Marca Maxmeio

Brasília em Dia

  • 03 de Agosto de 2007

    O desafio de Jobim

     

     

     

     

    Dois gaúchos de influência nacional colocam-se no epicentro do chamado apagão aéreo brasileiro, que se arrasta há anos, mas que o público só tomou conhecimento em 29 de setembro de 2006, quando morreram no desastre da Gol 154 pessoas. São eles o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) e o ministro Nelson Jobim. 

    O primeiro sentia a crise e queria investigá-la, custasse o que custasse. Em abril, chegou quase às vias de fato com o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que presidia a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e se opunha à criação de uma CPI para apurar o caos nos aeroportos. Em um dos seus últimos discursos no plenário indagou perplexo: “Qual será a próxima vítima?”. Mal sabia, que meses depois seria ele próprio. A sua voz calou para sempre. O meu amigo pessoal, Júlio Redecker, morreu em São Paulo, no desastre da TAM.

    Após três convites, Nelson Jobim aceita o Ministério da Defesa. Enfrentará a insatisfação generalizada com o apagão aéreo, que revolta a Nação. Conheço-o há vários anos. Fomos colegas de Câmara Federal, desde a Constituinte. Acertou o presidente da República ao indicá-lo para a difícil tarefa. Sócrates disse que “sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos”. Jobim é por formação e natureza um “forte general”. Tem competência e preparo pessoal, não apenas para enfrentar o apagão, mas enxergar que é absolutamente fundamental priorizar, modernizar e valorizar, o quanto merecem as Forças Armadas brasileira, instituições respeitáveis e de credibilidade.

    A experiência internacional demonstra que a gestão coloca-se como ponto fundamental na operação e eficiência das malhas aéreas. O problema é de tamanha dimensão que não comporta transferir responsabilidades, ou transformá-lo em proselitismo político de governo ou oposição. O povo sofre com as filas, o desconforto dos aeroportos e a insegurança propagada. Cabe ao governo atuar e a oposição colaborar.

    Nessa ótica, o Ministério da Defesa terá que agir com cautela e rapidez. Aplica-se o axioma chinês de que “paciência é uma árvore de raízes amargas, mas de frutos doces”. Talvez por isto, o novo ministro da Defesa tenha afirmado que se for necessário manter as “filas” para encontrar alternativas de eficiência, elas serão mantidas. Não se pode negar que o problema vem de muito tempo. Sempre que se falou no passado em contingenciar verbas no OGU, os investimentos aéreos foram candidatos ao primeiro lugar da fila. Talvez, somente o dramaturgo romeno Ionesco – no seu teatro do absurdo – poderia descrever o tratamento inusitado dado ao longo de muitos anos à realidade da nossa malha aeroviária. Nunca foi tão atual o provérbio espanhol, que diz: “Acredite no que você vê e em nada do que lhe dizem”.

    O Brasil necessita de tratamento semelhante ao sugerido a Jeca Tatu, no famoso conto de Monteiro Lobato. Embora tivesse uma vida com potencial para progredir, Jeca estacionava. Um médico diagnosticou-lhe o “amarelão”. Doença típica da obsolescência em que vivia. O “amarelão” do apagão aéreo se chama obsolescência na infra-estrutura, sobretudo gerencial do controle aéreo nacional, além da falta de pessoal especializado e permanentemente atualizado.

    Por outro lado, o diagnóstico realístico aponta a pulverização no comando do setor. As responsabilidades e competências se esfacelam entre a Aeronáutica, ANAC e a Infraero. Percebe-se a inexistência de uma estratégia única e indivisível, onde prevaleçam à busca da qualidade total dos serviços e a preservação do interesse público. Bastaria citar como exemplo as recomendações feitas pelo Centro Nacional de Investigações e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – órgão da FAB – que, segundo a imprensa, ainda passam por trâmite burocrático incompreensível, antes de serem implantadas. Fala-se de outra lista de recomendações – igualmente descumpridas – da “National Transportation Safety Board” (NTSB) – a agência americana que trata de segurança aérea e participa das investigações do acidente da Gol. Por justiça, não se pode imputar incapacidade, porém falta o mínimo de agilidade e coordenação aos responsáveis pela segurança aérea do país.

    Nesse quadro desafiador chega o ministro Nelson Jobim. Nota-se a sua disposição de agir, sem influências políticas e no propósito de acertar o “passo”. Para tanto, recebeu “liberdade total” do presidente da República. Acredito que o novo ministro não fará milagres. Até por ser impossível. Porém, agirá na linha do poeta espanhol Rafael Alberti: “Caminante, no hay camino; el camino se hace al andar”. Sob o comando de Jobim – não tenho dúvidas – o setor aéreo começará a andar e construir o seu caminho de estabilidade e segurança. Este será o seu principal desafio. (Comentários)

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