Brasília em Dia
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25 de Junho de 2011
Crise e falta de emprego
Já ouvi algumas opiniões estapafúrdias de que a revolução árabe seria exemplo para purificar a democracia brasileira. Um grave equívoco. São realidades totalmente diferentes do ponto de vista político, econômico e social. Nos países árabes em erupção, a palavra democracia era proibida. No Brasil, a democracia tem falhas que precisam ser corrigidas, porém funciona e até dá exemplo para o mundo, como é o caso da votação eletrônica.
Desde o limiar de 2010, os governos europeus caem em cascata. As quedas são através das urnas livres. Notem-se os exemplos dos primeiros ministros Brian Cowen, da Irlanda e José Sócrates de Portugal. O sinal de perigo está aceso na Alemanha (Angela Merkel), França (Nicolas Sarkozy), Itália (Silvio Berlusconi) e Espanha (Luis Zapatero).
O clima é tenso nas democracias do velho mundo. Os sociólogos apontam como causa principal a total e absoluta descrença do eleitor na classe política. Qualquer semelhança com o Brasil seria mera coincidência? O filosofo espanhol Javier Sádaba declarou ao Globo: “o que está acontecendo é o que eu chamaria de “fetichismo” da política: não são os políticos que estão a serviço do povo e sim o povo é que está a serviço dos políticos. Isso gera uma reação crítica que se manifesta com o eleitor castigando os governos da vez e com manifestações como a dos indignados na “Porta do Sol” (Espanha). Os manifestantes atacavam tanto a direita, quanto a esquerda, em cartazes com dizeres “PSOE e PP (partidos espanhóis) são a mesma porcaria. Não nos representam”.
Transpondo a análise do professor Sádaba para o Brasil, o fenômeno é idêntico. O povo se acha sem representação, em que pese o voto livre. A nossa democracia assemelha-se a uma casa de luxo, sem dispor de móveis e utensílios para ser usufruída. Tudo começa pela artificialidade dos partidos. A permissão, por exemplo, da coligação de siglas ideologicamente opostas, torna o processo eleitoral – por mais aberto que seja – um “faz de conta”. Outro aspecto é a exigência da fidelidade partidária, não pela via de lei regulamentadora da Constituição, mas através de mera interpretação da justiça eleitoral, que, aliás, nos últimos pleitos vem fazendo o papel judicante e legislativo, diante da omissão do Congresso Nacional. Como exigir fidelidade a adúlteros? Os partidos – salvo honrosas exceções - praticam o adultério político à luz do meio dia. Fazem todo tipo de “negócio” (este o termo próprio). O Fundo Partidário é um instrumento das cúpulas dominantes, sem a mínima democratização interna, que permita pelo menos “voz” aos militantes. Quando há conflitos de interesses, a solução é criar mais partidos, tão inautênticos como os atuais, pois já nascem com o timbre da incoerência ideológica. Veja-se o exemplo do PSD em formação, que abertamente busca viabilizar-se com a oferta de oportunidade rara para abrigar tendências ideológicas conflitantes.
O que vem acontecendo na Europa é o resultado de uma conjuntura sócio-política similar à nossa. Portugal cambaleia e pior do que os lusitanos no continente só existe a Grécia, que caminha para situação insustentável, com o povo já nas ruas em completa insurreição. Espanha e Itália estão à porta da UTI. Se repetirem o gravíssimo quadro português, o mundo entrará inevitavelmente em crise econômico financeira de maiores proporções do que a dos Estados Unidos em 2008. Some-se a tais riscos, a consumação de danos inflacionários na China (a inflação apurada em maio foi a maior dos últimos 32 meses) e o desemprego em massa nos Estados Unidos.
Observa-se tanto na Europa, quanto no Brasil, à presença acentuada da desilusão com a esquerda, a direita e o centro. A explicação está no temor de empobrecimento da classe média. As massas de baixa renda, pouco ou muito, beneficiam-se de programas sociais. A classe média termina pagando a conta sozinha e lidera os protestos. Abre-se até a janela para ações segregacionistas como ocorreu na Finlândia, com o Partido “verdadeiros finlandeses”, que pregava a proibição da imigração, a anti-União Européia e a recusa de ajudas a “países” tidos como gastadores (Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha). O partido teve cerca de 20% de aprovação popular.
Não se sabem quais os caminhos futuros das democracias ocidentais. Sem prejuízo da preservação da liberdade, a perspectiva é que sejam reavaliadas. Tal procedimento terá como objetivo fundamental garantir ao cidadão o direito mínimo de acesso ao trabalho, que lhe permita viver com dignidade. Em outras palavras, o nome correto da crise nas democracias ocidentais é a falta de emprego para os desempregados.
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