Brasília em Dia
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01 de Novembro de 2008
América latina em debate
Biarritz, França – Participo como convidado do IX Foro de Biarritz, evento de grande repercussão mundial, instalado nesta cidade.
O Foro de Biarritz é um encontro entre representantes da Europa e da América Latina, organizado anualmente, desde o ano 2000. Trata-se de reflexão e intercâmbio de políticos, economistas, jornalistas, empresários, universitários em torno de temas da atualidade, que afetam a Europa e os latino-americanos. Busca-se a harmonia de ações em vários setores dos dois continentes.
A promoção do evento é do “Centro de Administração Europa-América Latina” (CMEAL), uma associação fundada em 1998 com a finalidade de criar uma ponte entre a Europa e a América Latina, favorecer, acompanhar intercâmbios e a integração.
A instituição funciona de acordo com o conceito de “organização em rede”, ou seja, tem sede em Biarritz e se irradia em núcleos que mobilizam as comunidades em função dos princípios da reciprocidade dos serviços prestados pelos seus membros nos níveis político, econômico, comercial e social. O CMEAL se empenha em posicionar-se como plataforma de intercâmbios e reflexões para o crescimento estável das relações entre a Europa e a América Latina.
Em momento de crise econômica mundial, justifica-se refletir sobre temas como a fome na América Latina. As Nações Unidas estabelecem que se costuma medir a pobreza em razão do nível de renda ou de gastos que permite sustentar um nível de vida estritamente essencial. Também engloba fatores como nutrição, expectativa de vida ao nascer, disponibilidade de água não-contaminada e condições higiênicas, saúde pública, saber ler e escrever e outros aspectos próprios da existência humana... Em função dos níveis de renda, o Banco Mundial fixou um valor de 370 dólares anuais per capita como limite para delimitar a pobreza; os que se encontram abaixo deste nível são classificados como pobres. Os extremamente pobres, segundo essa definição, são aqueles cuja renda anual fica abaixo de 275 dólares.
De acordo com dados da CEPAL (Panorama Social da América Latina, 1993), entre 1980 e 1990 o total de pobres aumentou 60 milhões, chegando, no começo da década de 90, a 196 milhões o número de latino-americanos com renda inferior a 60 dólares mensais. Isto significa que 46% da população total não consegue satisfazer suas necessidades fundamentais.
O mesmo organismo estima que em 1996 pouco mais de um terço da população regional (36,7%) era pobre (ou seja, não podia sustentar suas necessidades alimentares e não-alimentares essenciais), e uma em cada seis pessoas (16,1%) era indigente (ou seja, não podia sustentar suas necessidades alimentares essenciais)... Além de apresentar um alto nível de pobreza, os lares latino-americanos são afetados pela instabilidade de renda e de emprego.
Recente relatório do Banco Mundial revela dado curioso. A América Latina reduziu a pobreza em termos percentuais, porém cresceu o número de pobres. A recomendação é que a região deva se preocupar mais com a pobreza, se quiser crescer como a China. Enquanto a miséria foi reduzida em 42 pontos percentuais entre os chineses, com uma expansão do PIB próxima a 8,5% ao ano entre 1981 e 2000, a América Latina manteve níveis de pobreza inalterados e amargou taxas medíocres de crescimento.
Todas as análises concluem que o principal desafio enfrentado pela América Latina é transformar o Estado em um agente de redistribuição eficiente da renda, usando os escassos recursos como forma eficaz de reduzir a pobreza.
Nas intervenções que farei neste IX Foro de Biarritz defenderei que o combate à pobreza na América Latina passará pela realização de reformas internas em cada país e a criação da “Comunidade Latino Americana de Nações”, no modelo da União Européia. Se não fizermos o “dever de casa”, de nada adiantará aumentar as riquezas produzidas e receber bilhões e mais bilhões em investimentos.
A receita já é conhecida. Basta examinar como procederam os países que conseguiram quebrar o círculo vicioso da pobreza, na Europa e na Ásia. Todos sabem que é melhor uma porção menor de um grande bolo do que o inverso. Até para os que não abrem mão de acumular bilhões, é bom recordar que, na lista dos mais ricos do mundo, há muito que os potentados orientais saíram dos melhores lugares, substituídos por bilionários oriundos, justamente, dos países mais ricos e onde a renda nacional é melhor distribuída.
Estas as questões a serem debatidas em Biarritz. Esperam-se resultados satisfatórios no futuro.Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
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