Marca Maxmeio

Brasília em Dia

  • 02 de Fevereiro de 2007

    Saudade, não; Lembrança, sim

     

     

     

    Após seis legislaturas deixo a Câmara dos Deputados. Saio de cabeça erguida. Com o nome limpo e vasta folha de serviços prestados. Olho de frente, sem receios, para aqueles que acreditaram em mim e ainda poderão acreditar no futuro. Permaneço na vida pública. Aguardarei com paciência os dias que virão. Acumulei muita experiência. Coloco tudo a serviço do meu Estado e do país. Optei por disputar a vice-governança no Estado do Rio Grande do Norte e a coligação perdeu a eleição. Retorno à atividade profissional em Natal e Brasília. E por convite honroso do amigo jornalista Marcone Formiga estarei sempre nessa página, pensando e logo dizendo a minha opinião sobre temas variados.

    Orgulha-me ter sido parlamentar por tanto tempo. Os que agora chegam pertencerão a uma Casa digna composta de funcionários dedicados e competentes. O plenário nada mais é do que uma foto 3x4 do povo brasileiro. Bons e maus. Competentes e incompetentes. Ninguém chega ao Congresso Nacional por nomeação. O voto popular, quando deturpado pelo poder político e econômico preserva a sua essência de opinião da cidadania. Aperfeiçoar esse voto é tarefa da legislação, mas será também daquele que vota. Não se pode eximir a responsabilidade do eleitor na escolha atraída por vantagens materiais. Consuma-se o que em direito penal se denomina co-autoria, ou seja, quem de alguma forma concorre para o delito incorre nas penas a ele cominadas.

    Estou certo de que contribui na atividade congressual com relatorias de temas complexos como a Lei da Propriedade Industrial (Marcas e Patentes); emenda constitucional que eliminou a diferença entre empresa nacional e estrangeira; presidente da Comissão Mista de implantação do Plano Real; Presidente do Parlamento Latino-Americano; Presidente do Instituto de Estudos Políticos “Tancredo Neves”; Procurador Geral da Câmara; Presidente de várias Comissões, principalmente Constituição e Justiça e Ciência, Tecnologia e Comunicação; relator geral da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre medicamentos; proposição, em 1975, do crédito educativo – hoje FIES; quebra do sigilo bancário; aproveitamento econômico da biodiversidade nacional e tantas outras atividades.

    O insucesso eleitoral faz parte do jogo. Recordo Paulo Coelho: “O guerreiro da luz sabe perder. Ele não trata a derrota como algo indiferente, usando frases como “bem, isto não era tão importante”, ou “na verdade, eu não queria mesmo isto”. Aceita a derrota como uma derrota, e não tenta transformá-la em vitória ou experiência. Amarga a dor dos ferimentos, a indiferença dos amigos, a solidão da perda. Nestes momentos, diz para si mesmo:” Lutei por algo, e não consegui. Perdi a primeira batalha. Ele sabe que ninguém ganha sempre - mas os corajosos sempre ganham no final”.

    Quando vejo a euforia do novo Congresso Nacional, recém empossado, desejo a todos que sigam a máxima de que sonhar é preciso, porque “nada é impossível, pois os sonhos têm a ver com a realidade e quem não sonha não é feliz”. Há excessos no julgamento negativo feito ao Parlamento. Muita coisa que se propaga é o “marketing” de transformar o dever em virtude. A ética como regra permanente de conduta é dever do eleito e nunca virtude.

    Shakespeare escreveu um texto denominado “você aprende”. Deixo alguns trechos para a reflexão do Leitor. Sobretudo, o parlamentar que chega a Brasília para o exercício de mandato eletivo:

    “Aprenda que não importa o quanto você se importe, alguma pessoas simplesmente não se importam. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.

    “Aprenda que, ou você controla os seus atos ou eles o controlarão e, que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprenda que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.

    “Portanto, plante seu jardim e decore a sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.

    “E, assim, você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte e pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e você tem valor diante da vida”.

    Não posso negar: sentirei saudade da atividade legislativa. Sempre a exerci por vocação. Foi durante mais de 20 anos a minha trincheira de luta a favor do Rio Grande do Norte e do Brasil. Porém, repito o que disse no meu discurso de despedida ao lembrar o cancioneiro popular nordestino: “Essa palavra saudade eu ouço desde criança; saudade de amor passado não é saudade é lembrança; saudade só é saudade quando se perde a esperança”.

    O meu sentimento, portanto, é de lembrança do Congresso Nacional brasileiro. Tudo porque não perdi, ainda, a esperança...

    Revista Brasília em Dia
    3 de fevereiro de 2007 - 528


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