Brasília em Dia
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09 de Janeiro de 2010
O risco de ser político
O ano de 2010 será atípico. O país renovará os seus quadros político-partidários, justamente numa hora em que atravessa grave crise ética, com escândalos repetidos.
A tão sonhada reforma política, eleitoral e partidária ficou nas gavetas. Ela não pode ser considerada a varinha mágica, que sanearia a vida pública brasileira. Em absoluto. Entretanto, sem ajustes e mudanças não “haverá perigo de melhorar”. Em 2005, subscrevi emenda constitucional, que prolongava para o início de 2006 o prazo de alterações na legislação. As lideranças do Congresso se encarregaram de jogá-la na lata do lixo. Nada se fez!
Certamente, o único meio de viabilizar a mudança será a mobilização consciente do eleitor, seguindo o princípio de que precisa ser feita através do voto a reforma que o Congresso não fez.
Na largada do ano-eleitoral coloco em debate um aspecto – pouco abordado -, que considero de peso para os rumos da cidadania. Trata-se da exposição sempre negativa da imagem do político. Foram nivelados por baixo e se diz com freqüência, que todos calçam quarenta.
É muito grave essa desconfiança generalizada. O que fará o eleitor, se não tiver em quem confiar? Votar em branco desserve a democracia. Afinal, é preciso proclamar, que nem tudo está perdido. Afirmo – sem medo de errar – que a maioria do Congresso Nacional é correta e ética. Procura cumprir os seus deveres. Os transgressores são minoria. Porém, a opinião pública é conduzida para considerá-los maioria. Neste aspecto, o PT do passado (na época do “fora FHC”) contribuiu muito para o desgaste atual.
Muitas indagações poderão ser feitas. Será que a mídia aspira ocupar o lugar do Congresso como representante da sociedade? Ou, divulga os fatos com a única intenção de contribuir para a melhoria das instituições? Será que a mídia – em nome da liberdade de imprensa – deve ficar incólume de qualquer controle judicial para não limitar o direito à informação? Ou, como as demais atividades humanas terá que responder perante a justiça, por excessos porventura praticados? Será que os parlamentares devem julgar a si próprio, através de Conselhos e do plenário? Ou, os indícios de atos que contrariem as regras éticas e legais devem ser transferidos ao Ministério Público e aos Tribunais?
Estas e outras perguntas pairam no ar. As opiniões divergem. Enquanto isto, a classe política continua sendo a primeira atingida pelos estilhaços de denuncias e presunções de crimes.
Quando exercia o mandato de deputado federal, certa vez fui à tribuna defender o vice-presidente, José Alencar. Ele fora acusado de trafico de influência e outros delitos por enviar pedido de pressa, no atendimento de um transplante de medula óssea, cujo paciente estava à beira da morte. Logo verifiquei no meu gabinete, as inúmeras cartas que enviara, em situações semelhantes. Na prática, o homem público fica diante do dilema: desconhecer tais solicitações e ser taxado de ingrato, insensível e sem atenção; ou, atende-las e correr o mesmo risco de ser alvo de investigação e manchetes como traficante de influência e outras coisas mais.
Realmente, é ainda muito grande o risco de fazer política no Brasil. Parafraseando Millor Fernandes, exercer mandato ou cargo público no Brasil é o mesmo que desenhar sem borracha. Aplica-se a advertência de Plutarco, de que “a reputação é como fogo. Uma vez aceso, conserva-se bem; mas se apaga é difícil acende-lo”.
Há realmente políticos delinqüentes, que precisam ser punidos. Todavia, não se justifica a impunidade para quem destrói a carreira política de alguém. Por que esse vale tudo, em nome da liberdade? Pouco importa se os fatos são procedentes. Julga-se primeiro, para depois assegurar a defesa. A impiedosa cassada à classe política lembra a expressão de Marco Tulio Cícero, no templo de Júpiter Stator, onde estava reunido o senado romano: “Até, quando, Catilina abusarás da nossa paciência?! Até quando este teu furor nos perturbará? ... Ó tempos, ó costumes (O tempora o mores)”.
A busca da tão decantada punição aos políticos culpados, não pode se transformar em condenação antecipada. A democracia necessita da classe política. E os que optam pela vida pública não podem ficar expostos as intempéries da maledicência e dos “flagrantes preparados”.
Trata-se de um tema delicado. Porém, cedo ou tarde, terá que ser enfrentado na legislação. Nem tanto mar, nem tanto ao peixe...
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