Brasília em Dia
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30 de Outubro de 2010
Agora, os desafios
Agora, passada a euforia eleitoral, estarão na mesa de decisões os desafios e os riscos que devem ser enfrentados. Os temas econômicos lideram a pauta.
Há 12 anos, a nossa política econômico-financeira se apoia no superávit primário, no sistema de metas da inflação e no câmbio flutuante. O ponto crítico no momento é a política monetária, tendo em vista a pressão dos altíssimos juros e a passividade da política cambial. Na recente crise mundial, duas das razões da superação brasileira foram a redução da dependência do petróleo e a expansão do crédito pelos bancos estatais, o que não significa “céu de brigadeiro”. Há sinais evidentes de carências na infraestrutura para sustentar o crescimento econômico. Além disso, anunciam-se pesados investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. De onde virá o dinheiro? As exportações caem e as importações aumentam. A desindustrialização nacional se torna fato incontestável. O gasto público aumentou.
Todas as dificuldades começam pela chamada “guerra das moedas”. O real aparentemente se valoriza, mas só aparentemente. Os investimentos externos que chegam ao país não são produtivos. Em setembro, ingressaram como investimentos financeiros U$ 17,71 bilhões, batendo o recorde de U$ 13 bilhões em outubro de 2009. A entrada de moedas só não foi mais elevada em razão do resultado negativo do comércio exterior, aliás, pelo quarto mês seguido. De nada adiantaram o aumento do IOF e a compra de dólares pelo Tesouro Nacional para conter a excessiva valorização cambial. Tal conjuntura decorre da política monetária dos países desenvolvidos de combate à recessão, que aproximam de zero as taxas de juros internas e estimulam a fuga de capitais para países como o Brasil, que paga remunerações muito superiores às do padrão internacional. As consequências imediatas têm sido a redução da competitividade das empresas nacionais, o aumento das importações e o aumento do déficit externo.
A quase unanimidade dos especialistas aponta como questão número um a revisão do câmbio flutuante, adotado desde 1999. Este impasse não é brasileiro. A desvalorização do dólar recebe incentivo do próprio governo americano, como meio de estímulo à economia do país, sobretudo pela irredutível posição da China em negar-se a valorizar o yuan. Os Estados Unidos e União Europeia defendem, com unhas e dentes, a valorização da moeda chinesa. O yuan baixo favorece as exportações da China e penalizam violentamente os produtos americanos, europeus e também os brasileiros.
Antes da crise econômica de 2008, o mundo enfrentou dificuldades econômicas no México, na Rússia, na Tailândia e na Argentina. Em todas elas, as alternativas sugeridas passaram pela revisão da política cambial. À época, dois caminhos se apresentaram: regime rígido de taxa de câmbio (exemplo da China) e taxas flutuantes (Brasil). Historicamente, ambos se mostraram insuficientes para garantir o crescimento econômico. Na rigidez cambial, o maior exemplo foi a Argentina na crise de 2002, com o agravamento da recessão. Atualmente, o câmbio flutuante no Brasil se mostra incapaz de preservar a indústria nacional e funciona como incentivo à alta de juros.
A verdade é que a possível solução estaria na articulação de ações comuns, em nível internacional, de forma que os desequilíbrios das economias mundiais sejam contidos pelo uso de regimes cambiais padronizados. A experiência demonstra que a diversidade de regimes cambiais beneficia alguns países em prejuízo de outros. O chamado “milagre chinês” começou pelo rígido controle do governo sobre a sua moeda. A “liberdade” econômica do governo de Pequim depende do yuan desvalorizado. Daí as frequentes intervenções no mercado cambial, o que favorece as exportações e o aumento de reservas internas. No Brasil, a liberdade cambial vem provocando o ingresso de capitais externos em busca das maiores taxas de remuneração do planeta.
Difícil encontrar alternativas nesta “guerra das moedas”. Para 2011, as dificuldades econômicas certamente aumentarão, se considerada a alta de quase 12% dos gastos públicos, o maior aumento dos últimos 12 anos. De acordo com a análise do economista Raul Veloso, os oito primeiros meses do ano de 2010 só perderam para 1998.
Estas questões não foram tratadas com objetividade no período eleitoral. Eram temas que espantavam os votos. Terminada a campanha, não poderão ser jogadas para debaixo do tapete. O medo que essas temáticas proporcionam é a conhecida “solução” de aumentar impostos, quando a carga atual já representa cerca de 36% do PIB. O bolso do brasileiro não aguenta mais pagar a conta dos equívocos da nossa economia. Amanhã começará a busca de alternativas para os desafios do nosso futuro!
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