Brasília em Dia
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17 de Maio de 2008
Artur da Távola
Morreu Artur da Távola, 72, político, advogado, jornalista, escritor, professor e radialista.
Coluna semanal
Convivemos durante algum tempo. No Congresso Nacional (ele senador e eu deputado federal). E também na militância do Parlamento Latino-Americano (Parlatino).
Sempre tive por ele grande admiração. Um homem culto, sensível, humano, percuciente. Em cada palavra pronunciada irradiava a marca do infinito e o respeito mútuo entre as pessoas.
No ano 2000 viajamos à Ásia. Percebi com maior profundidade a sua visão cósmica do ser humano. Era um místico. Procurava Deus. Quando visitamos em Bangcoc os templos de Buda Ouro, Buda Reclinado, Buda de Esmeralda ouvi dele depoimentos de admiração a Siddharta Gautama, o “Buda”.
Recordo a sua imagem, unindo as mãos em postura de devoção, diante do Buda esculpido no jade, considerada a réplica mais sagrada entre os budistas. A imagem foi encontrada no século XV e está na Tailândia. Ele explicou aos companheiros de viagem, que o budismo, em princípio, rejeitava imagens, por não considerá-las importante na visão externa do mundo. Depois, os budistas sofreram a influência grega e criaram estátuas.
Com voz pausada, o senador Artur da Távola referia-se com satisfação a algumas práticas budistas. Uma delas, que recolhi nas anotações da viagem, era estimular o sorriso permanente, como meio de enfrentar o jogo de êxtases, agonias da vida e combater a ira, a cobiça e a ignorância.
Artur da Távola levava consigo a marca do professor. Militamos no Parlamento Latino-Americano (Parlatino). Como vice-presidente da instituição no ano de 1999, sugeri o seu nome para presidir a Comissão de Assuntos Culturais, Educação, Ciências e Tecnologia.
Ao assumir a presidência definiu, em discurso, as suas prioridades de ação: a criação, desenvolvimento dos valores culturais e o surgimento de uma identidade cultural latino-americana; desenvolvimento dos sistemas educacionais latino-americanos, escolarizados e não-escolarizados; desenvolvimento da ciência e da tecnologia; e, promoção do intercâmbio cultural, educacional, científico, tecnológico e esportivo entre os países da América Latina e destes com o resto do mundo.
Fez um belíssimo trabalho. Afirmou-se perante os parlamentares latino-americanos e caribenhos pela seriedade de conduta e idéias criativas. Consta dos anais parlamentares do Parlatino, que na XII Reunião da Comissão, realizada em 1999 na cidade do México, apresentou um projeto pioneiro de integração cultural, através do rádio e da televisão. A proposição foi acolhida.
No ano 2000, quando a Comissão voltou a reunir-se em Salvador, ainda sob a sua presidência, a então deputada Marisa Serrano sugeriu que a proposta de Artur da Távola abrangesse todos os meios de comunicação oficiais da América Latina para a difusão de programas produzidos especificamente dentro da concepção de integração cultural. A idéia de ambos prosperou e mereceu acolhimento de vários governos latino-americanos.
Na presidência da Comissão de Assuntos Culturais, Educação, Ciências e Tecnologia consolidou a parceria do Parlatino com a Unesco, através do Plano de Educação para o Desenvolvimento, Integração da América Latina e a formação da rede de parlamentares pela Educação (Parlared). Este Plano – ainda em execução - consiste na modificação e ajuste de conteúdos e procedimentos vigentes nos sistemas educativos. A Rede de Parlamentares pela Educação fixou um espaço virtual, que interconecta os 22 Parlamentos membros do Parlatino, com a finalidade de fortalecer o compromisso legislativo com políticas educativas.
A última vez que o vi foi no saguão da então sede do Parlatino em São Paulo, quando prestigiou a aposição do busto do senador Nelson Carneiro, um dos presidentes brasileiros daquela instituição. Irradiava simpatia e tranqüilidade. Pareceu-me ainda disposto a voltar à vida pública. Esperava, talvez, o momento certo.
Os finais de semana ficarão mais vazios pela ausência de Artur da Távola na TV - Senado. Ele não apenas apresentava o seu programa de música clássica. Ministrava aulas eruditas sobre o tema. Encantava a todos. Era um bálsamo para a alma.
No Congresso Nacional a sua imagem cordata permanecerá para sempre. Usou o mandato como meio de propagar a paz, a solidariedade e a ética. E por isto recebe a homenagem póstuma do Brasil.
Revista Brasilia em Dia
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