De Olho Aberto
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09 de Novembro de 2007
A “isca” do governo
De olho aberto percebo sinais de que o Presidente Lula jogou a “isca” e a oposição escolherá se cai ou não na rede. O Governo consentiu no lançamento da história do “terceiro mandato” para provocar a ira de quem aspira chegar ao Planalto em 2010. Tudo começou, coincidentemente quando se discute a aprovação da CPMF.
Na hora de conversar, o Governo usa a “isca”, transformando-a em moeda de troca. Ou seja, “desautoriza a reeleição” e acena para a “oposição aprovar a CPMF”.
A estratégia oficial está em marcha. É só ver os governadores Aécio (MG), Serra (SP) e até Arruda (DF), pertencente ao DEM. Todos fazem coro a favor da aprovação da proposta, no Senado Federal. Os dois primeiros aprovam a CPMF e desaprovam a reeleição, por serem pré-candidatos à Presidência.
Por trás da “cortina”, o Governa insinua o pagamento das dotações orçamentárias de parlamentares oposicionistas. Note-se que jamais na história da República brasileira a liberação de verbas orçamentárias de adversários nunca foi tão negada, quanto atualmente. A ordem é não pagar a quem se opõe a Lula. E está sendo obedecida à risca.
O DEM – ao que se sabe – está internamente dividido. O discurso fumegante e incendiário contra Lula do presidente Rodrigo Maia (RJ) é aliviado pela prudência do senador Marco Maciel, que preside a Comissão de Justiça e até pelo Senador José Agripino, líder no Senado, que percebe a tendência da bancada.
Pensando bem acho que a linha moderada do DEM está com a razão. Por que ser mais realista do que o rei? Caso o PSDB – que criou no passado a CPMF - aceite a “questão aberta”, ou negocie deverá o DEM continuar raivoso e votando contra? Terá que mostrar “jogo de cintura” e negociar também.
Há outro ingrediente a considerar. O Planalto manipula muito bem a opinião pública, através dos meios de comunicação. A idéia aceita pela população, sobretudo as faixas de renda inferiores, é que extinta a CPMF a saúde é prejudicada e as “bolsas famílias” serão reduzidas, ou até extintas. O povo pensa assim. Esta a realidade.
Relembro um fato que presenciei em Brasília, nos anos setenta. Era deputado federal e na mesma legislatura Tancredo Neves tinha mandato idêntico. Na roda do “cafezinho” assisti uma conversa entre Tancredo e Teixeirinha, meu colega de redação no Jornal de Commércio do Recife e um grande jornalista brasileiro, infelizmente já falecido.
Após ouvir o relato de Teixeirinha, de que o senador Petrônio Portela no dia que antecedeu a Revolução de 31 de março de 1964 hipotecou apoio a João Goulart e logo depois aderiu aos militares vitoriosos, Tancredo exclamou: “É isto mesmo, meu filho. O Petrônio teve o que todo político precisa ter: o instinto da sobrevivência”.
Voltando à CPMF. Muitos parlamentares do PSDB e DEM manifestam o “instinto da sobrevivência”, a que se referiu Tancredo. Inclusive, porque atualmente a saúde pública – mesmo funcionando precariamente – depende dos recursos da CPMF. Tanto isto é verdadeiro, que as associações médicas estão clamando a aprovação da proposta para evitar o caos.
Cortar abruptamente a fonte financeira do CPMF poderá provocar efeitos políticos e econômicos desastrosos na população. E quem colaborar para isto pagará um preço político muito caro. Mais caro do que já está pagando.
Para que qualquer tipo de resistência à CPMF surta efeitos duradouros impõe-se ter “os pés no chão”, ou seja, fortalecer democraticamente um projeto de retorno ao poder federal. Para isto é fundamental avaliar se a “isca” lançada ao mar pelo Governo – a da reeleição – terá maior ou menor chance de concretizar-se, caso a CPMF caia. A esta altura do campeonato e por incrível que pareça, o PT talvez torça pela derrota na votação da CPMF. Sabe por quê?
O povo irritado e insatisfeito achará que Lula precisa continuar no poder e ter uma grande maioria parlamentar em 2010 para a saúde pública não piorar e as bolsas famílias voltarem. Aí a situação se complicará. E muito.
O momento exige reflexão e estratégia segura. Pode ser que a “isca” não seja a melhor opção. Mas, é bom medir se não será pior sem ela.
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