Marca Maxmeio

Brasília em Dia

  • 20 de Junho de 2009

    A saída da crise

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    Amigo recém chegado de Paris mostrou-se surpreso com os efeitos da chamada crise econômica. Para ele, arrefeceu visivelmente a euforia consumista da “cidade luz”.

    Estudo recente do economista chefe do FMI, Ken Rogoff, sobre os antecedentes de crises financeiras em 122 países revela que serão necessários, em média, quatro a cinco anos para a plena recuperação. Nos três primeiros anos, as características serão o aumento do desemprego, economia informal em expansão e redução drástica da renda dos mais pobres.

    A atual crise econômica se instalou nos Estados Unidos, em meados de 2007 e imediatamente se alastrou em certos países europeus, sobretudo a Inglaterra. O agravamento se deu, a partir da falência do “Lehman Brothers” em setembro de 2008, transformando-se na pior crise mundial, desde a “grande depressão”. O PIB dos países industrializados despencou para taxas anuais de 7 a 8%. As previsões do FMI para o PIB mundial indicam queda de 2.5% e a impossibilidade de recuperar o índice de 2008 até 2011.

    As causas do débacle econômico continuarão sendo discutidas. Sem dúvida, a maior delas foi a excessiva confiança na capacidade de auto-regulação dos mercados financeiros. Os analistas são unânimes em considerar, que a política monetária expansionista da primeira metade dos anos 2000 contribuiu para os desequilíbrios mundiais. Como conseqüência ressurge o nacionalismo, através de diferentes formas de protecionismo, sobretudo as “barreiras comerciais”. Por outro lado, aumentam as tensões políticas, colocando em risco a capacidade institucional dos regimes democráticos.

     A economia real sofre com os efeitos catastróficos do desemprego em massa, que oferece o cenário típico da recessão social. A OIT calculou que no período de 2007 a 2009 existirão 50 milhões de pessoas desempregadas no mundo. Caso a economia não se recupere em curto prazo, em 2010 o desemprego continuará crescendo. As previsões indicam cerca de 200 milhões de pessoas com rendimento de U$ 2.00 por dia.

    Os países emergentes, como o Brasil, estiveram à margem da crise até bem pouco tempo. O fato levou o Presidente Lula denominar de simples “marola”, o que acontecia na economia global. No momento, todos começam a ser fortemente afetados por três razões básicas: o colapso generalizado do comércio internacional e dos preços de matérias primas; a paralisação dos financiamentos internacionais e a fuga de capitais instáveis; e a redução dos programas do Banco Mundial, que projeta 6% de queda este ano. Os países da Europa Central e Leste foram os mais prejudicados na área financeira e os tigres asiáticos e América Latina no campo comercial.

     A saída será muito mais política, do que econômica. Esta é uma crise que exige liderança política mundial e abre perspectivas para os Parlamentos assumirem essa responsabilidade, ao invés de simplesmente coadjuvarem os executivos na articulação de saídas técnicas.

    Somente a via política conduzirá a um “pacto global de empregos”. Se a economia é globalizada, as alternativas terão ser igualmente globais. Do ponto de vista econômico há convergência para o aumento da produção e a oferta de empregos estáveis. Alcançar essa meta exige que os países discutam politicamente os critérios de redução e aplicação dos gastos públicos, bem como a direção dos investimentos para a infra-estrutura, o abastecimento alimentar, as novas fontes de energia, o meio ambiente auto-sustentável e o estímulo às pequenas e médias empresas, por serem elas responsáveis pela maioria dos empregos gerados.

    Outro ingrediente tipicamente político no debate da crise mundial é a questão da garantia de governabilidade democrática. Ou cada país fortalece internamente a sua coesão política, através de “pacto” acima dos Partidos, ou as soluções apresentadas enfrentarão os obstáculos intransponíveis da “barganha”, das disputas eleitorais e dos interesses isolados de grupos.

    Há necessidade da união política como o caminho natural no enfrentamento da crise, sem que isso implique em adesismos, ou descaracterização dos partidos políticos. Trata-se, apenas, de visão em longo prazo e demonstração da capacidade de exercitar os interesses nacionais comuns.

     Portugal, Espanha, Chile e outros países já deram no passado prova da eficácia dos pactos democráticos, a favor da governabilidade. O Brasil teima em não apreender a lição. Por essa falta de percepção, o país poderá pagar um preço caro, em futuro próximo.

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    Revista Brasilia em Dia

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