Brasília em Dia
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26 de Março de 2011
Obama desempata
O Brasil assiste, principalmente em época eleitoral, ao “disse me disse” sobre os méritos econômicos e sociais dos governos FHC e Lula. Uns dizem que os avanços são devidos exclusivamente a Fernando Henrique. O próprio criador do Plano Real defendeu-se, ao escrever em artigo: “o outro alvo da distorção petista se refere à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total”. De outro lado, a então ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff, declarou certa vez à imprensa: “tem uma diferença entre o passado e agora: o Brasil agora cresce a favor do povo, e não contra o povo, como já aconteceu no passado. O presidente Lula construiu um caminho novo, mudou a história”.
O presidente Barack Obama, em sua bem-sucedida visita ao Brasil, desempatou a polêmica, ao reconhecer publicamente que o Brasil inegavelmente alcançou um progresso surpreendente, porque já é a sétima economia do mundo, e que essa dianteira como potência econômica e financeira não pode ser considerada questão de sorte. Tudo é devido aos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Nelson Rodrigues dizia que “só os profetas enxergam o óbvio”. Obama terá sido profeta ou apenas um estadista que não quis bancar a avestruz, escondendo a verdade e deixando a realidade exposta? Na plateia, a presidente e o ex-presidente FHC ouviram o chefe do governo norte-americano e deram demonstrações de civilidade nas deferências recíprocas.
Comentam-se, com prós e contras, as posições do governo Lula em relação aos Estados Unidos. O relacionamento entre Obama e Lula teve o seu auge após uma reunião do G-20. Na ocasião, o mandatário americano dirigiu-se ao brasileiro e disse-lhe: “esse é o cara! Amo esse cara! O político mais popular da Terra!”. O afago foi tamanho que, em 2009, na visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a Casa Branca deixou claro ao governo brasileiro que valorizava a iniciativa de fomentar e intermediar o diálogo entre os iranianos e os países ocidentais sobre a questão nuclear. Chegou a pedir que o governante brasileiro abordasse com Ahmadinejad a defesa dos direitos humanos e a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica.
Tudo se complicou após a vitória brasileira contra os EUA na disputa comercial sobre o algodão na Organização Mundial do Comércio. O Brasil foi autorizado a impor retaliações comerciais de U$ 4 bilhões de dólares contra produtos norte-americanos. Agora mesmo, na véspera da visita de Obama ao Brasil, um deputado do seu partido propôs a exclusão do orçamento federal americano da obrigação de pagamento de US$ 147,3 milhões por ano a produtores brasileiros, em compensação pela manutenção de subsídios ilegais dados por Washington a seus cotonicultores.
Nestas circunstâncias, justifica-se a ausência do ex-presidente Lula na recepção ao presidente americano. Ele evitou as naturais especulações entre as suas posições no passado e o futuro de parcerias que se abrem entre os dois países. Talvez não tivesse ocorrido a prioridade política dada hoje por Obama ao Brasil se a posição de Lula à época fosse diferente. Discordo da política externa do seu governo. Porém, pondero esta circunstância no relacionamento com os EUA. Cada fato tem que ser analisado no seu contexto específico.
Trocando-se em miúdos, obteve amplo sucesso a visita do presidente Obama. O Brasil teve postura de equilíbrio e sensatez. Abriu o diálogo com um país de quem não pode se distanciar. O que irá acontecer não se sabe. Há que se reconhecer o rumo correto da nossa política externa. Na briga comercial com a China, mais uma vez foi demonstrada racionalidade na recusa em abrir atritos com o gigante asiático. Manteve-se nas evasivas de sempre o apoio dos EUA ao Brasil na campanha pela cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Com certeza, será moeda de troca na hora certa.
Lamentável não ter evoluído satisfatoriamente a inclusão do Brasil no “Visa Waiver Program”, que dispensa visto de brasileiros para entrada nos EUA. Atualmente, o programa beneficia cidadãos de 36 países, que podem permanecer por até 90 dias nos EUA, a turismo ou a negócios. Depois de tantos elogios à sétima economia do mundo, como o presidente Obama poderá explicar que, das 10 maiores economias do mundo (EUA, China, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Brasil, Espanha e Canadá), apenas os brasileiros sejam obrigados a apresentar visto de entrada em seu país?
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