Marca Maxmeio

De Olho Aberto

  • 01 de Novembro de 2007

    Quem não quer, querendo

     

     

     

    De Olho Aberto começo a entender a contabilidade político-eleitoral do Presidente Lula e do seu PT. Em 1997 entornaram o caldo para evitar que fosse aprovada a emenda da reeleição de FHC, que há anos vinha sendo discutida no Brasil. Houve tentativas de implantá-la nas assembléias constituintes de 1934, 1946, 1988 e na revisão de 1993. Finalmente, em 4 de abril de 1997 o Senado aprovou, em segundo turno (por 62 votos a 14), a emenda que possibilitou a reeleição de prefeitos, governadores e presidente.  O Brasil teria, pela primeira vez desde a Proclamação da República, a possibilidade do Presidente, governadores e prefeitos ganharem um segundo mandato nas urnas.

    Na época, votei a favor da emenda constitucional, diante do compromisso de que a lei regulamentadora posterior preveria o afastamento do cargo, seis meses antes da eleição. Nada disso aconteceu. Eu e outros parlamentares fomos enganados. Hoje, a reeleição é a maior fonte de corrupção do processo eleitoral. Que retrocesso!

    Mas, voltemos à contabilidade político-eleitoral do PT e do Presidente. Reeleito FHC, o PT perdia de 2 x 0. A vitória de Lula em 2002 levou a 2x1. Reeleito Lula em 2006, o jogo empatou em 2 x 2. Agora, com o terceiro mandato para Lula, o PT passará a ganhar de 3 x 2. Quem sabe – com os exemplos latino-americanos – possa ganhar depois de 4 ou 5 a 2. Do prejuízo inicial, Lula e o PT evoluem para o lucro da permanência indefinida no poder.

    Sinto no ar que essa história de “não querer” a reeleição é conversa “pra boi dormir”. No dia do seu aniversário, o desmentido do Presidente Lula à imprensa foi entremeado de sorrisos reticentes, como se dissesse: “deixem primeiro aprovar a CPMF e outras fontes de receita do governo, que eu passarei a opinar sobre esse assunto”.

    O ministro Guido Mantega confirmou tudo que penso. Ele declarou à imprensa neste final de semana “que o tema só “prejudica” Lula. Isso é prematuro e extemporâneo. Essa discussão só enfraquece, prejudica e traz prejuízos ao governo e ao presidente”.

    O que é “prematuro”, senão algo que começa a ser lembrado antes do tempo, porém existe, é verdadeiro?

    Enquanto isto tramitam na Câmara, sem alarde, 43 projetos que tratam da reeleição. Projeto desarquivado em fevereiro deste ano pode incendiar o Congresso sobre infinitas reeleições. Trata-se da proposta de Emenda à Constituição número 99, apresentada em 1999 pelo então deputado Inaldo Leitão (PMDB-PB), que permite a reeleição, sem fixar um número limite para os mandatos consecutivos. O texto de Leitão é sucinto: “O presidente da República, os governadores de estado e do Distrito Federal, os prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos”.

    Lula e o PT parecem adotar a máxima de Chacrinha: “não vim pra explicar, vim pra confundir". E tal sensação se confirma, quando ouvimos o deputado Fernando Ferro (PT-PE) ir à Tribuna da Câmara e dizer que é contra dois mandatos. Logo em seguida, se desdiz afirmando: “Não futuquem a onça com vara curta. É provável que a população queira mais um mandato de Lula. Se começarem a provocar, é capaz que alguém tome gosto e ninguém vai conseguir conter a população.”

    Aí está – a meu ver – “o caminho das pedras”. O Presidente e o PT estão percebendo que podem ampliar a vantagem do jogo do poder para 3 a 2 e até mais no futuro. Vão, apenas, esperar a “hora certa”.  Até porque conhecem muito bem o conselho de Maquiavel de que “é muito mais seguro ser temido do que amado”, e isso se consegue quando, em vez de ficar preocupado apenas em agradar e fazer o bem, o príncipe sabe como “entrar para o mal”. (Não se pratica o mal por gosto, mas por necessidade — e, quando entende isso, o povo perdoa.).

    Estão no palco de 2007, os mesmos que estavam em 1997, quando FHC dizia inicialmente não aceitar a reeleição. Naquela época, o então deputado Roberto Brant (PSDB-MG) definiu numa frase como conseguir o apoio político: “na maioria estão os mais sensíveis ao poder do governo e é neles que vamos apostar as fichas. Dois terços do PMDB já estão nas mãos do governo, assim como boa parte do PPB (hoje PP)”. O senador Íris Rezende (PMDB) ameaçou “marola”. Votou com o governo e depois foi ministro. José Sarney (PMDB) disse que só votaria se FHC desistisse de privatizar a Vale do Rio Doce. FHC não desistiu e ele votou pela reeleição.

    Até intelectuais e artistas se reuniram com FHC, sob um toldo branco armado no jardim da casa do empresário José Maurício Machline, no Rio de Janeiro. Gilberto Gil (o Ministro da Cultura de Lula), Lúcia Veríssimo, Gabriel o Pensador, Marília Pêra e Maitê Proença. Todos defenderam um segundo mandato para Fernando Henrique.

    O historiador Evaldo Cabral de Mello comparou FHC a um dos grandes políticos do Segundo Império, o visconde do Rio Branco, responsável pela Lei do Ventre Livre e também pelas primeiras iniciativas de desenvolvimento econômico.

    O filme começa a ser repetido. Deus queira que esteja errado. Mas, pelo andar da carruagem essa história de não desejar o segundo mandato é coisa de quem não quer, querendo...!!!!       (Comentários)

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