Brasília em Dia
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02 de Março de 2007
Lula, Bush e o futuro
Quinta e sexta próximas o Presidente George W. Bush (EEUU) visitará o Brasil e estará tête à tête com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil). Como observou o nosso Embaixador em Washington DC, Antonio de Aguiar Patriota, os dois países vivem um momento de amadurecimento da relação bilateral e têm visões comuns da agenda internacional.
Com certeza, será a oportunidade para o Presidente Lula confirmar, com ações concretas, aquilo que afirmou no “National Press Club, Washington”, em 10/12/2002: “Venho aos Estados Unidos para trazer uma mensagem de amizade... Brasil e EEUU têm muito em comum... Somos democracias pujantes, com economias complexas e industrializadas...”. Afinal, Brasil e Estados Unidos são dois continentes próximos, que alcançaram à independência política com uma diferença de apenas 46 anos (1776 e 1822).
BRASIL & USA: CAMINHO NATURAL
A aproximação do Brasil com os EEUU é o caminho político natural, sem prejuízo do pragmatismo do Itamaraty. Exportamos para aquele país em 2006, U$ 24 bilhões de dólares. Ninguém pode desprezar uma parceria desse nível. Infelizmente, como deputado federal durante seis legislaturas testemunhei que as relações comerciais se tornaram difíceis, desde quando se iniciou a tumultuada e inacabada discussão sobre a proposta da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). Ficou demonstrado o paradoxo do mundo atual, que torna a esquerda conservadora e a direita defensora de mudanças. Um dos pontos negativos desse debate tem sido à excessiva simplificação dos problemas.
Observou-se mimetismo cultural e social acompanhado de uma rejeição aos princípios e práticas provados como eficazes. Talvez, esta seja uma das explicações da nossa pobreza, a eterna busca do resultado, sem passar pelo processo. Daí vem às sucessivas tentativas - todas frustradas - de encontrar “atalhos”, caminhos alternativos, soluções originalíssimas para resolver, sempre de forma rápida e certeira, os problemas nacionais sem ter que enfrentá-los, ou conseguir riqueza sem esforço e sem mudar nada. Esta utopia tem custado caro.
EX-MINISTRO ROBERTO RODRIGUES
A agenda do Presidente Bush no Brasil será basicamente tentar construir estratégias de médio e longo prazo para aumentar, com a nossa participação, a produção e o consumo de etanol, além de incrementar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico do setor. Nesse contexto, o Brasil terá a grande chance de firmar parceria com os Estados Unidos, a partir das diretrizes em discussão na Comissão Interamericana do Etanol, que entre os seus três integrantes está o nosso ex-Ministro da Agricultura, Dr. Roberto Rodrigues, um dos mais honrados e competentes técnicos em agricultura brasileira e mundial.
Dispomos de tradição e tecnologia na busca de combustível alternativo, que substitua a gasolina e a nossa dependência em relação aos derivados de petróleo. Nasceu em 1975 o “Pro álcool”. Atingiu o ápice nos anos 80, quando 96% dos automóveis vendidos eram movidos a álcool. Com a queda dos preços do petróleo na década de 90, o “Próalcool” naufragou.
No século atual, conhecido como a de busca da “segurança energética”, Brasil e EUA, juntos, produzem 72% do etanol mundial. Temos a liderança tecnológica, a partir da cana de açúcar. Isto não nos coloca em “berço esplendido”. Recomendam-se projetos ousados de pesquisas sobre outras formas de produção do etanol, a base de celulose, raspas de madeira, palha, restos agrícolas (até esterco de vaca) e milho (esta última a matéria prima usada pelos norte-americanos). Outra alternativa será o estímulo à indústria alcoolquímica, sobretudo com o exemplo da Índia, que já investe maciçamente nesse campo. A verdade é que Brasil e Estados Unidos poderão solucionar dois desafios permanentes dos governos latino-americanos: a insegurança energética e a pobreza, através da produção de biocombustíveis, que gera empregos, protege o meio ambiente e preserva grande margem de vantagem competitiva.
DA RETÓRICA PARA A PRÁTICA
Para isto, impõe-se objetividade e vontade política nas relações de parceria entre os dois países – sobretudo no próximo 31 de março, no encontro dos Presidentes Bush e Lula em “Camp David”, Estado de Maryland. Trata-se de uma questão de bom senso, fugindo, portanto, das soluções milagrosas, das panacéias universais, sem paixões e preconceitos. Acordo comercial com os Estados Unidos, assim como outros ícones do mundo globalizado de hoje -o FMI, o BID, o Banco Mundial e a própria globalização- não é bom ou mal em si; tudo depende de como nos posicionamos em relação a ele. Ou seja, a solução está em nós, em nossas próprias decisões e não lá fora. Ninguém vai resolver os nossos problemas, a não ser nós mesmos. O que de fato devemos considerar, sem paixões, é quais serão os ganhos obtidos e os sacrifícios consentidos. Sim, porque é simplista pensar que só teremos vantagens ou desvantagens. Trata-se de fazer um balanço e ver se estaremos melhor dentro ou fora de uma parceria estratégia com os EEUU. Claro que a aproximação será o melhor caminho.
Vamos aguardar o futuro com os resultados do diálogo Lula e Bush. Queira Deus que possamos iniciar, em um curto prazo, o indispensável passo da retórica para a prática, do discurso para os fatos concretos, que é o que esperam àqueles que depositaram sobre os ombros dos líderes políticos a delicada responsabilidade de representá-los e de encontrar respostas para os angustiantes problemas, que afligem o dia a dia de todos nós.Revista Brasília em Dia
3 de Março de 2007 - 531
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