Marca Maxmeio

Brasília em Dia

  • 01 de Março de 2008

    A dívida externa

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    A euforia tomou conta do Brasil na última semana. A mídia anunciou em manchetes, que o país deixava de ser devedor para tornar-se credor internacional.

    Cabe opinar – sem pretensão de ser dono da verdade – sobre o que realmente acontece.

    Tudo começou com a inegável coragem do presidente Lula ao atender o convite do presidente Fernando Henrique e aceitar a “Carta ao Povo Brasileiro”, em plena campanha eleitoral (junho de 2002).

    O documento, firmado pelo então candidato Lula foi recheado de frases a favor de “mudanças”, inclusive do então vigente modelo econômico. No final, a “carta” preservou toda condução da política econômico-financeira brasileira. Garantiu claramente “o respeito aos contratos e obrigações do país”. Trocando em miúdos, foi descartado o discurso usual do Partido dos Trabalhadores, a favor de uma moratória externa e plebiscito para decretar o “calote”. O candidato, ao contrário, comprometeu-se a honrar os contratos da dívida externa como forma de o país alcançar o desenvolvimernto sustentável. Foi contundente na preservação da política de combate à inflação, que classificou como “processo de corrosão do poder de compra dos salários dos trabalhadores”.

    Até hoje, não está claro se os correligionários mais ortodoxos do PT leram a “Carta ao Povo Brasileiro”. Numa hipótese ou noutra, ela foi à salvação do Brasil e o grande mérito do atual governo federal. Ajustaram-se certas distorções conjunturais, porém o núcleo da política econômica foi mantido.

    Pode-se indagar, se tal estratégia é responsável pela suposta estabilidade econômica brasileira.

    Responde-se com outra pergunta: será que o Brasil está mesmo imunizado contra abalos econômicos futuros?

    A economia mundial se expande a níveis superiores à década de 70 (crescimento médio era de 4.9%). Contribuem as exportações de produtos primários dos países em desenvolvimento e o crescimento alcançado pela China e Índia.

    No embalo da desvalorização mundial do dólar, o governo coloca diariamente grande volume de títulos no mercado para atrair dólares (fluxo de IED estimado em U$ 35 bilhões) e mantém o estoque elevado. A dívida interna já atinge 43% do PIB. De certa maneira, esse endividamento gera mais instabilidade do que a dívida externa.

    Outro risco está na previsão de queda no preço das commodities (matérias primas industriais), que constituem a base das exportações nacionais (significam 40% do total exportado pelo país). O agro-negócio atingiu a impressionante cifra de quase U$ 60 bilhões de dólares. O preço de grãos – carro chefe do setor – declina em 2008, comparado com 2007 e as previsões são de queda nos anos seguintes.

    Qualquer trepidação nas cotações de commodities agrícolas afetará negativamente a balança de pagamentos. O caminho natural será o reforço da nossa matriz exportadora, com a prevalência de manufaturados e serviços.

    Todo este cenário me lembra a história de Sorte ou Azar, da mitologia chinesa. Um menino pobre chinês desejava ter um cavalo e ganhou potrinho de presente. Amigo comenta a sua sorte e o pai responde: “Pode ser sorte ou azar”. Depois, o animal fugiu e diante do comentário de ingratidão para com o seu filho, o pai repete: “Pode ser sorte ou azar”. Passado o tempo, o potro volta com uma manada. Surge o comentário de que o rapaz teve sorte por ter criado um potrinho e ele voltar adulto para servi-lo. O pai insiste no mesmo comentário: “Pode ser sorte ou azar”. Em seguida, o rapaz, ao treinar o cavalo que voltara, cai e quebra a perna. Inverte-se o comentário. Afirma-se que o rapaz teve azar. O pai permanece com a mesma máxima: “Pode ser sorte ou azar”. Declarada guerra no reino onde residiam, alguém afirma: “Seu filho é de sorte. Com a perna quebrada não irá à guerra”. O pai novamente manteve o princípio: “Pode ser sorte ou azar”.

    Quando se divulga aos quatro ventos, que o Brasil quitou a dívida com os credores externos será que a “Carta ao Povo Brasileiro” de 2002 trouxe sorte ao país para manter a estabilidade da nossa política econômica? Ou, essa euforia antes do tempo, poderá transformar-se em azar?

    Somente o dever de casa bem feito dará a garantia da estabilidade futura.... 

    Coluna semanal
    Revista Brasilia em Dia

    www.brasiliaemdia.com.br


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