Brasília em Dia
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19 de Junho de 2010
Lula e Geisel
Termina o primeiro capítulo da novela entre Brasil, Estados Unidos e Irã. A ONU aprovou resolução, impondo sanções ao polemico programa nuclear iraniano. O presidente Lula classificou a decisão de “birra” norte-americana.
Diz-se que os extremos se encontram. Talvez por isto, em matéria de energia nuclear notam-se as semelhanças entre o presidente Lula e o regime ditatorial do general Ernesto Geisel, em relação ao desejo comum de libertação de vínculos com a Casa Branca.
Geisel – aquele que em 1978 fechou o Congresso Nacional, com o famoso “pacote de abril” e proibiu a transmissão na TV do balé Bolshoi – implantou uma política de hostilidade à Washington. Tudo começou com a não renovação do Acordo Militar com os Estados Unidos. Era a política do “Alinhamento não automático”. Os conflitos a entre os Estados Unidos e Brasil culminaram com o acordo sobre uso da energia nuclear, assinado com a Alemanha, em 27 de junho de 1975. Habilmente, os alemães aproveitaram o antiamericanismo da então ditadura brasileira e passaram a dispor de mais urânio, proveniente das nossas abundantes reservas, para uso em suas usinas atômicas. Os norte-americanos, em função da crise do petróleo (1973), decidiram proteger os estoques de urânio enriquecido e recuaram nos compromissos de fornecimento para usinas no exterior.
O acordo nuclear entre Brasil e a Alemanha Federal transformou-se em ponto de discórdia com Washington DC. O conflito ultrapassou os governos de Nixon, Ford e Carter. Antes da aproximação do presidente Lula com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, esta era a maior divergência entre os dois governos, com reflexos econômicos, políticos e estratégia externa.
Em 2010, sob o pretexto de garantir ao Irã o uso pacífico da energia nuclear, o governo brasileiro embrenhou-se em verdadeiro labirinto político e diplomático, após o Irã recusar o diálogo com os Estados Unidos e a ONU, em torno do seu programa nuclear. Ficou demonstrada a intenção iraniana de enriquecer urânio a mais de 20%, nível necessário para a produção de ogivas atômicas. Por outro lado, o próprio presidente Ahmadinejad confessou publicamente o seu projeto irreversível de tornar o Irã uma potência regional, para enfrentar militarmente Israel no Oriente Médio e exportar o modelo de fundamentalismo religioso para outros países.
Os cenários internacionais da década de 70 e de 2010 favorecem a comparação entre Geisel e Lula. Em 1973, o mundo enfrentava a séria crise do petróleo. Atualmente, a economia global ainda sofre os efeitos do desastre econômico de 2008. Os dois presidentes falam a mesma linguagem. O General Geisel declarou no passado, que “somos uma ilha de prosperidade no mar revolto da crise do petróleo”. No mesmo tom, o presidente Lula qualificou a crise atual de apenas uma “marola” para o Brasil e culpou “gente branca de olhos azuis”.
Em princípio, não se pode negar legitimidade à ação de política externa do Presidente Lula. Afinal, nada impede que o Brasil participe das grandes questões globais. Trata-se de iniciativa positiva. Entretanto, seria necessário que o Presidente brasileiro, antes da questão atômica, colocasse na mesa de conversação com os iranianos, o reconhecimento do estado de Israel. Como negociar e acreditar num país, que ameaça o seu vizinho de extinção total, até com a bomba atômica? Israel não é um Estado clandestino. Em 1947, o chanceler Oswaldo Aranha no plenário da ONU comandou a votação que decidiu a partilha da Palestina, através da criação de um Estado hebreu e outro para os residentes árabes, com a absoluta internacionalização de Jerusalém. A decisão da ONU foi desobedecida e ações militares se realizaram para expulsão e massacre dos hebreus. Houve resistência, com base na legítima defesa. Posteriormente, a Jordânia avançou e o Egito anexou o estreito de Gaza, eliminando as chances dos árabes residentes criarem o Estado Palestino, assegurado pela ONU.
Só resta esperar a ocorrência de mais uma semelhança entre os presidentes Geisel e Lula. O acordo nuclear de Geisel provocou em 1976, entendimento com os Estados Unidos. Estabeleceu-se mecanismo de consultas semestrais para atenuar divergências. Com isto, resolveu-se o impasse. Agora, a secretária Hillary Clinton abriu a porta e credenciou o Brasil para dialogar com os iranianos, no que ela chamou de “atual esforço diplomático”. Quem sabe, se aí não estará a saída do imblóglio. Uma coisa é certa: a inegável habilidade de negociação do Presidente Lula ajudará a busca de alternativa, que garanta a paz no Irã, sem o risco de repetição do que aconteceu no Iraque.
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