Opinião
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13 de Fevereiro de 2011
Depois da bonança, a tempestade
A advertência dada pela presidente Dilma Rousseff, diante dos preocupantes sinais de inflação no país, inverte o ditado popular, que passa a ser “depois da bonança, vem a tempestade”.
O primeiro trimestre de 2011 superou as expectativas econômicas. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 0.83%, quando a meta era de 0.78%. A maior alta desde abril de 2005. O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) apresentou acréscimo de 10,93% e a inflação quase 6%, ambos nos últimos 12 meses. A previsão inflacionária até dezembro é de 4.5%, com tolerância de dois pontos para baixo ou para cima.
A realidade impôs ao governo reduzir o crescimento econômico de 5.5% para 4.6% (o índice do mercado) e anunciou bloqueio recorde de gastos, no valor de R$ 50 bilhões, mesmo sem ter concluído estudos sobre que setores e programas serão atingidos. O objetivo será desaquecer a economia, restringir o consumo e o investimento público. Como conseqüência, aponta-se para a alta da taxa básica de juros total neste ano, de até dois pontos percentuais.
Tudo antecipa o início da “ressaca”, decorrente dos excessos de gastos públicos, que chegaram a quase 12% em 2010, o maior aumento da última década. O governo “despoupou”. Dos cerca de 14% do PIB de poupança global, a média do governo foi de apenas 1%. O resto vem das pessoas físicas e empresas. Como a poupança interna não é suficiente, o país recorre à poupança de outros países para financiar o seu crescimento. Em decorrência, recebe grande fluxo de investimentos estrangeiros, que aparenta “ilusória” valorização do real frente ao dólar, prejudicando as exportações. Justamente esse fluxo externo é quem financia a dívida interna. O governo coloca no mercado títulos a juros de 10.75% ao ano e empresta a 5% para resgate em longo prazo. A metodologia usada retira estes valores financiados do total da dívida interna, por considerar certo o pagamento futuro. Caso voltassem os critérios anteriores de medição, já teríamos chegado a déficit próximo de R$ 2.5 trilhões de reais. Quadro assustador!
Agora, o país começa a pagar a conta das falsas conquistas, anunciadas com alarde no passado. Por exemplo: foi absoluta ilusão o anuncio de que o Brasil teria liquidado os seus empréstimos no FMI, em 2005. Naquele ano, a dívida externa pública excedia os 200 bilhões de dólares e apenas 15.5 bilhões foram pagos. Resgate altamente desfavorável ao país. O FMI cobrava juros de 4%/ano. Para “pagar”, o Brasil emitiu títulos da dívida externa a taxas de juros absurdas (7.5 a 12% ao ano) e títulos da dívida interna com taxas superiores a 19% ao ano. Em resumo, o Brasil renunciou ao pagamento de juros de 4% ao ano ao FMI, para substituir por uma dívida (externa e interna), com taxas de 7.5 a 19% ao ano. Trocou uma dívida barata, por uma altamente cara. O mesmo acontece com as propaladas reservas internacionais de U$ 300 bilhões de dólares. O custo deste “luxo” é cerca de U$ 30 bilhões ao ano, em razão do governo vender títulos para comprar dólares e pagar juros exorbitantes no mercado.
Na verdade, o país enfrenta turbulências, sendo necessário “apertar o cinto”. A diferença para o filme hollywoodiano é que o piloto não sumiu e demonstra firmeza. Apesar de tudo, não sou pessimista. Houve erros, mas existiram acertos. Com bom senso superaremos a crise e poderemos desapertar o cinto, em breve. Assim seja!
- Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
de direito constitucional e ex-deputado federal.
Publicado aos domingos nos jornais
DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
- Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
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