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Brasília em Dia

  • 26 de Fevereiro de 2011

    O que espera Obama?

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    O principal assessor da Casa Branca para Assuntos da América Latina, Dan Restrepo, acredita que a presidente Dilma Rousseff deseja reduzir as hostilidades a Washington. Esta é a principal razão da próxima visita do presidente Obama ao Brasil, nos dias 19 e 20 de março, quando assinará tratado de cooperação econômica e comercial (“Teca”, na sigla em inglês).

    A presidente Dilma Rousseff caminha para profundas mudanças em nossa política externa. Afasta-se das íntimas relações com o regime iraniano e condena com veemência os abusos contra os direitos humanos no Irã. No Haiti, brasileiros e norte-americanos deram as mãos para superar a crise política instaurada. O novo chanceler, Antônio Patriota, de inegável competência e experiência, com discrição e firmeza, reafirma a prioridade das relações com os EUA e a Europa.

    Obama - o homem que promete devolver ao seu povo o sonho do “american way of living” - aposta na liderança do Brasil na América Latina. Tradicionalmente, a política externa norte-americana em relação à América Latina e ao Caribe apresentou flutuações periódicas. Durante a guerra fria, as avaliações eram no sentido de que a intranquilidade na região tinha origem na desigualdade social e na interferência soviética. Surgiram os programas de ajuda, tipo Aliança para o Progresso de Kennedy e a iniciativa para a Cuenca do Caribe, de Reagan. O presidente Clinton liderou ações de aproximação com a América Latina, que acabara de se livrar de governos autoritários e buscava caminhos democráticos, com a formação de blocos econômicos regionais. Clinton foi contido pelo Congresso americano, que não lhe concedeu poderes para avanços, ao rejeitar o chamado “fast track”.

    Hoje, a Casa Branca vê o Brasil como país influente (com população superior a 190 milhões de habitantes) e como a oitava economia do mundo. A partir do Plano Real, implantou-se política econômica consistente no Brasil, seguida pelo ex-presidente Lula, o que permitiu abertura à concorrência internacional, modernização do “agrobusiness”, crescimento industrial, ampliação da competitividade global das finanças, engenharia e outros serviços.

    Brasil e EUA enfrentam dificuldades comuns. Tudo por conta da “guerra cambial” capitaneada pela China, que detém reservas próximas de US$ 1 trilhão. Os chineses mantêm o yuan valorizado e derrubam os concorrentes mundiais. Não há sinais de que admitam perder esse poder. Por outro lado, o principal desafio interno do presidente Obama será assegurar a estabilidade do dólar, abrir a porta ao aumento das exportações e reduzir a dependência de Pequim. A Câmara dos Deputados norte-americana já discute legislação que permita que as indústrias nativas prejudicadas pelas importações chinesas exijam a taxação desses bens. O governo baixa os juros e protege a indústria local, com incentivos à exportação. O mundo pode estar diante de uma guerra protecionista semelhante àquela da grande depressão econômica da década de 1930.

    Neste contexto, caberá à presidente Dilma propor a Obama alternativas pragmáticas, sem ingenuidade, que acarretem o crescimento econômico mundial equilibrado, mediante reforma nas instituições financeiras, que devem ser submetidas ao G-20, grupo que reúne as 20 maiores economias mundiais. Atualmente, as relações bilaterais favorecem totalmente os EUA. O Brasil é o país com o qual os americanos têm o seu maior superávit. Em 2010, o “furo” alcançou US$ 7,7 bilhões. O mais preocupante é a queda de 15% das nossas exportações para os EUA e o pesado fluxo de investimentos estrangeiros, que força a valorização do real frente ao dólar. O mais grave é o país não dispensar este fluxo em razão do baixo índice de poupança. Se a nossa dívida interna fosse contabilizada com a mesma metodologia do período FHC, em agosto de 2010 já teria ultrapassado a casa de R$ 2,3 trilhões.

    No frigir dos ovos, o mundo gira em torno da China e dos EUA. Afastar-se de um significa hostilizar o outro. Por tal razão, o Brasil colocará o tapete vermelho para Obama, da mesma forma que já colocou para Hu Jintao. É possível que o conflito entre EUA e China seja apenas para “inglês ver” e que os dois se entendam na preservação dos interesses em desvalorizar as suas moedas para facilitar exportações. Caso isto seja verdadeiro, o aforismo do embaixador Juracy Magalhães se inverte, e o que for bom para Dilma Rousseff não será bom para Barack Obama.

    Coluna semanal
    Revista Brasilia em Dia

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