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Brasília em Dia

  • 05 de Março de 2011

    Samba, suor e lágrimas

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    O carnaval chega neste ano ao Rio de Janeiro com samba, suor e lágrimas. O rugir dos tambores e o tradicional samba no pé, chocalhos e gonguê agitarão a Marquês de Sapucaí. O “sambódromo”, inaugurado em 1984 com o nome oficial de “Passarela do Samba”, Acomprovou que o “samba é sustentável” e tornou a cidade cada vez mais um polo atrativo aos investimentos destinados ao turismo.

    Os sambistas e dirigentes das escolas de samba sempre reivindicaram a construção, ao lado, da “Cidade do Samba” com o slogan: “Aqui, o carnaval é o ano inteiro”. Há poucos dias, labaredas de fogo praticamente destruíram a “cidade”. O suor e as lágrimas dos cariocas se misturaram na reconstrução do seu carnaval. O suor para colocar as escolas na passarela e as lágrimas derramadas pelas catástrofes naturais que caíram sobre Petrópolis, Nova Friburgo, Teresópolis e Angra dos Reis.

    Uma das marcas desta festa popular é o samba, nascido no Rio de Janeiro, no final do século XIX, dançado pelos negros imigrantes baianos. O ritmo alastrou-se por todo o país, com batuques contagiantes e envolventes. O cartão postal do Rio de Janeiro é feito de coragem, dedicação e obstinação. Contribui decisivamente para o turismo nacional e divulga o país. Não se diga que é fonte de vícios e corrupção. Os desvios de conduta existem até nas festas religiosas. Do final dos anos 80 para cá, as escolas de samba se profissionalizaram e movimentam quantia superior a US$ 100 milhões. Geram cerca de 50 mil empregos, além da criação de uma rede de micro e pequenas empresas, em apoio ao carnaval. As comunidades das escolas se beneficiam desse crescimento, com rendimentos e a organização dentro de suas quadras, possibilitando serviços de assistência, cursos profissionalizantes, prática de esportes e muitas outras atividades sociais que ocorrem em várias agremiações.

    Trata-se, portanto, de uma opção de empregos e geração de renda. Milhares de pessoas humildes dependem do carnaval, distribuídas nas cadeias hoteleiras, vendedores ambulantes, artistas, cantores e compositores. Fala-se na “economia do carnaval”, assim entendida como a produção artística dos desfiles e suas vinculações com a indústria têxtil, de madeira, couro, plástico, com a indústria fonográfica e de rádio difusão. Outro aspecto é o incentivo à criatividade pelo estímulo às práticas do trabalho manual e de artesanato para confecção das alegorias, das fantasias e dos adereços. A produção artística prioriza formas, cores e linhas não imaginadas, antes de materializadas. Cada carnaval é um carnaval diferente, renovando-se os enredos.

    O cineasta italiano Franco Zeffirelli, após assistir a um desfile na Sapucaí, exclamou para o mundo: “O Brasil sabe inventar a alegria”. O carnaval é uma festa de produção em massa. Grupos trabalham o ano inteiro para a confecção de adornos, carros alegóricos, fantasias e a inspiração poética dos sambas-enredos. “País do futebol” e “país do carnaval” não se opõem. Antes, se completam. São manifestações espontâneas, mesclas de cor e raça. O povo se entrega à alegria contagiante. Esquece a tristeza no passar da “escola” ou no grito de gol. Não há diferença de classes. Todos torcem pelas suas preferências e convivem com as rotinas da violência, das desigualdades, da pobreza e da corrupção.

    Com formas e percepções diferentes, o carnaval vem de longe. Não se sabe se surgiu nos cultos agrários que suplicavam boas colheitas no período neolítico no Egito antigo ou no continente europeu na Idade Média. Os maiores indícios são de que a festa tenha nascido na “saturnália” romana, em que os nobres se misturavam aos escravos e, juntos, dançavam nas ruas com música, comida e bebida. O rei da saturnália era um escravo, a quem se garantia o direito de dar ordens sobre tudo o que desejasse. A Igreja ameaçou acabar com as saturnálias. Teve o cuidado de não enfrentar diretamente os seus fiéis. No ano 325 d.C., decidiu que os 40 dias antes da Páscoa seriam guardados para orações e jejuns, o que ficou conhecido como quaresma. Em 590 d.C., a Igreja reconheceu a festa, programando-a em seu calendário. O domingo de carnaval passou a ser o 7º domingo que antecede ao domingo de Páscoa. A quarta-feira de cinzas dá início à quaresma, período de reflexão e abstinência.

    Ano de 2011, carnaval de samba, suor e lágrimas no Rio de Janeiro. Ao contrário das chamas que destruíram a Cidade do Samba, um autor anônimo assemelhou o carnaval brasileiro às chamas da alegria, ao escrever: “Hoje, coloco a máscara de fogo. Não há sopro que me apague. Hoje, vós sois a floresta, e hoje vou correr entre vós. Hoje, coloco a máscara de fogo. Não há quem me pare. Hoje, corro até a árvore da vida e vou abraçá-la como nunca dantes”.

    Coluna semanal
    Revista Brasilia em Dia

    www.brasiliaemdia.com.br


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