “acórdão”.
A segunda hipótese em marcha é a reunificação dos Alves, em torno da candidatura de Carlos Eduardo para o Governo do Estado. Garibaldi defendeu isto abertamente, em declarações publicadas nesta Semana Santa. Admitiu, inclusive, a retirada do nome de Hermano Paiva, na disputa em Natal.
Aliás, confirma-se o que já declarei: Hermano é o Ney Lopes em 2008.
Sofri tudo isto na pele, em 2004, como candidato a prefeito de Natal. Pessoas ligadíssimas ao PFL apoiavam o Palácio Potengi e declaravam à imprensa, que eu não chegaria sequer ao segundo turno.
Ressalvo a solidariedade pessoal do senador José Agripino.
Como crescer em tais circunstâncias?
Impossível.
O mesmo ocorre em 2008 com Hermano Paiva.
A reunificação da família Alves passa, portanto, pelo rompimento de Carlos Eduardo com Vilma – o que ainda acho muito improvável, mas não impossível – para apoiar Virgínia Ferreira (PT), em coligação com o PMDB, que indicaria o vice-prefeito (talvez o próprio Hermano).
O compromisso seria o apoio de todos à Carlos Eduardo, como candidato a governador do Estado em 2010 e Garibaldi para o Senado.
O acordo coloca Vilma “numa saia justa”, caso Mineiro retire a sua candidatura e viabilize o projeto de Virgínia.
Qual a saída de Vilma?
Certamente, a reunificação dos Maias.
Vilma se aliaria a José Agripino – mesmo com as dificuldades existentes no plano nacional – e juntos apoiariam Rogério Marinho, ou, quem sabe, a deputada Micarla de Souza, que dificilmente deixará a base do governo estadual. Dificilmente. E se deixar poderá ser apenas durante a campanha eleitoral de 2008.
Na hipótese de serem mantidas as candidaturas de Rogério e Micarla (esta com apoio do DEM), a previsão de um segundo turno seria um deles contra Virgínia Ferreira, que passaria a ser uma candidata muito forte, com os apoios da Prefeitura de Natal PT, PMDB e outras siglas.
Mesmo com as dificuldades de uma tradicional amizade familiar – a de José Agripino com Leônidas Ferreiras, pai de Virgínia – a tendência do DEM, talvez, seria apoiar Rogério, ou Micarla, no segundo turno.
Isto porque, com a reunificação dos Maias já terá sido acertada a candidatura ao governo do Estado em 2010 da senadora Rosalba Ciarilini, com a chapa do Senado completa (Vilma e José Agripino).
O objetivo de Rosalba – anunciado desde que aspirou ser candidata ao Senado – é o de recolocar os Rosados no poder estadual e resgatar os prejuízos da morte inesperada, na década de 50, do governador Dix Sept Rosado, pai do seu esposo, deputado Carlos Augusto Rosado.
Por todos estes fatos antevejo que a eleição municipal de 2008 poderá ser o início do processo de reunificação dos Maias e Alves na política potiguar, de forma direta ou indireta.
Não se sei se ocorrerá. Repito que não adivinho. Mas – se confirmado o afastamento de Carlos Eduardo de Vilma – tudo levará a crer que sim.
Será a única saída de sobrevivência política para os dois grupos.
Dividir mais, aumentará o risco – que já existe - para todos, inclusive a possibilidade de surgimento de nomes e alternativas.
Isto não convém, nem a um, nem a outro. O bom é continuar como sempre foi!
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