Brasília em Dia

• 02 de Novembro de 2012

  A vitória de ACM Neto

  

   

  A vitória em Salvador do prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto é um fato marcante na vida política nacional, não apenas em relação à administração da Prefeitura, mas pela contribuição que poderá dar na refundação do seu partido – o Democratas.

  Escrevo assim, por ter sido membro fundador do PFL (hoje DEM), integrante do seu primeiro Diretório Nacional, além de presidir o Instituto Tancredo Neves, sucedido pela atual Fundação Liberdade e Cidadania e outras funções.

  Ainda filiado ao DEM conheço bem a história da trajetória partidária. A idéia inspiradora da sua criação, à frente o vice-presidente Aureliano Chaves e o senador Marco Maciel, era incorporar a doutrina social liberal. Mesmo com a resistência de alguns militantes, o período de hegemonia do ex-senador Jorge Bornhausen impregnou o partido do estigma do conservadorismo. Ninguém pode negar isto.

  O senador Antônio Carlos Magalhães sempre foi a âncora partidária, na condição de expressivo líder popular, acima das ideologias e das doutrinas. Tinha brilho e visão próprios. Despertava ódio e paixões. Como político atraiu a simpatia até de Fidel Castro, líder comunista internacional, a quem recebeu duas vezes em Salvador e ajudou pessoalmente, junto ao presidente Sarney, no restabelecimento das relações entre Cuba -Brasil e na montagem do sistema de telecomunicações do país caribenho, o que nunca foi esquecido por Fidel.

  Ouvi na Câmara Federal inúmeros depoimentos sobre a maneira magnânima como ACM tratava os partidos de extrema esquerda na Bahia, sem jamais persegui-los. Sou grato ao seu filho, Luís Eduardo Magalhães, com quem tive próxima convivência. Éramos amigos. Pelas suas mãos cheguei a postos importantes no Congresso, como Presidente das comissões de Ciência, Tecnologia e Comunicação; Constituição Justiça e Redação Final; relator da lei de marcas e patentes e da emenda constitucional que abriu a economia brasileira.

  Luís Eduardo teria sido Presidente do Brasil, por mérito pessoal. Ouso dizer que o recém eleito prefeito de Salvador, em médio prazo poderá resgatar esse desígnio do tio. Uma das maiores causas da atual crise política brasileira é a ausência de líderes, que exprimam o sentimento nacional, com posições corajosas, propostas viáveis e carisma. ACM Neto tem condições de preencher o vazio. Para atingir tal objetivo terá que liderar a refundação do DEM, a fim de que possa dispor de partido moderno e ágil, sem o pesado rótulo de uma sigla conservadora. A vitória em Salvador foi totalmente pessoal.

  Refundar significará mostrar ao país a doutrina liberal social como instrumento de efetiva mudança. Deixar o blá blá bá e colocar na mesa de discussão propostas concretas das reformas essenciais que o Brasil necessita, convocando governo e oposições para debatê-las, abrindo o caminho para a governabilidade estável.

  Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, lembra que o liberal John Stuart Mill priorizou o social “por acreditar que é necessária uma distribuição justa de oportunidades, diminuindo a distância entre os mais ricos e os mais pobres”. Bauman, de forma ousada, chega a afirmar que o liberalismo social e o socialismo democrático se aproximam e preservam dois valores fundamentais: liberdade e segurança.

  Na verdade, o liberalismo social é uma bandeira de mudanças sociais, com maior aproximação às teses progressistas, do que os chamados democratas sociais. A história comprova que a partir do século XIX, a doutrina liberal-social assumiu o perfil de força revolucionária e mobilizou as massas oprimidas pelos nobres e reis absolutistas. Teve  participação essencial em conquistas fundamentais no campo do direito trabalhista, das políticas tributárias, a criação do imposto de renda, a jornada de trabalho e o incentivo à organização sindical. 

  O DEM na sua inadiável refundação terá que optar entre adequar-se às bandeiras da verdadeira doutrina liberal-social, ou, ao contrário, assumir definitivamente a condição de porta voz do conservadorismo político. A vitória de ACM Neto se coloca como a ponte, que demarcará o passado e o futuro do partido.

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