Brasília em Dia
-
26 de Junho de 2010
China e o efeito “bumerangue”
Todos sabem que uma das explicações do “milagre chinês” é a vinculação de sua moeda – yuan – ao dólar. A estratégia assegura excelentes resultados macro-econômicos, sem riscos inflacionários, além de ampliar a integração comercial e financeira do país com o mundo. A China é o maior exportador global e o “yuan” desvalorizado facilita as exportações.
Deng Xiao Ping em 1978 implantou a “desideologização” da política externa, eliminou as restrições da “esquerda” em relação aos Estados Unidos e entrelaçou a nova política econômica com a orientação de reformas e modernização.
O grupo G-20, composto de 20 países emergentes, reunir-se-á no Canadá no final do mês, com a finalidade de promover a discussão “aberta e construtiva entre os países industrializados e emergentes, a respeito de assuntos-chave relacionados à estabilidade da economia global". Os países que formam o G-20 são responsáveis por mais de 80% da economia mundial.
A grande novidade do G-20 poderá ser a concordancia da China com a valorização do “yuan”, em função do dolar. O país resiste há décadas, a pressão de norte-americanos e europeus. A pretensão do G-20 parece, a primeira vista, sonho de mil e uma noite, salvo se prevalecerem às variantes econômicas da recente queda do euro, o que torna as exportações chinesas menos competitivas, justamente na Europa, o seu maior mercado.
Em 1994, os chineses iniciaram a política de equivalência do “yuan” (8.7 yuans) ao dólar. No período de 2005 a 2008, a China valorizou o “yuan” em cerca de 21%, cuja taxa de cambio se mantém até hoje, sob rigoroso controle do Banco Central. Criou-se à época uma “cesta de moedas”, que teoricamente asseguraria margem de flutuação de até 0.3%. A mudança previa a flutuação administrada do “yuan”, amarrada a cotações diárias. As principais moedas da “cesta” vieram da zona do euro, Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul, maiores parceiros comerciais da China. Historicamente, o valor do “yuan” vem correspondendo a cerca de 45% do dolar, 20% do “iene” e 20% do euro. Isto quer dizer que, na prática, nada mudou de 1994 para cá.
O Brasil sofre com a desproporção entre a desvalorização de 16% do “yuan” e valorização de 40% do real. A diferença torna os produtos chineses mais baratos em dólares e encarece os brasileiros. Tudo isto ocorre, depois da China ter ingressado na Organização Mundial do Comércio (OMC), como centésimo quadragésimo terceiro membro da entidade e obter o reconhecimento internacional de possuir uma economia de mercado. A pergunta que paira no ar é como uma economia de mercado recusa adotar o câmbio flutuante, a única forma de integração competitiva com a economia mundial?
A rigidez entre o “yuan” e o dolar tem dificultado a redução dos desequilibrios internacionais de pagamentos. A única saída seria a valorização para reverter os deficits em transações correntes nos Estados Unidos, que no biênio 2004-2005 atingiram 6% a 7% do PIB. O obstáculo é a inflexibilidade do governo da China, que considera imutável a atual estabilidade do “yuan”, comparado ao dólar. Tal fato explica por si só o sucesso do modelo de desenvolvimento do país, que em tres décadas deu o grande salto de se transformar no maior exportador do planeta e alcançar invejáveis ganhos de competividade.
Estudos demonstram que o governo chinês planeja alcançar a plena modernização em 2030, quando a população se estabilizaria em 1.5 bilhões de habitantes. Em 2050 - com o fim do processo de crescimento -, a renda “per capita” chegaria a nível aceitável para um país desenvolvido. Perfeitamente justificáveis tais intenções soberanas. A única coisa é que a China, na condição de uma economia de mercado, terá de levar em conta os interesses das demais nações, pelo fato de que os países compradores dos seus produtos precisam sobreviver economicamente para garantir, inclusive, a própria estabilidade chinesa.
O caminho será o bom senso prevalecer na próxima reunião do G-20, com a retomada da política de valorização do “yuan”, em relação ao dólar. Do contrário, a convivência da China com o mundo global, se tornará cada vez mais uma “rua de mão única”, com riscos indesejáveis para todos.
O efeito “bumerangue”, em curto prazo, poderá fulminar a própria China!
Coluna semanal
SEU COMENTÁRIO ABAIXO:
Revista Brasilia em Dia
www.brasiliaemdia.com.br
Notice: Undefined variable: categoria in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Trying to get property of non-object in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined index: pagina in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined variable: totalPaginas in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined offset: 1 in /home/neylopescom/public_html/restrito/incs/funcoes.php on line 618