Brasília em Dia
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19 de Maio de 2007
O Papa no Brasil
Depois de ouvir as mensagens do Papa Bento XVI, em sua recente visita ao Brasil, recordei um fato da minha vida de repórter. Trabalhava em jornal católico do Rio Grande do Norte – A ORDEM -, onde cheguei a ganhar um “prêmio Esso “regional com a série de reportagem “A cidade por dentro”, mostrando os contrastes sociais em Natal. Em 1963, visitava o Rio de Janeiro. Soube de uma entrevista coletiva do governador Carlos Lacerda, no Palácio Guanabara. Atrevidamente e para surpresa da “grande imprensa” sentei-me ao lado do Governador e apresentei-me como jornalista potiguar. Na época, ocorriam movimentos sociais no nordeste. De um lado, as “ligas camponesas” de Francisco Julião e de outro o sindicalismo rural cristão, fomentado pelo Serviço de Assistência Rural (SAR), da Arquidiocese de Natal.
Perguntei ao Governador Carlos Lacerda: “qual a opinião do Senhor sobre a ação da doutrina social da Igreja, que beneficia e defende os pobres, através do sindicalismo cristão?”.
Lacerda fitou-me com olhar circunspeto e disparou: “a missão da Igreja deve ser a de pescar almas. Ocorre que a Igreja no Brasil está colocando “iscas sociais” na ponta do anzol. E se preocupa mais com as “iscas” do que com o “peixe”.
O momento atual é diferente da década de 60, no século passado. Mas, não é por acaso que o anel do Papa Bento XVI traz a imagem do "pescador de homens": Pedro Apóstolo, Príncipe dos Apóstolos (o Papa, como indicam as iniciais). Ele, em todos os seus pronunciamentos, sobretudo ao falar aos bispos na Igreja da Sé (SP) e na instalação da “5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe” deixou claro que a sua prioridade é a luta por valores ligados à conduta ética de cada indivíduo, ou seja, “pescar almas”. Testemunhar as verdades eternas, anunciar a Cristo como o único Redentor da humanidade e a Igreja única e exclusiva mediadora, fora da qual não há salvação.
Observou-se também que o Papa não radicalizou com as correntes da Igreja, que priorizam a luta por justiça social, naqueles temas em destaque na teologia da libertação de Leonardo Boff, pensamento em conflito com Ratzinger desde 1985, quando o frade brasileiro e o teólogo Jon Sobrino, de El Salvador, foram condenados pela Congregação para Doutrina da Fé com a pena do “silêncio obsequioso” (deposição de cátedra, proibição severa de falar, dar entrevista, escrever e publicar sobre qualquer assunto).
O Pontífice ao falar colocou o catolicismo a serviço da “solidariedade”, em relação aos “pobres e desamparados” e mencionou a importância das culturas indígenas. Ao citar o papel da Igreja como força capaz de enfrentar os problemas sociais e econômicos, Bento XVI aconselhou os bispos a darem assistência material às pessoas, mas que essa ajuda esteja sempre vinculada à assistência espiritual. É o que o Papa gosta de chamar de primazia de Deus, ou seja, colocar Deus sempre em primeiro lugar.
A última conseqüência da visita de Bento XVI ao Brasil serão as conclusões da Conferência de Aparecida. O evento já é tradição na Igreja. A primeira realizou-se há 52 anos, em 1955, no Rio de Janeiro, quando se criou o CELAM (Conselho do Episcopado Latino-Americano). Depois, os bispos voltaram a reunir-se em Medellin, Colômbia (1968); Puebla, México (1979); Santo Domingo, República Dominicana (1992). As conclusões do próximo dia 31, dos 200 arcebispos, bispos, 20 representantes de outras Igrejas e observadores orientarão a forma como a Igreja Católica enfrentará os desafios do mundo contemporâneo no Continente.
Penso, logo digo... É compreensível a posição dogmática do Papa Bento XVI. Tem razão o filósofo Luiz Felipe Ponde (PUC-SP), quando analisa que o grande erro teológico do cristianismo político é não ver que, diante da dúvida de Pilatos, o escolhido pelo povo foi Barrabás. O que será da Igreja se ela transigir nos seus princípios? O diálogo com a modernidade é indispensável. Porém, o “tsunami ético” que atinge a humanidade é de tamanha dimensão, que a Igreja não pode vacilar na preservação da sua essência doutrinária.
A própria Igreja enfrenta dificuldades internas, exigindo que Bento XVI continue a ser tão disciplinador, quanto foi na sua função anterior como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé no Vaticano. Uma onda de escândalos sexuais envolvendo padres, sobretudo norte-americanos, mas também europeus e brasileiros, abalou a reputação da Igreja Católica e a obrigou a condenar a pedofilia em 2002.
A visita de Bento XVI ao Brasil deixou claro que ele corajosamente assume a condição de "sucessor do apóstolo Pedro", o primeiro Papa, indicado por Jesus Cristo como líder da Igreja, a sua rocha, alicerce e sustentáculo. O Papa alemão como acadêmico e professor universitário demonstrou que sabe dialogar, sem transigir.
Revista Brasília em Dia
Data de Publicação: 19 de maio de 2007
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