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Brasília em Dia

  • 25 de Janeiro de 2008

    Eleições americanas

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    Em matéria de eleições presidenciais os Estados Unidos mantêm o sistema adotado no século XVIII, praticamente sem mudanças. Até a próxima super-terça (5 de fevereiro) – coincidentemente terça de carnaval –, a maioria das “eleições primárias” terá sido realizada. O quadro da disputa se definirá, após a última primária, no dia 19 de fevereiro, em Wisconsin.

    Há uma peculiaridade na eleição norte-americana. Ela passa por quatro etapas decisivas: as primárias, as convenções, o sufrágio direto (será no dia 4 de novembro de 2008) e o Colégio Eleitoral. O voto não é dado diretamente ao presidente. São votados os delegados dos partidos, os quais não podem ser deputados, nem senadores. Os eleitos, regra geral, respeitam o voto popular no Colégio Eleitoral. Recorde-se o ano de 2000, quando George W. Bush perdeu no voto popular para Gore e se elegeu no Colégio Eleitoral. Esse fenômeno também aconteceu com John Quincy Adams (em 1825), com Rutherford Hayes (em 1877) e com Benjamin Harrison (em 1889). O presidente vitorioso este ano tomará posse no dia 20 de janeiro de 2009.

    Outro aspecto a considerar é o voto facultativo. Apenas a metade dos cidadãos em condições de votar alista-se como eleitor. A média de comparecimento nas eleições presidenciais é de 45 a 50%.

    O atual processo eleitoral americano demonstra certa inquietude do eleitorado. As pesquisas valem pouco. Veja-se um dos primeiros resultados em New Hampshire. A senadora Hillary Clinton estava atrás 19% do seu concorrente senador Obama. Apurados os votos, ela ganhou.

    Observa-se que o processo eleitoral americano tende a polarização, a partir das eleições entre 1992 e 2000, cujas vitórias foram por margens mínimas. O Presidente Bush com o seu estilo pessoal dividiu o país entre os que o respeitam e os que o odeiam. No passado pesaram na decisão do eleitor os valores morais, a política externa, pesquisas com células-tronco, seguro saúde, aborto, religião etc...

    2008 parece repetir o pleito de 1992, quando o assessor político de Clinton, James Carville, responsável pela estratégia da campanha e contra todos os demais assessores, exclamou para espanto de todos: “é a economia, estúpido!”. Na época George Bush (pai) somava inúmeros sucessos em sua política externa. Havia vencido a guerra contra o Iraque. Pesou a queda da economia, que levou Bush à derrota e Clinton à vitória. Depois, quando Clinton enfrentou até o risco de impeachment por escândalos sexuais, Carville lhe deu o mesmo conselho de segurar a economia. O Presidente assim agiu e não apenas manteve-se no cargo como elegeu a esposa Hillary Clinton senadora da República e terminou o seu governo como o mais popular nos Estados Unidos.

    Agora, tudo leva a crer que, de novo, a economia será o fator número um para a captação de votos. Dados de pesquisas recentes comprovam isto. O mais importante para o eleitor americano é 29% a economia, seguida da guerra do Iraque (23%); assistência social à saúde (20%); a questão da imigração ilegal (14%) e o terrorismo (10%).

    O barril de petróleo ultrapassando U$ 100 dólares e a recessão batendo à porta faz com que os candidatos falem cada vez mais em assuntos ligados “ao bolso do povo”. Isto é o que interessa. Hillary, por exemplo, insiste na proposta de US$ 70 bilhões de estímulo fiscal para a economia, incluindo habitação de emergência e assistência para pagar as contas de aquecimento. Até entre os republicanos, geralmente contrários a intervenções na economia, o candidato Mike Huckabee lançou a idéia do imposto único e soluções para reduzir a desigualdade de renda. Falta pouco para ele aderir à “bolsa família” (!!!).

    Os também republicanos Rudy Giuliani e McCain pregam a simplificação e redução de impostos e os empregos perdidos por causa dos tratados comerciais que os EEUU fazem com outros países, roubando empregos de americanos.

    O democrata Obama compensa a sua pouca experiência em política externa com a defesa de políticas sociais para atender aos eleitores pobres, hispânicos e negros.

    Qualquer tipo de eleição nos Estados Unidos é extremamente caro. As “primárias” custam mais do que a própria campanha em si. O significativo é a forma realista como a nação enfrenta a questão do “dinheiro” nas campanhas. Tudo é feito às claras. Os candidatos, por exemplo, promovem reuniões ou café da manhã e cobram ingressos de U$ 10 mil dólares ou mais. As empresas automobilísticas doam veículos de primeira linha para sorteios durante as convenções. As corporações econômicas ou sindicais apóiam e “gastam” com os defensores dos seus pontos de vista. Tudo à luz do meio dia.

    Certamente, a lição americana deveria valer para o Brasil, caso um dia resolva discutir a já inadiável reforma política, partidária e eleitoral. Será muito mais honesto legalizar e regulamentar o “lobbie” – inclusive dos eleitos -, do que a hipocrisia de proibir tudo, sem na prática proibir nada. O resultado são os “mensaleiros”, retratos 3x4 da falsa democracia em que vivemos.     (Seu Comentário

     

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