Brasília em Dia
-
22 de Agosto de 2008
Itaipu – parceria ou explicação?
Do ponto de vista externo, o grande desafio do governo será a posição intransigente do recém-empossado presidente do Paraguai, Fernando Lugo, que propõe a revisão do Tratado de Itaipu. Para ganhar a eleição e acabar com 60 anos de domínio do Partido Colorado, o “ex-bispo” apontou os brasileiros como “ricos”, “exploradores” e “estrangeiros imperialistas”.
Lugo promete alcançar o “paraíso econômico” ao obrigar o Brasil a pagar mais caro pela energia que compra da cota paraguaia, na usina de Itaipu. Chávez na Venezuela, para obter dividendos políticos, montou estratégia de dominação da América Latina, com base na riqueza do petróleo e termoelétricas. Na Bolívia, Evo Morales, do gás natural. O Paraguai somente alcançará o seu objetivo se “rasgar” o contrato em vigor, que assegura a cada país a metade da produção da hidrelétrica binacional, com o excedente vendido ao parceiro.
Têm o mesmo discurso e perfil ideológico de Lugo e Chávez, os presidentes latino-americanos do Equador, Nicarágua, Uruguai, Argentina e Cuba. E o presidente Lula em que posição ficará? Certamente, prosseguirá dando uma “no ferro e outra na ferradura”. Talvez, como couraça política, o governante brasileiro tenha se antecipado à posse de Lugo ao acender a fogueira do nacionalismo, com o anúncio feito perante os estudantes da UNE, de que enfrentará a ganância dos acionistas norte-americanos da Petrobras, impedindo que eles tenham lucros com a exploração do petróleo nas reservas gigantes da nossa “camada pré sal”. O governante brasileiro sempre usa habilmente as técnicas típicas da negociação sindical, com idas, vindas, e sempre cedendo ao final, para obter acordo.
No caso de Itaipu, a história é diferente. Trata-se de defender ou deixar de lado a soberania e os interesses nacionais. De um lado, Lugo promete aumentar em mais de quatro vezes o preço da energia vendida ao Brasil. Ele repetiu na sua campanha que “se a água do rio Paraná é do Paraguai, não há razão para a energia ser do Brasil”. Esqueceu, apenas, que a construção da usina foi totalmente paga pelo nosso país.
Estamos diante de um fato basicamente econômico, em que pesem as variantes políticas. As 14 comportas da usina hidrelétrica de Itaipu, abertas em 5 de novembro de 1982, tornaram-se realidade pela parceria firmada no Tratado de Itaipu em 1973, no qual o Brasil se obrigou a “bancar” a obra sozinho. Anteriormente, a energia elétrica consumida no Paraguai era obtida em centrais térmicas, com a queima de madeira e óleo. O país não produz petróleo. Como em qualquer negócio transparente, a contrapartida estabelecida foi de que a propriedade e a energia seriam divididas na base de 50% para cada parte. O Brasil faria a captação dos recursos junto a bancos internacionais e instituições de fomento (mais de U$ 12 bilhões de dólares). O Paraguai pagaria a sua dívida não em dinheiro, mas assegurando ao Brasil o excedente da energia que lhe cabe a preço de custo, por um período de 50 anos, que vigora até 2023. O valor da tarifa paga ao Paraguai leva em conta o serviço da elevada dívida contraída. Se os paraguaios tivessem entrado com dinheiro na construção de Itaipu, claro que o preço seria melhor. Ao longo do tempo, o Brasil já fez várias concessões, inclusive o aumento da contribuição pelos royalties e a retirada da inflação norte-americana sobre dívida do país, em 2006.
As estatísticas confirmam que, atualmente, o Paraguai utiliza 7% da energia produzida, o que significa o atendimento de 95% da demanda no país. O Brasil consome a sua parte de 50% e mais 43% da que pertence ao Paraguai, que corresponde a 20% da nossa demanda interna. Em linguagem mais clara, quem paga na verdade a dívida paraguaia é o consumidor brasileiro. E, mesmo assim, está sendo qualificado como “explorador” e “imperialista”.
Na posse do “ex-bispo” Lugo, o presidente Chávez prometeu ao Paraguai todo o petróleo que o país venha a precisar. No seu estilo rompante colocou “espada Dâmocles” na cabeça do Brasil para forçar a entrada da Venezuela no “Mercosul”. O abraço afetuoso de Lula no presidente empossado revelou disposição para o diálogo. Todavia, a pretensão paraguaia de revisão do contrato tem a reprovação internacional e gera descrença para o investidor. Poderão existir recompensas, desde que não se desconheça o elevadíssimo investimento feito pelo Brasil para viabilizar Itaipu.
A expectativa é a de que o presidente Lugo não faça o que fez Evo Morales em 2006, quando invadiu as refinarias da Petrobrás para forçar o aumento no preço do gás exportado para o Brasil. Se Itaipu for invadida, a conseqüência mais provável será o Paraguai ficar totalmente sem energia elétrica e voltar a queimar madeira e óleo para obtê-la....Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
www.brasiliaemdia.com.br
Notice: Undefined variable: categoria in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Trying to get property of non-object in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined index: pagina in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined variable: totalPaginas in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined offset: 1 in /home/neylopescom/public_html/restrito/incs/funcoes.php on line 618