Marca Maxmeio

Brasília em Dia

  • 21 de Março de 2009

    Como será o amanhã?

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    Usando a expressão do presidente Lula, dita ao então presidente Bush na sua visita a São Paulo em 2007, o ponto alto da recente audiência dos presidentes brasileiro e americano em Washington DC foi o “recado” de Obama sobre a prioridade ao programa econômico “Buy American” (compre produtos americanos), aprovado pelo Congresso. A Casa Branca quer sair da crise e trabalha com a hipótese de expansão da capacidade produtiva e exportadora dos Estados Unidos. A dívida pública dos Estados Unidos já atingiu US$ 10,9 trilhões e cresce com os trilhões que Obama aplica para conter o agravamento. Somente o aumento da demanda levará o país a produzir mais de U$ 30 trilhões em mercadorias e serviços nos próximos dois anos, como forma de anular a atual queda de consumo e de investimentos.

    Os Estados Unidos parecem ter optado pelo nacionalismo financeiro e o protecionismo comercial. Aliás, sempre foi a característica do partido democrata. Nesse particular, são sombrias as perspectivas de abertura em relação ao Brasil nas áreas do etanol e dos subsídios agrícolas. O lobby da agricultura norte-americana teme a concorrência do agronegócio brasileiro. Por tal razão, a rodada de Doha continuará na UTI, por muito tempo. Ela já veio ao mundo natimorta em 2001, no Qatar.

    Essa é a impressão que ficou do último encontro no dia 14, mesmo com o Presidente brasileiro tendo sido o primeiro governante latino-americano a ser recebido na Casa Branca e o terceiro líder mundial, depois dos primeiros-ministros Taro Aso (japonês) e Gordon Brown (britânico). Em termos pragmáticos, a deferência valeu muito pouco.

    Outro aspecto pouco comentado - embora abordado na imprensa internacional – refere-se ao surpreendente interesse de Obama pelo petróleo e derivados brasileiros, no pré-sal. A estimativa é extrair 1,8 milhão de barris de petróleo por dia em 2020, equivalente a todo o consumo atual do país.

    O próprio ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, admitiu que o assunto fosse tratado em Washington. Não se sabe se foi. Mas a divulgação por si só provoca consequências.

    Ao falar no pré-sal, nota-se certa incoerência de Obama, que acabou de lançar o programa “a nova economia de energia”, cujo objetivo maior seria abolir o uso do petróleo e o surgimento de novo modelo energético. O reinado da gasolina na América vem de Henry Ford no início do século XX e após a II Guerra Mundial, quando o petróleo substituiu o carvão. O atual presidente americano chegou a anunciar a sua intenção de assinar o protocolo de Kyoto, firmado em 1997, que obriga os países industrializados a reduzirem as emissões em pelo menos 5,2% entre 2008 e 2012 em relação aos níveis de 1990 e não teve aprovação no governo de George W. Bush.

    Como o presidente Obama explicará o desejo de firmar parceria em longo prazo com o Brasil no pré-sal, se ele é o autor da rígida proposta contra os combustíveis de origem fóssil?

    Ou será que o interesse de Obama no pré-sal é para fugir da dependência em relação à Venezuela no mercado energético americano? Os Estados Unidos compram atualmente entre 40% e 70% da produção petrolífera daquele país. Depois das descobertas das megarreservas brasileiras, o governo americano já reativou a sua frota para a América do Sul e o Caribe, composta de 11 embarcações. Com certeza existe algo no ar, fora os aviões da carreira.

    No mais, o encontro de Washington não passou de blablablá. Falou-se de estratégia conjunta contra a crise econômica, a ser apresentada na reunião do G20 em abril, Londres. Mais ou menos a mesma coisa ocorrida em 2007, na visita de Bush a São Paulo, quando os dois presidentes assinaram protocolos para incentivo a investimentos em biocombustíveis. Até hoje, nada de concreto.

    Obama repetiu praticamente o que disse Bush: o mercado de etanol não será aberto ao Brasil. Isto significa dizer que os Estados Unidos continuarão a aplicar tarifa de US$ 0,54 por galão (cerca de 3 litros) de álcool brasileiro, o que inibe a exportação do produto. Brasil e Estados Unidos produzem 70% do álcool mundial. As exportações brasileiras de álcool somaram 5,16 bilhões de litros em 2008 – 45,7% mais que 2007.

    A audiência terminou com fidalguias, de lado a lado. Obama acompanhou Lula no jardim das rosas na Casa Branca. Mesmo assim, a previsão do futuro é de que “nem tudo serão flores”.

    Vamos aguardar a visita do presidente americano ao Brasil. Além de Brasília, ele deseja ir ao Rio de Janeiro, a terra do samba.

    Até lá, como ficarão as relações entre os dois países? Simone canta e responde: “como será o amanhã; responda quem puder”.

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