Marca Maxmeio

Brasília em Dia

  • 19 de Fevereiro de 2011

    Uma pergunta no ar!

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    Caiu o regime do ditador Hosni Mubarak, no Egito. Assumiu o governo uma junta militar, que anuncia duas alternativas: permanecer seis meses no poder ou até que se realizem eleições. Com a Constituição suspensa, o país é governado por decreto. O que mudou? Será a aurora da democracia? Ou simplesmente se trocou seis por meia dúzia?

    Cabem algumas análises, sem perder a crença de que algo de novo possa ocorrer no mundo árabe, a partir do Egito. O historiador Elie Kedourie defendeu a tese de que “os árabes e muçulmanos, em geral, nada têm em suas próprias tradições políticas que seja compatível com as noções ocidentais de democracia ou, mais precisamente, de governo representativo constitucional”. Dos 22 países que integram a Liga Árabe, só no Líbano, no Kuwait e no Iraque fala-se em regime aberto. A democracia no mundo, segundo a organização americana “Freedom House”, se restringe a 45% dos países, com população próxima de três bilhões de pessoas.

    A propósito, estive recentemente em Muscat, capital do sultanato de Oman, governado por Qaboos Bin Said, pertencente à dinastia Al Said, que está no poder há mais de 250 anos. A renda nacional provém do petróleo e do turismo. Indaguei a um cidadão local se ele desejaria eleger o seu governante pelo voto livre numa democracia ampla. Respondeu que vivia bem: não pagava impostos, o governo lhe ajudava e ele não via necessidade de mudanças. Em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, percebi o mesmo sentimento em relação ao governo de sua alteza, o xeque Khalifa bin Zayed Al-Nahyan, sucessor da dinastia Al Maktoum, dominante há 175 anos. Nota-se que em muitos países árabes o conceito de liberdade é outro, se comparado ao do Ocidente. Por não terem obrigações financeiras para com o Estado, deixam de desenvolver consciência cívica e o sentimento de propriedade nos seus sistemas políticos. Na prática, o Estado adquire a lealdade dos cidadãos, dando-lhes em troca o sustento econômico.

    Embora apresente o índice de 6% de crescimento econômico, no Egito a desigualdade social é marcante, com desemprego, fome e a falta de liberdades fundamentais. Calcula-se que 60% da população têm menos de 30 anos. O desemprego atinge quase 90% dessa faixa. A insatisfação aumenta pela exposição diária aos padrões de vida ocidentais, mediante informações da internet e via satélite.

    Na verdade, o Egito foi e continua sendo governado pelos militares. Todos os quatro presidentes eram militares. O chefe da atual junta militar, Mohamed Hussein Tantawi, de 79 anos, é um militar antigo da infantaria, amigo íntimo de Mubarak e arquiinimigo da Irmandade Muçulmana. Participou de todas as guerras do Egito com Israel e da invasão do Iraque, sendo considerado pró-ocidental e defensor da paz com Israel.

    Além do poder político, os militares têm grande poder econômico (cerca de 30% do PIB), controlando negócios importantes em setores como o imobiliário, de abastecimento d’água, azeite, cimento, construção de hotéis, refinarias. O Exército não paga impostos e não lida com os trâmites burocráticos que estrangulam o setor privado. A concepção dominante é a de que tais benefícios são concedidos em compensação pela garantia de segurança.

    Os EUA e a União Europeia consideram o Egito um líder de influência moderadora no mundo árabe, africano, islâmico e no terceiro mundo. O país possui 18,2 bilhões de barris em reservas de petróleo, o que é pouco se comparado com a Líbia, que produz 56 bilhões de barris. A sua importância decorre da condição estratégica como fornecedor de petróleo para Israel, país fundamental ao controle norte-americano no Oriente Médio. O transporte de petróleo depende da estabilidade política do Egito, que controla o Canal de Suez, cujo fechamento aumentaria em 10 mil quilômetros a viagem dos petroleiros. Caso isto venha a ocorrer, pode-se imaginar o aumento do preço dos combustíveis na Europa, atualmente mergulhada em profunda crise econômica.

    Será difícil opinar sobre o que acontecerá no Egito. A única constatação é a de que o Exército continuará como a instituição egípcia mais poderosa.

    Será que este quadro desagrada o presidente Obama, diante do risco de que uma democratização para valer dos países árabes aumente o poder dos partidos islâmicos? Uma pergunta que fica no ar!

    Coluna semanal
    Revista Brasilia em Dia

    www.brasiliaemdia.com.br


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