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Brasília em Dia

  • 22 de Janeiro de 2011

    Enchentes e a ira de Tupã

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    Tupã, o deus supremo da mitologia guarani (tão rica quanto a mitologia grega), criou a terra, os oceanos, a flora, os animais e as estrelas. Os nossos indígenas acreditavam que este deus – também chamado de trovão –, revoltado com a maldade e a inveja do inimigo Anhangá, arrependeu-se de ter criado o homem e ordenou a destruição da Terra. Ao seu lado, o deus Caramuru propôs lançar sobre o universo faíscas de fogo e raios. Tupã discordou e decidiu que a Terra seria engolida pelas avalanches de água. Para isto, ordenou que as chuvas caíssem ininterruptamente durante quarenta dias e noites, levando as tabas, as árvores, os animais, os templos...

    Nos últimos tempos, o mundo parece ainda assistir aos efeitos da ira de Tupã. Não foram apenas São Paulo e a região serrana do Rio de Janeiro que se tornaram vítimas de catástrofes naturais, com mortes, avalanches de terra, rochas, destruição de casas e cidades. O caos instalado em Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis não é novidade. As enchentes de 1966 e 1988 mataram dezenas de moradores. Um ano atrás, Angra dos Reis e o Morro do Bumba, em Niterói, sofreram a mesma tragédia.

    Desde 1972, tem aumentado o ciclo dos desastres naturais no mundo. Neste ano, os Estados Unidos tiveram uma área igual à da Suíça inundada pelos rios Mississipi e Missouri. O dilúvio foi seguido de inundações na Índia, no Nepal e em Bangladesh, com cerca de sete milhões de desabrigados. Na mesma época, temporais e terremotos ocorreram na Rússia e na Coreia, na África e na Península Arábica. Incêndios florestais calcinaram áreas na Itália, na Espanha e na França. Tempestades açoitaram a costa do Atlântico.

    Em 1994, a região de Los Angeles foi devastada por terremoto. Milhares de desabrigados acamparam nas ruas. Ainda nos Estados Unidos, 160 furacões surpreenderam o país por um período de 72 horas, destruindo casas e cidades. Na última semana, a primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard, advertiu que os danos causados pelas atuais enchentes – consideradas as piores dos últimos 50 anos – irão custar centenas de milhões de dólares. Não menos devastadores foram os incêndios nas matas da Austrália, em 1993, principalmente quando as labaredas de fogo, com chamas de 70 metros de altura, se aproximaram da cidade de Sidney. A Austrália é responsável por quase dois terços da exportação mundial de carvão coque. A redução das exportações já elevou em quase um terço o preço do carvão no mercado mundial. Apenas em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM), anunciaram um plano de R$ 800 milhões para o combate às enchentes na cidade.

    Diante de tantos alertas consumados em tragédia, chega a hora de ações concretas e objetivas no Brasil para se reduzir os efeitos danosos das catástrofes naturais. Entre elas aponta-se como essencial a análise prévia dos riscos, a partir da identificação geográfica das áreas ou do conjunto de áreas. A prevenção consistirá em obras de engenharia, planejamento urbano, plano diretor das cidades, política habitacional, sistema de alertas de riscos, com rigoroso planejamento para situações de emergência, mediante cursos específicos, palestras, livros, cartilhas, educação e capacitação.

    Outro aspecto igualmente importante refere-se às avaliações técnicas e científicas para constatar as causas e os efeitos das catástrofes ocorridas. O governo federal anuncia a “reestruturação” do Sistema de Defesa Civil Nacional, a fim de direcioná-lo para a melhoria da estrutura de alerta, além de ações coordenadas de prevenção, evitando tragédias causadas por desastres naturais. A maior dificuldade é a diversidade de climas no país. Na Região Norte e em parte da Região Centro-Oeste predominam o clima equatorial úmido e o equatorial subúmido. No Nordeste e no Sudeste, o clima tropical apresenta variações. O Sul é atingido pelo clima subtropical.

    O elevado saldo negativo dos recentes desastres naturais abriu os olhos das autoridades e da população. Algo de sério terá de ser feito com urgência, até para se evitar a ira de Tupã, o deus indígena!

    Coluna semanal
    Revista Brasilia em Dia

    www.brasiliaemdia.com.br


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