Marca Maxmeio

Brasília em Dia

  • 09 de Julho de 2011

    Os dois estadistas

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    Faleceu o ex-presidente Itamar Franco. Deixa vazio de dignidade e ética na vida pública brasileira. Assumiu a Presidência em momento difícil. Tornou-se o Presidente brasileiro com menos crises e denuncias de corrupção nos últimos anos. Terminou o seu mandato, com a inflação contida e a economia gerando empregos.

    À época deputado federal fui o presidente da Comissão Mista do Congresso Nacional, que aprovou a Medida Provisória do Plano Real, encaminhada ao legislativo por Itamar Franco. O relator era o então senador José Fogaça (PMDN-RS). A opinião pública nacional esteve mobilizada nos dias em que a proposta era submetida ao Senado e a Câmara. Conheço detalhes e até bastidores da implantação do Real no país. O Presidente Itamar Franco avalizou a idéia e o ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardozo a executou.

    FHC lamentou a morte do ex-presidente Itamar Franco (PPS) e fez-lhe justiça dizendo: “sem o apoio de Itamar, não teria feito o Plano Real”

    O Presidente Itamar Franco deu a grande cartada do seu governo, quando transferiu Fernando Henrique das Relações Exteriores para a Fazenda e entregou-lhe a responsabilidade de executar um novo plano para acabar com a hiperinflação no país.

    Com a “carta branca” de Itamar, FHC conseguiu convencer o grupo de economistas integrado por André Lara Resende, Pérsio Arida, Edmar Bacha, Pedro Malan, Gustavo Franco. Todos acreditaram que haveriam condições de fazer um ajuste fiscal prévio e depois partir para a estabilização. A proposta era usar a brilhante idéia de Lara e Arida de criar uma moeda indexada à inflação, a URV, que em seguida seria convertida na nova moeda, o real.

    O único desencontro lembrado foi em relação ao ministro Rubens Ricúpero, que assumiu o Ministério da Fazenda (de 30/03/1994 a 06/09), após a desincompatibilização de FHC para disputar a Presidência da República. Coube ao embaixador Ricúpero encaminhar ao Presidente Itamar a exposição de motivos, que criou o Plano Real. Todavia, a idéia já estava finalizada, desde o período de FHC na Fazenda. Atribuiu-se ao presidente Itamar Franco a frase de que “o ministro Ricúpero foi o sacerdote do Plano Real. Mais do que o FHC”.

    Essa possível declaração (não confirmada) e a saída de Ricúpero da Fazenda, por conta de um incidente nos estúdios da TV Globo, geraram apreensões à campanha em curso de FHC à Presidência, que terminou vitoriosa.

    Uma das provas de verdadeira ética política de Itamar foi afastar Henrique Hargreaves da chefia do Gabinete Civil, em razão de uma denúncia de envolvimento com atos ilícitos. Não teve dúvidas em chamá-lo de volta, quando provou que era inocente. Gesto duplamente correto: estancou a crise política iminente e a coragem moral de fazer justiça a um homem digno e correto, que é Henrique Hargreaves. No Brasil de hoje, certas acusações são levianas e muitas vezes significam previamente uma sentença condenatória, sem defesa e sem recurso. Confunde-se (e a própria imprensa precisa fazer um “mea culpa”) o mero indicio (às vezes sob a forma de “flagrante preparado”) com a culpa definitiva. Nesse aspecto, o país terá que evoluir com determinação e coragem. Os extremos sempre se opõem. A nefasta impunidade se opõe às condenações açodadas, sem defesa e provas suficientes.

    Especula-se sobre possíveis desavenças entre Itamar Franco e Fernando Henrique Cardozo. Eventualmente, podem ter ocorridos interesses políticos em conflito. Porém, ambos se respeitaram reciprocamente. Itamar chegou à presidência por circunstâncias aleatórias. FHC igualmente ascendeu ao poder federal como conseqüência da ascensão de Itamar. Isso não quer dizer que haja demérito de um e de outro. Ao contrário, essa coincidência histórica permitiu ao Brasil a salvação da sua economia – o Plano Real – conduzida no governo Itamar Franco e desenvolvido pela equipe do seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardozo.

    No final do seu mandato, o presidente Itamar Franco foi extremamente popular e elegeu o sucessor, Fernando Henrique Cardozo.

    No momento em que é reverenciada a memória de Itamar Franco e homenageados os oitenta anos de FHC, por dever de justiça, a Nação reconhece que ambos foram os grandes estadistas brasileiros, no final do século XX.

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